1-Nas assembleias de greve da UFRJ e UFF (Parte I)

1-Nas assembleias de greve da UFRJ e UFF (Parte I)

(este texto compõe o artigo O governo Lula e a luta contra a extrema-direita)

Na UFRJ, O MLC-UP integra a direção do Sindicato junto a Unir/Articulação/PT. Nas assembleias de greve os camaradas da UP e do MLC (Movimento Luta de classes) sempre afirmavam que o centro é a luta “contra o fascismo”, “contra a extrema direita”, “derrubar Lira”. Falam que o congresso é conservador e a greve seria para “disputar mais orçamento”. Outras vezes afirmam a denúncia do sistema da dívida a serviço do capital financeiro, exigindo auditoria da dívida. O mesmo pode ser visto na base da UFF, onde o MLC-UP integra uma chapa de oposição juntamente com PCdoB e Articulação/PT. Mas nesses espaços os camaradas raramente citam que estamos sob o governo Lula/Alckmin. Quando muito, alguns de seus dirigentes na UFRJ, dizem que o sistema da dívida ou que a política do centrão para o orçamento conta com a “conciliação do atual governo”.

O Jornal do SINTUFRJ, num momento decisivo da greve (como a edição do 14 de junho), não trouxe uma crítica contundente ao reajuste zero em 2024. Do mesmo modo foi a posição de setores da direção do MLC nacional: “Nós do MLC acreditamos que é necessária a garantia da assinatura do acordo e a saída unificada das entidades nacionais da educação [ANDES, FASUBRA e SINASEFE] da greve, pois tudo que construímos em conjunto garantiu avanços para os orçamentos das instituições de ensino e para as categorias” (ver https://averdade.org.br/2024/06/servidores-organizam-saida-greve-educacao-federal/). A única diferenciação com o governo Lula, que consta na matéria é a seguinte “o governo federal e o presidente Lula continuaram irredutíveis em aceitar um reajuste salarial já no ano de 2024. O motivo é o plano do governo em garantir o pagamento dos juros da dívida pública”. Algo ameno para um congelamento salarial.

Essa postura não permitiu aos camaradas técnicos administrativos do MLC-UP construírem um campo alternativa no comando nacional de greve (CNG) da FASUBRA.

1.1 – No Comando Nacional de greve da FASUBRA

Existia um setor (maioria do Vamos à Luta, PSLIVRE, Combate, Frente Base e sindicatos com Sintufsc e SindUfla) que batalhou por ter reajuste em 2024, por mais orçamento e mais pautas não orçamentárias, que compreendia ser possível, com a força da greve, arrancar uma nova mesa de negociação. Esse setor defendeu manter a greve depois da fala do Lula orientando os dirigentes sindicais a encerrarem o movimento. Apostava na força da luta que foi determinante para os avanços que existiram nas negociações, batalhando contra o congelamento salarial em 2024.

Os setores políticos majoritários na Fasubra (Unir/Articulação/PT, Travessia/Resistência/PSOL e a CTB/PcdoB) depois da fala do Lula e promessas na mesa de negociação do dia 11/6 (maioria delas em GTs e sem garantias de que também vão a aposentados e pensionistas) decidiram semear que a proposta do governo era muito boa, que não havia mais para onde avançar, usar o fantasma do medo: de que se “poderia perder a proposta que já tínhamos”, e que era preciso encerrar a greve. Infelizmente o MLC-UP esteve junto com esse setor majoritário. Sendo que o setor majoritário, governista, estava realizando uma operação de desmonte da greve.

Ao fim e ao cabo, o acordo assinado excluiu qualquer ganho em dinheiro para aposentados e pensionistas em 2024, trouxe valores insuficientes na reestruturação da carreira e nas pautas não orçamentárias foi finalizado com um texto frouxo, que não garante que as pautas serão realmente aplicadas, dependendo de “estudos e viabilidade”.

Infelizmente na batalha final da greve, o MLC-UP esteve colado ao campo governista para encerrar a greve, chegando a orientar a votação do acordo em suas bases sem mesmo ter tido acesso ao termo de acordo final.

