Maria José Lourenço, a Zezé, se foi: nossa homenagem a fundadora da corrente morenista no Brasil.

Ontem soubemos da triste noticia do falecimento de Zezé. Nessa hora difícil, nós da CST, seção da UIT-QI no Brasil, enviamos nossos sentimentos a todas e todos que com ela militaram, aos seus familiares, amigos, e ao seu companheiro de jornada Jorge Sprovieri.
Maria José Lourenço foi fundadora e destacada dirigente da Liga Operária e da Convergência Socialista. No plano internacional foi dirigente da Fração Bolchevique e da LIT-QI na época de Nahuel Moreno. Reivindicamos sua trajetória, apesar de nossas divergências e caminhos diferentes em que marchamos. Reivindicamos seu papel na fundação e condução da corrente trotskista morenista em nosso país. Uma tradição que nós da CST batalhamos para manter e dar continuidade.
Zezé começou a militar muito jovem durante a ditadura militar. Participou do movimento estudantil no Curso de Comunicação da UFRJ e integrou a redação do jornal O SOL, um importante periódico alternativo da época. O jornal era uma iniciativa do MNR, organização nacionalista ligada a Leonel Brizola que defendia a estratégia guerrilheira. Zezé pertenceu ao MNR. Sua ruptura com o guerrilheirismo se dá no Chile no contexto do governo da Unidade Popular Chilena e da formação do Grupo Ponto de Partida. Aí é ganha para o trotskismo.
Seu contato com o PST argentino e a corrente fundada por Nahuel Moreno, foi fundamental para o lançamento da Liga Operária no Brasil no Brasil em 1974. Criando a bases para o lançamento da Convergência Socialista, organização trotskista morenista de implantação operária e peso político nos anos 1980. Maria José Lourenço jogou um papel importante na redação da revista Versus, publicação alternativa com boa audiência, por meio do qual foi lançada a ideia de um Partido Socialista no Brasil. O que desembocou na Convergência Socialista.
A história reformista esconde que o trotskismo morenista jogou papel relevante nas primeiras manifestações pelas liberdades democráticas e nas primeiras greves operarias que ressurgiam no País. Combates onde a Liga Operária e Convergência marcaram forte presença. Além disso busca apagar que a primeira proposta de fundação do PT foi apresentada pela corrente morenista no congresso operário de Lins/SP. Essas batalhas contaram com a liderança ativa de Zezé.
A Liga Operária e a Convergência foram muito perseguidas. Tiveram números dirigente e militantes presos, demitidos ou processados pela ditadura militar. Durante muito tempo atuou na clandestinidade, com Maria José Lourenço atuando sob o codinome de “Luiza Maranhão”. Zezé sofreu a repressão política, foi presa pela ditadura militar. Não por acaso foi homenageada pelo famoso cartunista Henfil (ver jornal Convergência Socialista, n°154)
Maria José Lourenço representou a LIT-QI no ato de homenagem e despedida de Nahuel Moreno em Buenos Aires, em janeiro de 1987. Neste dia declarou:
“Moreno foi grande porque foi trotskista. Porque dedicou sua paixão revolucionária, sua capacidade intelectual, sua alegria inesgotável a tarefa que considerava a mais importante de sua vida: construir a Internacional, fazer renascer na consciência da classe operária a tradição internacionalista. Esse foi a tarefa a qual se dedicou. Fez isso indo ele mesmo a classe operaria e nos ensinando a fazer isso. Ele abandonou o trotskismo de café dos intelectuais e foi viver na Villa Pobladora, em Avellaneda, e construir seu grupo entre os operários. Ele nos ensinou a descer fundo nas minas da Bolívia, a deixar o centro de São Paulo, Madri ou de Bogotá para construir nossos partidos nas fábricas, nas escolas e nos bairros operários. Porem sua mais importante lição foi que sem a internacional não somos nada. Que necessitamos de uma internacional para apoiar, intervir e lutar pela direção das lutas operárias no mundo. Nem o MAS, nem nenhum outro partido, por mais forte que seja, poderá se desenvolver-se, muito menos conduzir os trabalhadores a tomada do poder, se não é parte de uma organização internacional por mais débil que seja.
Essa tradição Internacionalista é parte de nossa história. Na década de 1960 a pequena organização regional dos trotskistas ortodoxos latino-americanos – como então se chamava a nossa corrente – dirigiu as lutas dos camponeses peruano, uma das mais importantes do subcontinente. Em 1979, nossa corrente, orientada por Moreno, organizou a brigada Simon Bolivar para lutar, junto ao povo nicaraguense e os Sandinistas contra Somoza e o imperialismo. O sangue derramado por nossos mortos na terra nicaraguense aduba o terreno da revolução latino-americana.” (Correo Internacional, n°27, março de 1987)
Mesmo depois de sua saída da corrente morenista, Zezé seguiu reivindicando o papel de Nahuel Moreno e muitas das lições que obteve com ele. (ver O início do trotskismo morenista no Brasil (PARTE I) – CST-UIT).
Maria Jose Lourenço num de seus últimos escritos declara-se “sempre, e antes de tudo, militante socialista”. Uma de suas últimas batalhas foi pela sua saúde ao lado de seu companheiro de várias décadas, Jorge Sprovieri.
Para essa importante militante socialista, a Maria José Lourenço, fica aqui a nossa homenagem. Que seu exemplo na fundação da corrente morenista seja reivindicado pelas novas gerações trotskistas brasileiras, latino americanas e mundiais. Que sirva para fortalecer novas companheiras nas direções dos partidos revolucionários e nas lutas da classe operária.
Até o socialismo, camarada Zezé!
25/03/2025
Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores, seção da UIT-QI no Brasil