Centrão vence as eleições: a conciliação de classes de Lula favorece a direita | Combate Socialista Nº 191

Editorial do jornal Combate Socialista Nº 191

Centrão vence as eleições: a conciliação de classes de Lula favorece a direita

O primeiro turno foi marcado pela despolitização. O grande vencedor foi o centrão. A política de traição de classe do PT e os pactos conservadores de Lula com esses partidos ajudaram o centrão a crescer. Nesse contexto, as forças à esquerda da frente ampla tiveram poucos votos. Fez falta um polo unitário da esquerda independente.

O grande vencedor foi o centrão

O vencedor, como em 2020, foi o centrão. Um aglomerado de partidos burgueses que defendem pautas reacionárias e de ataques, que apoiaram Bolsonaro e atualmente estão no governo Lula-Alckmin. O PSD, o MDB, o PP e o União Brasil conquistaram mais da metade das prefeituras. O PSD, de Kassab, que possui 3 ministros no governo Lula-Alckmin, teve um crescimento de 35%. O MDB, que possui 3 ministros, vai ao segundo turno em São Paulo, a cidade mais importante. O Republicanos, partido de Tarcísio, que ocupa 1 ministério no governo federal, duplicou de tamanho. E o PP de Arthur Lira, que está com um 1 ministro, cresceu 8%.

A conciliação de classes de Lula favorece a direita

 A política do PT ajudou o centrão a crescer. Não é desprezível o papel das verbas de ministérios, bem como, em alguns casos, o apoio de Lula, como ao PSD no Rio de Janeiro. Nos governos anteriores, os mandatos do PT (2003-2016) fortaleceram conservadores como Crivella, Michel Temer e Eduardo Cunha, do MDB, o Partido Republicanos, o PP e o PSD de Kassab, que compunham o governo Dilma. Essa política de alianças de Lula prepara retrocessos para a classe trabalhadora. Com essa linha, aplicam o Arcabouço Fiscal, cortam verbas da saúde e educação, atacam o salário e destinam bilhões ao agronegócio e multinacionais. Nesse contexto é que cresce a direta e se fortalece o centrão. Esse retrocesso é fruto da confusão gerada pela conciliação de classes de Lula, Dilma e do PT de que assim iria melhorar a vida do povo trabalhador.

O PT perde protagonismo político

O PT fez uma eleição com mais votos do que nas anteriores. Reverteu a queda de prefeituras que durava 8 anos. Desta vez cresceu 39%, elegendo 252 prefeituras. Mas esse dado não recupera o protagonismo, e que os melhores resultado do PT são fora dos maiores centros urbanos. No caso do ABC, o PT mantém retrocessos. Hoje nos maiores centros o PT vai a reboque do PSD de Paes no Rio, João Campos do PSB no Recife ou coligado ao PSOL-REDE em SP e indicando Marta como vice (alguém que não estava no PT e votou o impeachment contra Dilma). Nas capitais os melhores resultados do PT foram a ida ao segundo turno em Fortaleza e Porto Alegre. Duas cidades onde antigamente o PT governou e era uma potência. Isso demonstra que amplos setores da classe trabalhadora e setores populares já não acreditam no PT e lamentavelmente, equivocadamente, votam na direita.

O PL de Bolsonaro cresceu

 Nesse marco a extrema direita volta a crescer eleitoralmente. O PL, bolsonarista, elegeu 510 prefeitos. Em 2020 foram 340. Um crescimento de quase 50%, mesmo após perder o governo federal. Atualmente o PL torna-se a 5° força política em prefeituras. E estão na disputa de segundo turno de 23 cidades. Se preparam para 2026 com boas votações também nas câmaras de vereadores, com campeões de votos como Carlos Bolsonaro no Rio, Lucas Pavanato em SP e Pablo Almeida em BH. São um setor ultrarreacionário que protagonizou a intentona golpista de 8J. Um de seus problemas é o surgimento de Marçal, que dividiu a extrema direita em SP.

Faltou uma frente eleitoral à esquerda da frente ampla

A CST, como organização socialista e revolucionária independente, atuou para construir um polo à esquerda da frente ampla, dos partidos que não integram o governo Lula-Alckmin e não estão coligados com partidos patronais. Fizemos essa proposta inúmeras vezes desde dezembro de 2023. Entrevistamos e reunimos com lideranças de várias organizações, como a UP e PSTU, mas essa proposta não foi aceita por parte deles. Assim, em SP, Rio, PoA, BH e Belém surgiram duas chapas por fora da frente ampla, sem alianças patronais: da UP e do PSTU, primando a dispersão e autoconstrução nessas cidades. Algo equivocado no atual contexto eleitoral.

Surgiu uma unidade eleitoral da esquerda independente

 Apesar desse cenário, felizmente, nos fatos, surgiu uma unidade eleitoral na legenda democrática cedida pelo PSTU para forças como o MRT, SoB, Emancipação Socialista, e que nós, da CST, integramos. Foi uma campanha que expressou a independência de classe. Avaliamos como positivo que, em SP, também participou dessa unidade o PCBR. Logicamente teríamos mais força caso tivesse existido um comitê ou bloco eleitoral unificado, coisa que os camaradas do PSTU se negaram. Agora no segundo turno de SP defendemos uma reunião dessas forças para coordenar ações contra a extrema direita de Nunes, Tarcísio e Bolsonaro.

A CST fez uma campanha socialista e revolucionária

A CST, seção no Brasil da UIT-QI, apresentou nossas companheiras feministas socialistas Bárbara Sinedino, Lorena Fernandes, Andressa Rocha e Jeane Carla. Colocamos nossas campanhas a serviço das lutas e realizamos solidariedade à resistência palestina. Nossos panfletos defenderam o fim do Arcabouço Fiscal e do Plano Safra, a reestatização da Sabesp, da Cedae, da Corsan e do Metrô de BH, o não pagamento da dívida e taxação dos bilionários, a legalização do aborto, o fim da PM, a emergência climática e a punição da extrema direita golpista. Dialogamos com trabalhadores e jovens que são eleitores da frente ampla, mas que ouviram nossas críticas à política de Lula e escutaram a ideia de uma esquerda independente. Uma parte deles concordou com nossas propostas, apesar de manter o voto na frente ampla. Esse diálogo vai seguir no segundo turno e nas lutas que estão por vir. As nossas candidaturas explicaram que enquanto formos governados pelos patrões não há saída para a classe trabalhadora. Semearam a ideia de uma esquerda independente que lute por um governo da classe trabalhadora, sem patrões, e um Brasil socialista. Por isso, agradecemos quem votou em nossas propostas e os convidamos a ingressar na CST. Participar de nossas reuniões, divulgar nosso jornal e ajudar a financiar nossa organização.

 

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