Grande ato de homenagem nos 50 anos do Massacre de Pacheco

Escreve Adolfo Santos, dirigente da Izquierda Socialista/ FIT Unidad

Com o auditório lotado da Faculdade de Ciências Sociais, a Izquierda Socialista/ FIT Unidad realizou uma grande homenagem no sábado, 1º de junho, nos 50 anos do Massacre de Pacheco. No dia 29 de maio de 1974, os militantes do Partido Socialista dos Trabalhadores (PST) Oscar “Hijitus” Mesa, 26 anos, delegado metalúrgico dos Estaleiros Astarsa, Antonio “Tony” Moses, 24, metalúrgico de Wobron, e Mario “el Tano” Zidda, 22 anos, jovem trabalhador têxtil e estudante da Escola Técnica Nº 1 de Pacheco, foram brutalmente assassinados. O ato teve uma grande repercussão porque, embora os acontecimentos de Pacheco tenham causado um grande impacto no nosso partido, significaram um duro golpe em todos os partidos de esquerda e forças democráticas do país, com o surgimento de gangues fascistas, como a Triple A [Aliança Anticomunista Argentina,
um esquadrão da morte de extrema-direita], durante o último governo de Juan Domingo Perón.

Foi um evento emocionante, em que se reuniram companheiras e companheiros militantes que então eram membros do PST. Cada um com suas experiências, mas todos com a mesma perspectiva: a luta pela emancipação da classe trabalhadora e por uma Argentina socialista. A emoção do reencontro estava presente. Os antigos camaradas juntaram-se às novas gerações, continuadores da corrente fundada pelo dirigente trotskista Nahuel Moreno na década de 40 do século passado.

Além dessa grande presença militante, houve manifestações de apoio e saudações, como dos economistas Claudio Katz e Eduardo Lucita, do sociólogo Eduardo Grüner, do conhecido historiador Felipe Pigna, do historiador Hernán Camarero e da deputada nacional e dirigente do PTS/ FIT Unidad Myriam Bregman. Esteve presente o historiador Ricardo De Titto, autor, entre outras obras, dos três volumes sobre a história do PST. Também estiveram presentes o historiador Martín Mangiantini e a dirigente histórica da corrente morenista e da Izquierda Socialista, Mercedes Petit. Chegaram mensagens escritas e gravadas de organizações e representantes dos Direitos Humanos e da luta em defesa do povo palestino. No início do evento foi feita uma merecida homenagem a Nora Cortiñas, lutadora das Mães da Plaza de Mayo – Linha Fundadora, falecida recentemente.

O ato foi coordenado pelas companheiras Mônica Schlotthauer, dirigente ferroviária, e Mercedes de Mendieta, professora, ambas deputadas nacionais eleitas e dirigentes da Izquierda Socialista. O evento de homenagem foi aberto por Miguel Sorans, dirigente da Izquierda Socialista e da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI), que foi o orador da Juventude Socialista Avançada (JSA) na homenagem de despedida aos camaradas em frente à sede central do PST em 1974. Sorans situou os acontecimentos de Pacheco no quadro da grande ascensão operária e popular desencadeada com o Cordobazo, em 1969. Em 1974, o governo, chefiado por Juan Perón, quis liquidar a qualquer custo tal ascensão, para impor um “pacto social” a serviço dos padrões. Em seguida, relatou a grande repercussão que tiveram os acontecimentos: apenas o General Perón não se pronunciou. E voltou a denunciar que os responsáveis pelos assassinatos, pelas mãos da Triple A, foram Perón, López Rega e a burocracia sindical de Lorenzo Miguel. Por fim, reivindicou a política de Nahuel Moreno, dirigente do PST, que fez um apelo à ampla unidade de ação para mobilizar e formar piquetes armados para enfrentar a Triple A e as gangues fascistas, acrescentando: “Com o fascismo não se discute, se combate nas ruas até que ele seja derrotado.”

Chegou então o momento de Jorge Ávila, histórico dirigente sindical do PST, que também foi orador na cerimônia de despedida dos três camaradas assassinados, enquanto liderava uma ocupação e uma greve na Propulsora Siderúrgica de Ensenada naqueles dias de 1974. Jorge lembrou o triste episódio de Pacheco, mas aproveitou para falar sobre a importância do partido naquela luta histórica protagonizada por ele. Foi o PST que o ensinou a consultar tudo com as bases e a decidir cada passo a seguir nas assembleias. Isso lhe permitiu conquistar o respeito de seus companheiros da siderúrgica.

Por sua vez, Laura Marrone, dirigente da Izquierda Socialista, apesar de ser muito jovem na época, trouxe-nos reflexões importantes sobre a abnegada militância do PST. Afirmou que neste 50º aniversário recordamos também outros quatro companheiros assassinados em 1974. Inocencio “Índio” Fernández, dirigente metalúrgico da Cormasa, foi atingido pelas balas de uma Ithaca ao sair de casa a caminho da fábrica no dia 7 de maio. E no mês de novembro, as gangues fascistas atacaram mais uma vez a nossa militância: Juan Carlos Nievas, operário da Nestlé; Rubén Bouzas, jovem estudante do ensino médio de Ramos Mejía; e Cesar Robles, dirigente internacional da corrente morenista e nacional do PST, que naquela época liderava a regional de Córdoba. Foi com mais sangue que a classe trabalhadora pagou a sua audácia de lutar contra o capitalismo e as gangues da Triple A do governo peronista.

Juan Carlos Giordano, dirigente da Izquierda Socialista e deputado nacional eleito, encerrou o ato. Giordano fez referência aos eventos de 1974 e comparou-os aos acontecimentos atuais, em que a classe trabalhadora, a juventude e os setores populares estão sofrendo um ataque brutal às suas condições de vida. E, embora as gangues fascistas ainda não estejam ativas hoje, disse ele, é necessária a mais ampla unidade de ação para enfrentar o desastroso governo de extrema-direita de Milei. Com base nisso, lembrou as recentes mobilizações e greves que estão ocorrendo e convocou a luta unitária para derrotar o plano “motosserra” do governo de extrema direita.

Em meio às intervenções, foram lidas mais saudações enviadas por dirigentes e diversos partidos da UIT-QI, como a Luta Internacionalista (LI), do Estado Espanhol, a Corrente Socialista das e dos Trabalhadores (CST) do Brasil, o Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST) da República Dominicana, o Movimento pelo Socialismo (MAS) do México, o Partido Socialismo e Liberdade (PSL) da Venezuela, o Partido da Democracia Operária (IDP) da Turquia, o MAS de Portugal, a Alternativo Revolucionária do Povo Trabalhador (ARPT) da Bolívia, o Partido dos Trabalhadores – Uníos do Peru, a Proposta Socialista do Panamá, o MST do Chile e o Movimento Liga Marxista Revolucionária (M-LMR) da Itália, recentemente incorporada à UIT-QI.

Cada uma das saudações foi recebida com grande entusiasmo pelos presentes, que cantaram a plenos pulmões durante todo o evento-homenagem contra o fascismo de ontem e de hoje e por uma Argentina e um mundo socialistas. E reivindicaram fortemente a figura do nosso mestre e fundador Nahuel Moreno. Tal como em 1974, o Massacre de Pacheco convocou-nos novamente e lá estávamos nós, agora com novo juramento, de que a queda dos nossos camaradas não foi em vão e de que vamos “lutar, lutar, com raiva até triunfar”, derrotando o plano ultra-direitista do governo Milei.

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