Todo apoio à greve da UEMG

Por Cindy Ishida – Educação em Combate BH

CS: Bom Duda, primeiro, muito obrigada por estar aqui conversando com o Combate Socialista. Atualmente, a UEMG, que é a Universidade Estadual de Minas Gerais, está em greve, não é mesmo? Você pode me falar um pouco, desde quando vocês estão em greve e quais as principais pautas?

Duda: Eu acho que começou no início deste mês, a greve. E aí assim, motivos não faltam, que foi até o slogan que a gente tinha pensado antes de estourar a greve, porque se a gente for parar pra olhar, eu acho que o nível de precarização da Estadual tá até pior do que as Federais, porque os professores têm um dos piores salários do Brasil, é uma das piores remunerações. E aí, tirando aquele reajuste que teve para o funcionalismo público no geral, eles estão sem recomposição salarial desde 2012. E aí também a verba que já era pouquíssima, ainda foi cortada. E a gente vê no dia a dia como que se refletem esses cortes, essa precarização, porque muitos alunos estão há dois meses sem ter aula de certas disciplinas, porque não tem professor e a UEMG se recusa a abrir concurso para professores. Hoje ele só contrata pelo programa de Processo Simplificado (contrato temporário). Então realocam professores de outras disciplinas em outras, que dá uma defasagem no ensino, assim, absurda, porque claramente o professor não está capacitado para aquilo ali (não tem formação de acordo com a disciplina que leciona), está ali “tampando buraco”. Técnicos administrativos também, e é papo de tipo assim, de ter 590 técnicos administrativos para o estado inteiro.

São 19.000 alunos do estado inteiro e 590 técnicos que fica tipo três alunos por um técnico administrativos. Os professores hoje em dia lá na UEMG, não podem tirar licença saúde ou maternidade, porque as gratificações não são incorporadas no salário. E aí se eles pegam esses benefícios, eles recebem salário abaixo do salário mínimo, tipo R$ 900, porque desconta! Então, a gente viu professora ir trabalhar com dengue, com conjutivite, porque não pode pagar o auxílio saúde, porque desconta no salário. Tanto que os técnicos administrativos, eles nem entraram de greve porque se eles entrarem de greve, eles não conseguem se manter com o salário que eles vão receber, né? E aí assim…

CS: Tá atendo corte de ponto para quem adere à greve? Eles estão descontando os dias parados do salário?

Duda: Acredito que sim. E aí a gente até mobilizou uma greve estudantil também, porque teve alguns professores que não aderiram à greve. Professores até que se posicionam como de esquerda, não aderiram à greve e aí a gente mobilizou os estudantes para fazer um diálogo com a diretoria e com a reitoria para que os estudantes não fossem prejudicados nesse período de greve, que não reprovasse nas matérias que vão continuar tendo aula, enfim.

CS: E qual que você acha que foi a importância do movimento de greve estudantil nesse processo?

Duda: Eu acho que além de prestar apoio aos professores, fortalece também a greve, e os técnicos também. E também porque não é justo, por exemplo, a gente sair prejudicado pelos professores que não aderiram. Cada um tem seus motivos para não aderir, a gente sabe muito bem, então assim, tem muitos alunos que estão ali faltando um ano para formar um semestre para formar, e aí reprova em matérias e passa mais tempo ainda tentando formar por causa de um professor que não aderiu à greve. E também garantir que as bolsas de auxílio e de permanência continuem sendo pagas durante a greve, e muitos outros benefícios dos estudantes garantir que não sejam cortados nesse período que a gente vai ficar parado.

CS: Os estudantes sim, então tem também pautas específicas, e era isso que eu queria perguntar: As pautas específicas dos estudantes dentro dessa greve, porque, né, a gente tem uma situação difícil de permanência, a assistência estudantil também é prejudicada por esses cortes.

Duda: A situação também é bem específica, porque são muitas unidades e cada uma vai ter reivindicações específicas, cada curso vai ter, só que tem algumas que são gerais. Por exemplo, aqui no prédio da Liberdade nós não temos bandejão, nós não temos restaurante universitário. Com muito custo eles contrataram uma empresa terceirizada para ser uma lanchonete e os preços são absurdos. O pão de queijo é R$3, um risole é R$6,80, então, assim, política de permanência tem o PAES que paga de auxílio moradia, de transporte. Mas o processo para conseguir acesso a essas bolsas é burocrático e não é muito amplo, porque a universidade não tem condições de pagar para muitos estudantes. Então as vagas são limitadas e aí não tem uma política mesmo de permanência estudantil. Você vê pela ausência de bandejão, gente, tipo assim, é absurdo. Tanto que foi aprovado um PL para colocar, e tem pouco tempo, tem dias, que foi aprovado a PL, e agora vai pro Zema para eles sancionar e tal e aprovar. Vamos ver o que ele vai fazer. Mas eu acho que eu acho que essa questão do restaurante é uma das mais importantes, porque assim, a gente sabe que nas faculdades que tem restaurante, tem muitos estudantes que vão só para comer, sabe? E aí aqui não tem. Transporte também, o auxílio ele é aquilo: são poucas pessoas. E também mais políticas de permanência também, né? Por exemplo, não se fala em auxílio para as pessoas trans, que eu acho que seria super importante de ter presente, e então teria que reforçar e ampliar as políticas de permanência estudantil.

