O debate Biden x Trump e o imperialismo senil

Por Ezequiel Peressini, dirigente da Izquierda Socialista, seção argentina da UIT-QI. Foi parlamentar da Frente de Izquierda y los Trabajadores – Unidad (FIT-U) na província de Córdoba, no período de 2015 a 2019.

A cinco meses das eleições gerais, o idoso Joe Biden tentou esconder a sua cumplicidade com o genocídio que Netanyahu leva a cabo na Palestina e a sua responsabilidade pela situação do povo trabalhador dos Estados Unidos, que vive cada vez pior. O valentão de extrema direita, racista e misógino Donald Trump insistiu no seu plano reacionário para restaurar a hegemonia do imperialista estadunidense. Trump e Biden são apenas expressões senis da crise de dominação do imperialismo norte-americano.

O debate organizado pela rede internacional CNN foi um vexame global. Cinco meses antes das eleições gerais, ficou escancarado diante dos olhos do mundo o nível de decomposição sem precedentes e a crise de dominação do regime imperialista.

Enquanto acontecia o debate presidencial, foi atingida a marca de quase 40.000 palestinos mortos por armas ianques nas mãos do Estado de Israel e do governo de Netanyahu desde o início da guerra. 820 milhões de pessoas (10% da população mundial) passa fome e 600 milhões vivem em regiões do mundo que estão fora do “nicho ecológico” saudável e em condições climáticas preocupantes, resultantes da destruição e pilhagem capitalistas. Porém, os candidatos a chefe do imperialismo norte-americano fizeram papel de bobo na televisão, ao convidarem-se mutuamente para competir numa partida de golfe e ver quem tinha o melhor handicap, decidindo assim qual dos dois dispõe de melhores condições físicas e cognitivas para governar o país.

As mais de 334 milhões de pessoas que habitam os Estados Unidos viram como os candidatos mumificados do Partido Democrata e do Partido Republicano passaram a bola um ao outro, buscando esconder suas responsabilidades pelo grave custo social que o imperialismo está impondo aos trabalhadores, à juventude, às mulheres e, particularmente, às comunidades negra, hispânica e migrante.

O “debate econômico”: muito circo e pouco pão

Desde a crise de 2008 e o fracasso da política de socorro às empresas promovida por Barack Obama, que desperdiçou cinco bilhões de dólares para garantir liquidez para grandes corporações e bancos, os Estados Unidos vivem uma grave crise econômica da qual – apesar da melhora relativa de alguns indicadores – ainda não conseguiu sair. Passaram-se as duas administrações democratas de Obama, quatro anos do republicano Trump e quatro anos de Biden. E o povo trabalhador paga a festa dos capitalistas e bilionários, com uma maior desigualdade econômica e social na qual, segundo a Human Rights Watch, 10% dos que ganham mais recebem quase metade de toda a renda e os 50% mais pobres recebem apenas 13%.

Hoje, mesmo com o desemprego próximo dos 4%, os baixos salários e a precariedade do trabalho, característicos dos 800.000 novos empregos criados por Biden, significam que 41 milhões de pessoas (12,4% da população) ganham menos de 26.000 dólares por ano e estão na pobreza ou muito perto dela. A crise habitacional não para de crescer e cada vez mais pessoas vivem nas ruas, em casas precárias ou debaixo das pontes das grandes cidades. Só no estado da Califórnia, 172 mil pessoas vivem nas ruas devido ao altíssimo custo das habitações. A crise social agrava-se num país em que 28 milhões de trabalhadores não têm plano de saúde.

Os candidatos-múmias debateram entre si qual dos dois comandou o pior governo da história. Para o povo trabalhador, a resposta é clara: ambos foram os piores governantes da história dos Estados Unidos! E fazem muito circo para esconder a falta de pão.

Ucrânia e Palestina, Putin e Netanyahu: todos contra o povo palestino!

