Na greve das polícias da Bahia e no leilão dos aeroportos, PT se iguala ao PSDB
| Coordenação Nacional da CST/PSOL
"Para nós, este é um governo Democrático e Popular. Não da forma idealizada como querem alguns, mas com as concessões necessárias para uma ampla aliança. O PDP deu nisto. Nesse sentido, nossas organizações foram vitoriosas quanto ao que se propuseram. E nós contribuímos com este processo, no entanto hoje percebemos que esta estratégia não leva ao Socialismo, ao contrário, transforma as organizações da classe em colaboradoras da expansão e acumulação do capital. O que se apresenta como uma vitória para nossas organizações, na perspectiva da luta de classe, é uma derrota."
Fragmento da carta de ruptura de militantes do MST, MTD, Consulta Popular e Via Campesina (2011).
Após a Reforma da Previdência em 2003 e o mensalão em 2005 nos acostumamos a não nos assustar com as bizarrices e contradições do modo petista de governar. A incorporação da lógica da governabilidade corrupta; o cumprimento exemplar dos planos de austeridade do FMI; a burocratização de antigos dirigentes da classe são algumas das marcas do governo federal desde a posse de Lula.
Porém, cerca de nove anos depois, o PT ainda consegue causar frisson na arte de rasgar sua própria história. Hoje, segunda-feira dia 06 de fevereiro, o PT apunhala com violência dois de seus princípios fundacionais: o apoio às greves de trabalhadores e o combate ao neoliberalismo – bandeiras que muitos ainda acham que o PT defende.
Desde as primeiras horas da manhã o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), juntamente com o Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso (PT), a mando de Dilma, cercam com a Força Nacional o prédio da Assembléia Legislativa da Bahia que está ocupado pelos policiais militares em greve. O governador, fundador da CUT, do PT e ex-dirigente sindical petroquímico, foi enfático: “não negocio com grevistas!”. É fácil imaginar que Jaques Wagner deva ter ouvido essa frase muitas vezes do patronato petroquímico nas heróicas greves do início da década de 80. Vale a pena também conferirmos as palavras de um ex-dirigente operário sobre a greve deste mesmo setor também na Bahia:
“A Polícia Militar pode fazer greve. Minha tese é de que todas as categorias de trabalhadores que são consideradas atividades essenciais só podem ser proibidas de fazer greve se tiverem também salário essencial. Se considero a atividade essencial, mas pago salário micho, esse cidadão tem direito a fazer greve. Na Suécia, até o Exército pode fazer greve fora da época de guerra.” (Folha-26/07/2001)
Incrivelmente as palavras são de Lula, que se empenhou para impedir a PEC-300. A diferença é que o ano era 2001 e quem governava a Bahia era César Borges do antigo PFL. Corretamente, Lula completou: “Acho que, no caso da Bahia, o próprio governo articulou os chamados arrastões para criar pânico na sociedade. Veja, o que o governo tentou vender? A impressão que passava era de que, se não houvesse policial na rua, todo o baiano era bandido”. E hoje, qual a posição de Lula, do PT e da CUT?
A tensão neste momento rodeia todo o Estado da Bahia e a violência nas ruas infelizmente atinge os mais pobres. A responsabilidade é do governo do Estado e do Governo Federal e não dos PM´s em greve como tentam passar a mídia e o governo.
Somente essa postura em relação à greve já seria suficiente para um juízo correto sobre os interesses que o PT representa desde que chegou ao poder. Porém, não para por aí.
Há outra grande incoerência que observamos perplexos. Leiamos com atenção as palavras a seguir, devidamente entre aspas:
“Não permitirei, se tiver forças para isto, que o patrimônio nacional, representado por suas riquezas naturais e suas empresas públicas, seja dilapidado e partido em pedaços. Tenham certeza de que nunca, jamais me verão tomando decisões ou assumindo posições que signifiquem a entrega das riquezas nacionais a quem quer que seja” (Folha de São Paulo 10/04/2010 palavras da então candidata Dilma). No entanto, o que vimos hoje foi o leilão de três grandes aeroportos do país (Cumbica, Viracopos e Brasília). Uma privatização clássica, sem maquiagens e mais delongas.