Uma batalha democrática também se expressou às vésperas da assinatura do acordo, na tarde da quinta-feira (27/6). O setor do CNG que era contra a assinatura do acordo se unificou com setores dissidentes do Travessia, do Taes na Luta e da CTB. A unidade se deu através de uma proposta que pedia uma nova rodada de assembleias para que a categoria pudesse tomar decisão com o texto final do Termo de Acordo em mãos. O texto foi enviado pelo governo às entidades somente na própria tarde da quinta-feira (27/6). Nessa disputa o MLC-UP também ficou do lado da Unir-CUT e das direções do Travessia e CTB. Essa votação teve como placar 36 para a proposta majoritária e 33 para os dissidentes.

Mas para além dessas assembleias e do comando nacional de greve da FASUBRA, vamos verificar outros exemplos. Um deles é a edição do “Jornal da UP” de junho de 2024.

1.2- O jornal da UP de junho de 2024
A matéria de Capa do Jornal da UP, de junho de 2024, trata das lutas do povo e do papel da UP. Nele são citados os problemas da população trabalhadora (arrocho, filas dos hospitais, moradias e escolas, etc.) e explica-se que a culpa é do sistema capitalista. Nisto estamos inteiramente de acordo. Mas o sistema capitalista nos explora e oprime utilizando um governo concreto de plantão ao qual o texto não cita.

O texto toca, por exemplo, na greve da educação federal que naquele momento se enfrentava com o governo Lula/Alckmin e o seu arcabouço fiscal. Mas nada diz sobre o governo Lula. O Jornal afirma que:

A UP se soma, incondicionalmente, à luta dos trabalhadores do serviço público federal da área da educação federal, que defendem o fim do arrocho salarial e a melhoria da educação pública para o conjunto da juventude brasileira. Como partido das lutas do povo, devemos agir com toda a nossa militância, ao lado das categorias em luta, até às últimas consequências em defesa da educação”.
Porém, na mesma matéria, os governos estaduais são citados com nome, sobrenome e definição: “Seguiremos também na linha de frente contra a política privatista protagonizada pelos governos fascistas de Tarcísio em SP, Zema em MG, Claudio Castro no RJ e demais governadores e prefeitos da extrema direita”.

Haveria espaço para acrescentar que grande parte dos recursos das privatizações de Tarcísio em SP vem do BNDES, do governo federal de Lula; ou que o partido ultrarreacionário de Tarcísio integra o governo Lula; se poderia dizer que privatização do metrô de BH ocorreu com a autorização por parte do governo Lula/Alckmin. Mas nada disso consta no jornal. Trata-se, evidentemente, de uma escolha dos redatores do jornal.

Passaremos a outra matéria desta mesma edição. Ela dá destaque à “solidariedade ao povo do rio grande do sul”. Uma ação justa dos camaradas da UP. O jornal corretamente trata das mazelas que se abatem no RS e denuncia – com nome e sobrenome – as mudanças do código ambiental e ataca “Eduardo leite e os políticos liberais e fascistas” que são os “principais responsáveis por não ter planos de contenção de enchentes…”. As denúncias são corretas. Mas o jornal nada diz do papel do governo federal de Lula/Alckmin, como se ele não governasse o país. Do mesmo modo ocorre na matéria de apoio ao povo palestino, que acertadamente exige a ruptura de relação do com Israel. Fala-se do “estado brasileiro” sem citar o governo Lula/Alckmin.

O único texto em que a palavra Lula aparece é no texto de “prisão para Bolsonaro”. Nela há inúmeras denúncias e propostas contra a extrema direita que nós compartilhamos. Nesta matéria consta uma crítica a Lula e aos cortes a educação “deixando as universidades em profunda crise, e fazendo arrocho nos salários dos servidores públicos federais, com o objetivo de seguir pagando exorbitantes juros aos banqueiros”. O conteúdo é certo. Mas é fato que essa crítica está sem destaque no jornal.
Não se trata de algo menor já que o jornal da UP, nesta matéria, explica a necessidade do socialismo, definida como a sua “luta maior”. Afirmam em destaque que “A saída para derrotar esse sistema de destruição é fazer uma revolução que coloque o povo e os trabalhadores no poder e que construa uma sociedade justa, uma sociedade Socialista”. Então a questão de quem e como governa se governa o país agora e qual sua política para a extrema direita e para os setores populares é importante para definir uma estratégia revolucionária.

Trataremos a seguir da ligação do ajuste fiscal e da governabilidade conservadora da frente ampla e sua ligação com o combate contra a extrema direita.

Leia O ajuste fiscal e a governabilidade conservadora dá folego para a extrema direita (Parte II)

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