Biden defendeu a sua política de buscar fortalecer a OTAN com a recorrente mentira imperialista da defesa dos direitos humanos na Ucrânia, na Polônia e na Bielorrússia; países “em risco devido à política expansionista de Putin”. Trump foi mais amigável com Putin, dizendo que conversou com ele e que a invasão da Ucrânia ocorreu por causa da vergonhosa retirada de Biden do Afeganistão, algo que transformou os Estados Unidos num “país do terceiro mundo”, que ninguém respeita.

Para além de Putin ter aproveitado as fissuras abertas pela crise militar e de dominação ianque, de Biden procurar fortalecer a OTAN e de ambos terem dito que são contra o avanço russo, tanto Biden quanto Trump esconderam que, no início da guerra, tentaram garantir a rendição da Ucrânia, junto com a UE e a Igreja Católica. Só a resistência do povo ucraniano impediu a invasão russa. Biden e Trump querem se aproveitar desse triunfo relativo das massas, paralisando a mobilização e a independência da Ucrânia. O objetivo deles é disputar com a Rússia uma fatia maior da semi-colonização da Ucrânia, em meio à crise aberta pela guerra na Europa. Para isso, contam com o apoio de Zelenzky, que procura refúgio na UE e sob a barra da bandeira norte-americana.

Os acampamentos nas universidades, as mobilizações de apoio ao povo palestino e o crescente repúdio popular ao genocídio israelense em Gaza provocaram um maior isolamento de Netanyahu que, após nove meses de massacres constantes, ainda não conseguiu derrotar a heróica resistência. Isso atingiu duramente o governo Biden. Segundo as pesquisas (ver Gallup), de novembro de 2023 a março de 2024, cada vez menos pessoas apoiam a guerra, passando de 50% para 36%. E cada vez mais pessoas condenam a guerra, passando de 45% para 55 % da população.

Perante tal situação, Biden procurou se distanciar de Netanyahu, para estancar a perda de apoiadores, apresentando uma proposta hipócrita de trégua e recusando o envio de bombas de grande tonelagem. No debate, ele insistiu na mentira de que Israel aceitou a sua proposta de cessar-fogo e escondeu que o seu gendarme no Oriente Médio ainda está bombardeando campos de refugiados. Biden vestiu a camisa de Israel e afirmou que devemos “eliminar o Hamas como fizemos com Bin Laden, tomando cuidado para não matar inocentes”. Trump aproveitou sua vacilação para denunciar que “Biden está se tornando palestino”, sem responder à questão sobre se reconheceria o Estado palestino. Isso demonstra que Trump apoia a política colonialista de Netanyahu e o extermínio de todo o povo palestino. A utópica e reacionária política dos dois Estados fracassou e foi deixada de lado, nas gavetas do esquecimento do imperialismo senil, enquanto todos jogam contra o heróico povo palestino.

Fortalecer as lutas dos trabalhadores e da juventude para construir uma alternativa de esquerda por fora do Partido Democrata!

O debate revelou que nem Trump nem Biden são uma alternativa para o povo trabalhador. Tais candidaturas nada mais são do que fantoches com os quais o capitalismo imperialista decadente procura tentar resolver a sua crise. Com tal objetivo, os dois candidatos continuarão a atacar o povo trabalhador dentro e fora dos Estados Unidos.

Certamente, milhões de lutadoras e lutadores jovens e trabalhadores assistiram ao debate e se perguntaram: podemos enfrentar o perigoso ultra-direitista Donald Trump apoiando e votando em Joe Biden? A resposta é a mesma para a pergunta: podemos ajudar o povo palestino e a sua resistência apoiando Biden? A resposta é negativa.

Nós, da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional, apelamos aos trabalhadores e às trabalhadoras, que estão envolvidos nas lutas operárias e sindicais por uma saída para a crise social, e aos jovens, que estão lutando em defesa do povo palestino, a não votarem nesses candidatos que, no debate, deixaram claro que são nossos inimigos. Defendemos que as organizações políticas de esquerda, as novas direções sindicais em luta, que há anos batalham para conquistar espaço em meio a um regime opressivo e reacionário, a construírem uma alternativa de esquerda independente, por fora do Partido Democrata, que em sua versão senil significa e significará mais guerras, fome e miséria capitalista em todo o mundo.

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