Estas são duas contradições muito agudas e que hoje muitos militantes amortecidos, petistas e do campo “democrático e popular” não percebem mais. Alegam na defensiva que “faz parte do jogo”, que “na disputa de hegemonia avançamos e retrocedemos posições”, e por aí vai. De nossa parte, louvamos a conclusão sobre estratégia a que chegaram os militantes da epígrafe deste texto, pois o debate de fundo é sobre
estratégia. Em todos os lugares, sem exceção alguma, os partidos e movimentos que apostaram em governos “democráticos e populares”, que não rompem com a burguesia e com sua ordem (pois esta é a sua lógica), acabaram sendo os maiores algozes da população pobre. Não existem “governos para todos”, ou se governa para os de cima, ou para os de baixo. Em níveis obviamente diferentes é o que a experiência da Venezuela tem demonstrado, com Chávez reprimindo e atacando cada vez mais e com menos choques políticos contra o imperialismo. É o que a experiência da Bolívia tem demonstrado também, pois o indígena Evo Morales preferiu ficar ao lado das transnacionais do que de seus irmãos trabalhadores dos povos originários, ao tentar construir uma rodovia por dentro das reservas. Neste caso, o movimento de massas o derrotou.
É assim, dessa forma, que se torna mais nítido que o centro da disputa política hoje para os socialistas é contra o governo federal, pois é quem ataca, é quem reprime, é quem privatiza e quem corta verbas das áreas sociais (em 2011, 51 bilhões; em 2012, 60 bilhões). Em síntese, é quem aplica os planos e projetos do imperialismo e da burguesia com maestria de dar inveja aos tucanos.
Para todas as tarefas burguesas, a de privatizar, a de reprimir, a de arrochar, PT e PSDB são parceiros orgânicos. Há apenas revezamento: na barbárie do Pinheirinho quem reprimiu foram Alckmin e Cury do PSDB, e ao governo federal, Dilma e Maria do Rosário (Direitos Humanos!), sobrou o papel de concordar com silêncio fúnebre. Nada mais cômodo e perverso. Dilma poderia evitar o banho de sangue em São José dos Campos, mas nada fez. Está claro que o planalto deixou correr a repressão para capitalizar o desgaste do PSDB nas eleições e, ao mesmo tempo, dar uma “lição” nos movimentos sociais que estão crescendo e se radicalizando desde a rebelião em Jirau e a greve dos Bombeiros no Rio de Janeiro, ano passado. Por isso, a nossa tarefa central e imediata, de todos os psolistas, é o total e irrestrito apoio às greves dos militares da Bahia. A repressão já começou efetivamente e há grevistas feridos.
No Rio de Janeiro, dia 09/02, ocorrerá uma grande manifestação com indicativo de greve que envolve a PM, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil. Há notícias de mobilizações em outros estados como Pernambuco e Rio Grande do Sul. As mobilizações vitoriosas do Ceará e do Maranhão agitaram as tropas em todo o país, que seguem o exemplo de que lutando é possível conseguir vitórias. Os praças perderam o medo de se mobilizar e a tarefa do PSOL é ser um ponto de apoio aos justos rebelados. Hoje no país este é o setor que enfrenta de forma concreta e aguda o arrocho salarial e a política econômica nefasta do governo federal e dos governos estaduais. É neste embate que o PSOL tem que se localizar para ajudar as mobilizações a avançar e ser uma resposta nacional, exigindo do governo federal a aprovação da PEC-300, dos governos estaduais reajustes dignos e exigir a desmilitarização das polícias e o seu direito à sindicalização. Somente desta forma vamos combater a velha e a nova direita.