É errado dar apoio político a um governo capitalista (Parte IV)
4- É errado dar apoio político a um governo capitalista (Parte IV)
(este texto é a terceira parte do O governo Lula e a luta contra a extrema-direita). Leia a parte I, II e III)
Uma coisa é defender o governo Lula/Alckmin de uma intentona golpista ultrarreacionária, de uma ação da extrema direita que visa derrubá-lo; defender o governo Lula/Alckmin de uma ditadura militar. Defender o governo Lula nesses processos é correto. Nós defendemos o governo Lula nas ruas contra a tentativa de golpe de 8J e fomos aos atos “sem anistia” novamente em 2024 pedindo a punição dos golpistas. Inclusive exigimos que Lula convocasse os atos, que deveriam ser massivos e unindo tudo e todos contra a intentona bolsonarista. Mas outra coisa é ceder à pressão da frente ampla e dar apoio político ao governo Lula. Seja pela via que for, com ou sem críticas, pois se trata de fronteiras de classe. Faz parte das bases fundamentais do movimento operário, ensinadas por Lenin e pelos Bolcheviques, a orientação de jamais dar apoio a um governo capitalista. Essas lições dos nossos mestres foram abandonadas pelo PSOL, que integra com cargos e ministérios o governo capitalista de Lula, compõe sua base aliada e o apoia. Foi o que levou a CST a romper com o PSOL no ano passado. Não integrar e não apoiar um governo capitalista, que aplica ajuste fiscal, é central para os marxistas.
Por isso nós consideramos equivocada a posição da direção nacional da UP acerca do governo Lula. Em sua resolução política nacional se pode ler a seguinte definição:
“com o intuito de definir da maneira mais precisa possível nossa posição em relação ao governo, de maneira a se diferenciar dos bajuladores e dos fascistas, consideramos que:
Apoiamos o governo Lula na luta contra o fascismo e pelas liberdades democráticas e exigimos que os responsáveis pelo golpe fascista de 8 de janeiro – Bolsonaro e seus generais reacionários – sejam exemplarmente punidos;
Porém, não estamos de acordo com a política econômica do governo, que privilegia o agronegócio em vez da reforma agrária (atrasada há mais de 60 anos) para milhões de famílias sem-terra. O chamado “Novo Arcabouço Fiscal” na prática é uma política que mantém o teto de gastos enquanto continua a destinar cerca de metade do orçamento para o pagamento de juros e amortizações aos banqueiros, essa elite gananciosa e egoísta, através da chamada dívida pública”. (disponível aqui https://www.unidadepopular.org.br/2023/05/resolucao-politica-da-unidade-popular-maio-de-2023/).
De forma precisa a resolução afirma “Apoiamos o governo Lula na luta contra o fascismo” e “Porém, não estamos de acordo com a política econômica do governo”. É uma definição de apoio político, mesmo que com ressalvas. A posição é de apoio ao governo Lula/Alckmin, que integra uma espécie de campo progressivo contra o “fascismo”. Ao mesmo tempo, a resolução da UP se diferencia da política econômica do governo Lula. É um apoio político com críticas ao arcabouço fiscal, o corte de verbas, composição dos Ministérios ou a ausência de punição dos golpista de 8J. Mas um apoio político a um governo é um apoio político a um governo. E isso não muda pelas ressalvas.
Em nossa opinião isso é um posicionamento equivocado. Apoiar um governo burguês, mesmo que sem o integrar, é totalmente errado. Dar apoio ao governo Lula, pela forma que seja, significa fortalecer o dique de contenção que bloqueia a visão da classe trabalhadora e dos setores populares: aqueles que ainda confiam no governo vão acreditar que suas expectativas estão corretas e que pouco a pouco estarão satisfeitas, diminuindo uma audiência pela esquerda. Os que começam a refletir sobre o caráter capitalista do governo Lula, insatisfeitos com o congelamento salarial ou cortes de verbas ou o pacto de governabilidade conservador, podem se confundir e acreditar que não há outra saída a não ser continuar depositando confiança na frente ampla mesmo que com ressalvas. Assim, perdemos oportunidades de lutar para construir uma saída operária e popular e classista.
Leia a última parte do texto: Defendemos a luta unificada e uma esquerda independente