Argentina: ex-presidente Alberto Fernández é denunciado por violência de gênero

Por Mercedes Trimarchi, deputada da Izquierda Socialista/ FIT-Unidad na CABA [Cidade Autônoma de Buenos Aires] e dirigente do coletivo de mulheres Isadora

Fabiola Yañez denunciou Alberto Fernández por violência de gênero. Como todas as vítimas, fez isso como e quando pôde. Por isso, saudamos a sua coragem e apoiamos a denúncia. O ex-presidente rapidamente se defendeu nas redes, seguindo a cartilha do macho: negou tudo. O que esperar daquele que disse que o patriarcado acabou?

A violência de gênero é um problema social grave e tão antigo quanto o patriarcado. Com a força do #NiUnaMenos, no âmbito da quarta onda feminista, em todo o mundo conseguimos trazer a questão da violência de gênero para fora da esfera privada. Com a luta, impulsionamos protocolos protetivos nos locais de trabalho e de estudo, conquistamos leis e novos direitos e fizemos da perspectiva de gênero uma visão abrangente para enfrentar as desigualdades existentes. Também conquistamos a atenção das pessoas, apesar de muitas vezes enfrentarmos a revitimização a que somos submetidas quando conseguimos traduzir em palavras anos de silêncio tortuoso, de violência e de abusos. Fizemos progressos no questionamento do pacto de silêncio, que beneficia os abusadores.

Em resposta à denúncia de Fabiola, representantes de La Libertad Avanza [A Liberdade Avança, coligação de Milei] manifestaram-se, com total hipocrisia, contra a violência de gênero. Algo repugnante, vindo por parte daqueles que governam atacando o nosso movimento e eliminando as insuficientes políticas públicas que davam suporte às vítimas da violência heterocispatriarcal. Um governo que legitima, com discursos de ódio, crimes como o triplo lesbicídio em Barracas. Por isso, entre as primeiras medidas de Milei esteve o fechamento do Ministério das Mulheres, de Gêneros e da Diversidade, o desmantelamento da linha telefônica 144, voltada para as vítimas da violência, e a eliminação da perspectiva de gênero na administração pública. Denunciamos aqueles que hoje se dizem horrorizados com esse fato, mas exaltam e defendem o fim das políticas de combate à violência de gênero. Os mesmos que aplicam um ajuste brutal a toda a classe trabalhadora, atingindo especialmente as mulheres e as dissidências dos setores populares.

Até que o capitalismo e o patriarcado caiam juntos

Com as lutas feministas conseguimos vitórias parciais no combate à violência de gênero e sexual. As conquistas obtidas não foram concessões de nenhum governo ou parlamento. Foram o resultado de anos de luta. Nós, da Isadora, sempre dissemos que a violência machista e os seus crimes não acabarão até derrotarmos o capitalismo e o patriarcado. É por isso que estamos empenhadas em construir um movimento de mulheres e dissidências independente de todos os governos. Essa foi a grande lição da mobilização de milhões de pessoas na luta pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito, conquistado com a força da #MaréVerde. Foi por isso que sempre denunciamos que o governo de Alberto Fernández tentou se apropriar da nossa conquista, enquanto manteve um orçamento totalmente insuficiente para combater a violência de gênero e para garantir aplicação da lei da educação sexual nas escolas.

As mulheres e as dissidências nada podem esperar dos homens que governam a serviço da perpetuação dos seus privilégios, concedidos pelas instituições do sistema capitalista e patriarcal. Portanto, confiamos apenas na força da mobilização para obter conquistas e também para defendê-las. O nosso compromisso é com a luta, independente dos governos e dos partidos patronais. Lutamos pelos nossos direitos, visando acabar com todas as desigualdades sociais. A nossa luta, a partir do feminismo socialista, é por uma sociedade sem opressão e exploração. Convidamos você a travá-la conosco e a se juntar à Isadora.

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