Na esquerda socialista, não cabem sionistas!

por Denis Melo, da Coordenação da CST

A deputada Talíria Petrone (PSOL), que concorre a prefeita de Niterói, recebeu com entusiasmo o apoio de Bill de Blasio, ex-prefeito de Nova Iorque, à sua candidatura, fato propagado em suas mídias e através de registro fotográfico. O democrata Bill de Blasio, durante seu mandato como prefeito, foi um defensor declarado do Estado de Israel, chegando a afirmar em 2019, em uma conferência da AIPAC (Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelense), que “não há maior amizade do que a entre Nova Iorque e Israel”. Além disso, ele descreveu o apoio a Israel como “uma obrigação moral” para os Estados Unidos. Esse alinhamento não se restringiu a declarações. Bill de Blasio defendeu o financiamento militar norte-americano a Israel, mesmo em momentos críticos, como durante os intensos bombardeios sobre Gaza. Sua postura frente ao conflito Israel-Palestina legitima ações que resultaram na morte de milhares de civis palestinos, muitas vezes vendidas pela mídia burguesa como “operações de autodefesa”.

A contradição em aceitar o apoio de uma figura tão comprometida com a defesa de políticas israelenses opressivas não se limita à candidatura de Talíria Petrone. Guilherme Boulos, outro nome relevante do PSOL e candidato à prefeitura de São Paulo, também recebeu o apoio de Bill de Blasio. Assim como no caso de Talíria, o apoio a Boulos expôs um distanciamento entre o discurso do partido e suas práticas políticas, o que alimenta críticas sobre o crescente eleitoralismo do PSOL. Boulos, que outrora se posicionava como uma voz crítica ao imperialismo, também enfrenta questionamentos ao aceitar o respaldo de alguém que personifica uma política de opressão contra a causa palestina.

Essa situação reflete um fenômeno mais amplo dentro do PSOL: a busca por viabilidade eleitoral a qualquer custo. O partido, que surgiu como uma força de esquerda socialista, crítica ao imperialismo e defensor dos direitos humanos, parece agora disposto a aceitar alianças que contradizem suas pautas históricas. Ao receber o apoio de uma figura como de Blasio, que nunca hesitou em defender o sionismo e o imperialismo norte-americano, tanto Talíria quanto Boulos reproduzem um profundo recuo em pautas cruciais da esquerda internacional.

Para os marxistas revolucionários, o sionismo é uma ferramenta do imperialismo para legitimar a colonização de terras palestinas e consolidar o domínio capitalista na região. O Estado de Israel é um projeto colonialista desde sua criação, fundamentado em um mito de direito histórico que visa criar um Estado judeu às custas do direito à existência da população palestina. Esse Estado serve aos interesses das potências imperialistas e é mantido pela exploração, pelo apartheid e pela opressão permanentes do povo palestino. A verdadeira luta anticapitalista e internacionalista deve incluir uma oposição intransigente ao sionismo e à ocupação israelense, visto que essa luta é parte indissociável do combate ao imperialismo em âmbito global.

O PSOL tem abandonado continuamente seu programa de origem e adotado uma postura cada vez mais eleitoreira e adaptada ao regime burguês. Um partido que outrora reivindicava uma posição de crítica intransigente ao imperialismo e defendia pautas históricas da esquerda internacional, agora se encontra disposto a se aliar a figuras comprometidas com o colonialismo e o genocídio palestino, desde que isso sirva a seus interesses eleitorais. Tal postura representa um afastamento dos princípios internacionalistas, que preconizam a luta pela emancipação dos povos oprimidos como parte fundamental da luta socialista.

As críticas vindas da esquerda norte-americana também ilustram o desgaste de figuras como Joe Biden e Kamala Harris, que foram acusados de compactuar com o genocídio palestino ao não condenarem as ações militares de Israel. Até mesmo setores do próprio Partido Democrata denunciam o papel dos Estados Unidos no financiamento da ocupação israelense e sua incapacidade de se posicionar contra as violações de direitos humanos. Esse cenário cria uma contradição imensa quando candidatos identificados com o campo de esquerda, como Talíria e Boulos, aceitam entusiasticamente o apoio de figuras que simbolizam exatamente o tipo de política imperialista que historicamente o PSOL condenava.

Assim, a celebração do apoio de de Blasio por Talíria e Boulos é mais do que um erro tático. Ela reflete uma mudança mais profunda do caráter do PSOL, que, ao buscar alianças pragmáticas (tendo como exemplo maior em Niterói a coligação com o PSB), segue diluindo sua identidade e qualquer compromisso histórico com a luta anticolonialista e anti-imperialista. Cabe às organizações políticas que concomitantemente apoiam Talíria e têm compromisso com a causa palestina, tais como a UP e o PCB, incorporar publicamente a crítica a este vínculo com a alta cúpula do Partido Democrata estadunidense, que enfraquece a luta internacionalista. A CST-UIT apoia a candidatura da companheira Daniele Bornia (PSTU) à prefeitura de Niterói, a única no município com um programa indissociável das lutas da classe trabalhadora, sem alianças com partidos burgueses e que não abre mão de posições internacionalistas da esquerda socialista, tais como a defesa incondicional da causa palestina.

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