A entrega da PDVSA ao capital privado e transnacional está avançando
Por José Bodas, líder do PSL e secretário-geral do Futpv
O governo do presidente Chávez se autoproclamou “socialista”, e o governo de Maduro herdou esse suposto caráter. O governo de Chávez não era socialista e o governo de Maduro também não é. Embora María Corina Machado, aproveitando-se do desastre a que ambos nos conduziram, faça campanha atacando o socialismo.
Maduro se insurge contra os “sobrenomes” tradicionais da burguesia venezuelana. Isso é apenas uma aparência. Ele não apenas se dá bem com os sobrenomes antigos, como Cisneros, mas também com os novos ricos e as grandes transnacionais, como a Chevron, entre outras.
O proprietário do Deportivo Táchira acabou se tornando um homem do petróleo
Em abril passado, a PDVSA, por meio da Corporação Venezuelana de Petróleo, assinou um acordo com a empresa A&B Oil and Gas, de propriedade do empresário Jorge Silva Cardona, para a criação da Petro Roraima, uma nova joint venture que explorará campos que antes pertenciam à Petro San Felix.
A A&B Oil and Gas é uma empresa petrolífera nova, sem experiência na área. Seu proprietário também é dono do Grupo JHS, um conglomerado agroindustrial dedicado à produção de aves, suínos e ração animal. Silva também é proprietário do histórico time de futebol Deportivo Táchira e representante na Venezuela da transnacional brasileira JBS Foods S.A., especializada na produção e comercialização de diferentes tipos de carne.
Jorge Silva foi técnico administrativo no Seniat entre fevereiro de 2008 e agosto de 2013. Pouco tempo depois, fundou o Grupo JHS. Menos de 10 anos depois, ele tem capital para se aventurar no negócio de petróleo, aliando-se à PDVSA em uma joint venture. Como ele fez isso? Essa é uma pergunta quase obrigatória.
Maduro na Petro Boscán acompanhado pelo presidente da Chevron
Na quinta-feira, 27 de junho, Nicolás Maduro visitou a Petro Boscán em Zulia, uma joint venture entre a PDVSA e a Chevron.
Essa visita foi um ato vergonhoso de submissão à Chevron e às transnacionais norte-americanas, às quais o governo diz se opor tanto. Naquele dia, Maduro, ladeado por Mariano Vela, presidente da Chevron Venezuela, quase implorou aos investidores norte-americanos: “meu nome é Nicolás Maduro Moros, sou o presidente da República Bolivariana da Venezuela, um homem de palavra, um homem de confiança, dêem as boas-vindas ao investimento de vocês na Venezuela para que possamos trabalhar por outra relação, a dos Estados Unidos com a Venezuela”.
Maduro afirmou que seu governo tem “relações extraordinárias de trabalho e cooperação” com a Chevron. Enquanto isso, o presidente da PDVSA, Pedro Tellechea, foi além em sua rendição e afirmou que “a Venezuela está preparada para qualquer aliança com qualquer transnacional”.
A genuflexão do governo venezuelano diante da Chevron e dos Estados Unidos é evidente no acordo entre a transnacional e os governos de ambos os países, materializado na licença LG41 de novembro de 2022, que autoriza as operações da Chevron no país, incluindo a produção e exportação de petróleo, atividades para as quais a Chevron não está autorizada nos termos legais das joint ventures com a PDVSA. A Chevron só pode exportar petróleo para os Estados Unidos e paga royalties em bolívares!
Governo faz parceria com a família Cisneros
Em 4 de julho, foi criada a Petro Cabimas, uma nova empresa mista formada pela Corporación Venezolana de Petróleo, em nome da PDVSA, e pela Globalable Holding SL, de propriedade do empresário Ricardo Cisneros.
Na Venezuela, são mantidas relações privilegiadas com empresários privados, como a família Cisneros, a quem Chávez acusou uma vez de ser fascista e com quem mais tarde concordou em uma reunião histórica com Gustavo Cisneros, facilitada por Jimmy Carter. Exemplos do que estamos dizendo são as excelentes relações com personagens como Alberto Vollmer, Miguel Pérez Abad, Wilmer Ruperti e Víctor Vargas Irausquin, proprietário do Banco Occidental de Descuento. Agora, mais recentemente, com o atual presidente da Fedecámaras, Adán Celis. Sem mencionar que milhares de outros milionários venezuelanos viram suas fortunas aumentarem sob o chavismo, como Juan Carlos Escotet e o próprio Lorenzo Mendoza.
Esses acordos no setor de petróleo não são criação do atual governo de Nicolás Maduro; a rigor, eles fazem parte das chamadas empresas mistas com capital nacional e transnacional, criadas por Hugo Chávez em 1º de maio de 2007 e apresentadas como uma segunda nacionalização e um suposto avanço em relação ao esquema anterior. Na realidade, as transnacionais tornaram-se parceiras da PDVSA no negócio de petróleo, aumentando sua estrutura acionária. Isso permite que as empresas nacionais transnacionais e privadas parceiras da PDVSA listem suas ações na bolsa de valores, o que facilita a obtenção de financiamento.
Nenhum desses acordos trará benefícios para os trabalhadores das joint ventures que forem formadas. Os salários de fome, o não cumprimento do contrato coletivo de petróleo já expirado e a criminalização daqueles que ousam exigir seus direitos continuarão.
María Corina Machado e Edmundo González concordam com o ajuste com Maduro
Edmundo González Urrutia, e muito menos María Corina Machado, que está ligada a importantes famílias ricas de nosso país, como a Machado Zuloaga e a Sosa Branger, não se opõem a nada disso. Ambos defendem o capitalismo e os interesses empresariais e transnacionais, assim como os outros candidatos.
Concordam com o ajuste econômico aplicado pelo governo, sua diferença está no fato de que eles, juntamente com os outros partidos da oposição patronal, querem ser os únicos a controlar o Estado e, com ele, os recursos provenientes da receita do petróleo. Eles querem governar para serem aqueles que negociam e acordam diretamente os termos do relacionamento com o imperialismo e suas transnacionais.