“Eles sorriem enquanto nós tossimos”, sobre a fumaça no Pará e a necessidade de lutarmos:

Eduardo Protázio – Professor da Rede municipal de Óbidos e militante da CST-UIT

 

Amanhecer e perceber o céu azul tem sido um desafio para as populações da Amazônia. Além de enfrentar a seca de chuvas e a baixa de rios durante o segundo semestre, no último mês diversas regiões convivem com a intensa presença de fumaça. Em cidades do Baixo Amazonas no Pará, como Óbidos – de onde escrevemos neste momento – não é um exagero dizer que em alguns dias navegamos pelo rio Amazonas sem conseguir enxergar duzentos metros à nossa frente em plena manhã. No mesmo período, a Ilha do Capacete (Arapujá), em frente à cidade de Altamira-PA, era destruída pelo fogo, como denunciou a jornalista Eliane Brum. Em Santarém, no rio Tapajós, não tem sido diferente, porém, no último domingo (24/11) ganharam repercussão nacional as imagens que mostravam o povo santareno e da região caminhando em meio a fumaça e a um céu cinzento na paisagem, durante a procissão do Círio de Conceição.

Neste mesmo final de semana, em Belém do Pará, um mega show com o DJ Alok foi pago pelo Governo do Pará para anunciar a cidade como a sede para a próxima Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP-30). Nos vídeos em suas redes sociais, o governador Helder Barbalho (MDB) e seu irmão Jader filho, ministro das Cidades do Governo Lula festejavam e não demonstravam constrangimento com a situação que a região oeste do estado vive. Nenhuma solidariedade fora manifestada nem durante a festa, paga com milhões de verba pública, nem durante a participação da comitiva governamental em Baku no Azerbaijão, durante a COP-29. O fato é que o governo encara a vinda do evento internacional como uma oportunidade para fechar negócios, grandes negócios com grandes empresários e seguir tratando a Amazônia como todos os governos a trataram: moeda de troca e laboratório para um falso desenvolvimento sustentável ou uma falsa economia verde.

A situação de crise ambiental reflete o desmonte dos órgãos de fiscalização e uma política consciente dos governos:

Ocorre que tanto a nível estadual quanto federal há uma política de Estado sendo efetivada, com o desmonte dos órgãos ambientais e precarização das carreiras de servidores/es dessa área, o que torna impossível ações contundentes de combate aos criminosos que desmatam e queimam as florestas. Neste ano de 2024 as greves de trabalhadores/as do IBAMA, FUNAI, ICMBIO, desmascarou o governo que no exterior anuncia a proteção dos territórios amazônicos, quando na realidade há um estado do Tocantins; de área queimada somente em 2024 (https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2024/11/incendios-aumentam-em-outubro-
e-area-destruida-no-brasil-em-2024-ja-equivale-ao-territorio-de-tocantins.shtml), território comum às políticas da família oligárquica e latifundiária dos Barbalhos e do governo Lula/Alckmin. Afinal, é iniciativa desses governos a construção da Ferrogrão, megaprojeto de uma ferrovia de quase mil quilômetros, já em fases adiantadas de elaboração do projeto, que servirá para arrebentar com territórios ancestrais de Terras Indígenas, transportando a produção de soja entre Itaituba no Pará e Sinop no Mato Grosso, como denunciou a liderança indígena Alessandra Korap Munduruku em sua particiáção em Baku. Isto é, uma imperiosa obra para escoar a produção do agronegócio, o mesmo sistema que produz queimadas para formar pasto e para produzir carne e grãos que sequer serão consumidos pelo povo brasileiro trabalhador.

O Governo Lula, que Mantém seu ministério da Agricultura nas mãos do Agro, segue com seu duplo-discurso em relação ao meio-ambiente. A construção da Usina Hidroelétrica de Belo Monte, em Altamira, parece não nada ao governo federal. Ou ensinou melhor, como devastar a floresta e secar os rios. Isso porque, após a COP-28 no ano passado em Dubai, o governo não hesitou em fechar acordos com consórcios de países petroleiros, considerando até mesmo a perfuração de poços para a extração de petróleo na bacia amazônica. Isso justamente quando o mundo discute transições energéticas; para reduzir as emissões de gás carbônico e outros que geram o efeito estufa e, no Pará está aliado ao governo oligarca dos Barbalhos. É preciso denunciar essa política e exigir do governo Lula um projeto efetivo de proteção da Amazônia, o Fim do Plano Safra ao agronegócio e o atendimento das pautas dos movimentos indígenas, campesinos e ambientais.

A política de REDD+ do governo do Pará, que prevê compensar financeiramente as comunidades que se empenharem em práticas de proteção e conservação da biodiversidade, é outro ponto que merece a nossa crítica, assim como criticaram as 25 entidades dos movimentos indígenas e quilombolas do Tapajós e outras regiões (https://www.instagram.com/p/DCWqrqkJWVl/?img_index=2), que expressaram em nota pública conjunta em 14/11. Na verdade, o que esta política pretende é manter o modelo de exploração e produção dos grandes capitalistas. Enquanto eles mantêm um nível de vida inacessível à classe trabalhadora, seguirão poluindo e produzindo efeitos nocivos ao planeta,
mas com essa política, migalhas serão ofertadas aos povos de comunidades para limpar a consciência dos milionários e bilionários. Este mesmo plano já foi criticado anteriormente por movimentos que representam povos e comundiades tradicionais, acusando o governo de não efetuar consultas prévias nos territórios.

Mobilizar e lutar nas ruas no dia 2/12!!

Em meio a todo este cenário catastrófico gerado pelas queimadas criminosas e pela omissão dos governos, está sendo convocada a Marcha Pelo Clima em Santarém. Uma importante iniciativa que tem à frente a organização Guardiões Pelo Bem Viver, a mídia independente Tapajós de Fato e outras entidades políticas. É importante que outras iniciativas sejam pensadas e tomemos as ruas nessa data, tornando esta uma pauta nacional e efetivamente internacional.

 

Sobre a Marcha em Santarém:
�� Data: 02 de dezembro
⏰ Hora: 17h
�� Local de Concentração: Centro Regional de Governo do Oeste do Pará

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