Na Venezuela o socialismo não fracassou porque nunca existiu

Por Miguel Angel Hernández (dirigente do PSL)

 

Caracas, 4 de junho de 2024. Maria Corina Machado, mentora do candidato patronal de direita, tem afirmado nas suas intervenções públicas no âmbito da campanha eleitoral que, no dia 28 de julho, será decretado o fim do socialismo. “Nunca mais”, disse ela em alguma ocasião.

Mas nos perguntamos: como decretar o fim de algo que nunca existiu?

Essa campanha está relacionada com o que outros líderes de extrema-direita têm dito no mundo, estigmatizando o socialismo, rotulando todos os seus rivais políticos como socialistas, aproveitando o desastre dos chamados governos de centro-esquerda, “progressistas” ou de partidos “socialistas” ou social-democratas na Europa.

Na Venezuela, o chavismo gerou grande confusão ao falar de um suposto socialismo bolivariano ou socialismo do século XXI. Na realidade, nunca houve socialismo na Venezuela. Nem com Chávez, muito menos agora com Maduro. Assim como não existe ou não existiu na Nicarágua de Ortega, no Brasil de Lula ou antes na Bolívia de Evo Morales e no Equador de Correa. Todos são ou foram governos capitalistas, que continuaram a aplicar ajustes contra os seus povos, maquiados com discursos falsamente populares.

Grandes empresas transnacionais de telecomunicações e petrolíferas, como Chevron, Repsol e Total, que participam em empresas mistas com a PDVSA, continuam a fazer negócios no nosso país. O mesmo acontece no setor bancário, que conta com a participação de grupos como Bilbao Vizcaya. Como se pode ver, o capitalismo na Venezuela goza de boa saúde.

O socialismo supõe que os principais setores econômicos, como o petrolífero, o elétrico, as empresas básicas e os grandes conglomerados nacionais passem para o Estado, com o controle democrático dos trabalhadores, dos profissionais e dos técnicos das empresas. Que o Estado tenha o controle do comércio exterior; que os recursos não renováveis ​​sejam nacionalizados; que se deixe de pagar as dívidas externas ilegítimas; que os bens dos corruptos sejam confiscados; e que, com toda essa riqueza, exista um planejamento econômico com base nas necessidades populares e não no lucro dos grupos econômicos, estabelecendo um Plano Operário e Popular para começar a atender as demandas populares mais urgentes, com salários e aposentadorias dignas, trabalho para todas e todos e serviços públicos de qualidade, saúde, educação e habitação.

Nenhuma dessas medidas foi posta em prática. Pelo contrário, o atual governo vem aplicando há uma década, em acordo com Fedecámaras e com a complacência da burocracia sindical, um duro ajuste capitalista, que sujeita o povo trabalhador a salários de fome, ao mesmo tempo em que reduz os gastos sociais, fatos que, junto com a corrupção desenfreada, explicam a deterioração dos serviços públicos. Há mais de dois anos não aumenta o salário. Paga pontualmente a dívida externa. Entregou as empresas básicas a um consórcio indiano. E criminaliza os protestos, para dissuadir a mobilização operária e popular.

Na Venezuela o socialismo não fracassou porque nunca existiu. O que fracassou foi o projeto reformista de governar em acordo com os setores patronais, estabelecendo empresas mistas com empresários. Hoje estamos pagando o preço de não termos avançado para o socialismo quando havia possibilidades reais para isso.

É por isso que dizemos que nem o governo do falso socialismo de Maduro, nem o candidato da oposição burguesa e pró-imperialista, são uma alternativa para o povo trabalhador venezuelano. Nesse sentido, o PSL defende o voto nulo nas próximas eleições.

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