CS: Boa parte da justificativa do governo estadual a respeito dos cortes no funcionalismo estadual em geral está atrelado aí, com a política de regime de recuperação fiscal, como o movimento de greve da UEMG, de ver o regime de recuperação fiscal e quais as reivindicações em torno disto?

Duda: É uma grande hipocrisia, porque realmente, a justificativa do Zema é que se aumentasse o salário dos professores e desse mais assistência para universidade, ele ultrapassa o orçamento do Estado. Só que quando a gente olha que ele aumentou o próprio salário em 300%, isso fica meio: “Não tem dinheiro para quem?” Porque né? Então pra algumas coisas não tem essa questão do orçamento né? Para outras têm, que são as políticas públicas, então a gente está reivindicando que ele cumpra.

Assim, não tem diálogo também né? Eu fui na Assembleia que teve antes da greve e o que acontece hoje é que a gente chega lá e os representantes do governo já dizem não, de cara, a gente fica 4 horas apresentando as reivindicações. Foi uma boa parte dos estudantes também para fazer parte, para colocar (as reivindicações). E aí os representantes (do governo) ficam com aquela cara assim, escutando as 4 horas pra no final virar e falar assim: nós não podemos aumentar porque ultrapassaria o limite e é sempre a mesma coisa. Então assim, se não tivesse como mesmo ele (Zema) não teria aumentado o salário dele em 300%.

CS: O Diretório Central de Estudantes da UEMG, hoje é dirigido pelo Levante Popular da Juventude (majoritária da UNE). Como tem sido a condução desse setor e a direção do DCE?

Duda: Como eu falei, a UEMG é toda quebrada, porque cada lugar tem uma unidade, então assim é complicado. Quando você tem um Campus, eu acho que é mais fácil de você mobilizar e tudo mais, só que o que acontece mesmo, é que em relação à mobilização estudantil, não se vê quase nenhuma, nenhuma, principalmente do DCE, sabe? Eu só vi o pessoal do DCE quando teve eleição, que eles foram nas unidades. É né, se eles conseguem ir nas unidades quando tem eleição, porque é que eles não conseguem ir nas unidades para mobilizar, para levar a galera para a Assembleia? E aí uma das coisas que a gente colocou foi que da última assembleia que teve os professores falaram que é muito difícil, porque os estudantes não se mobilizam pra ir, para fazer pressão, pra poder participar. E aí eu falei “pô, seria mais fácil se eles tivessem uma política que garantisse transporte, alimentação para estudantes”. E aí foi eu e uma amiga minha que a gente mobilizou, conversou com o pessoal da ADUEMG (Sindicato dos professores da UEMG), e conseguiu pagar e restituir os estudantes da passagem, e teve almoço. Só que isso foi iniciativa nossa de estudantes independentes, o DCE nunca se mobilizou pra nada, sabe? E nem o DA também. É claro que o DA também fica envolvido com políticas, com coisas mais internas, assim…

CS: O DA é dirigido por qual força?

Duda: Do Juntos!, porque a única mobilização política dos estudantes que tem na UEMG que pelo menos no meu prédio. E eles também, agora que estourou a greve, começaram a se movimentar tanto pra organizar a greve estudantil. Mas antes disso nada se fazia, praticamente nada, e acredito que se não tivesse estourado a greve nas federais, acho que a UEMG também não estaria de greve, por mais que a gente tivesse ainda mais motivos de que a Federal, não tinha uma movimentação dos estudantes, os professores estavam lá tentando, mas é difícil, porque até dentro da própria classe tem muita, muita divergência. Os professores não concordam entre si, também. Falta muita união, sabe? E aí é difícil, eu acho que é essa instituição que deveria buscar essa questão de garantir transporte, alimentação para os alunos participarem dos atos, das mobilizações, e não tem.

CS: Eu sou professora da Rede Estadual de Minas Gerais e algumas das questões que vocês passam aí na UEMG é o que a gente também passa na Rede Estadual da Educação Básica, né? Eu queria colocar também que a gente tá em processo de campanha salarial do funcionalismo estadual como um todo. A mobilização da UEMG entra aí, nesse momento. Como vocês, estudantes da UEMG, veem a questão da construção de datas unificadas pelo funcionalismo estadual nesse período?

Duda: Então, eu acho que é muito importante que a gente possa mobilizar, eu até achei que teve uma boa quantidade de estudantes, teve um ato na Assembleia que colou bastante gente, bastante estudante e bastante professor. Só que acho que ainda é pouco, considerando o nível e o tamanho da UEMG, do estado e tudo… Só que pra gente poder pensar nessa unificação, tem que tem a ver com essas coisas também: Essa política de oferecer transporte, alimentação e ter uma união mesmo entre as entidades para poder promover isso, sabe? Mas acho que seria muito importante.

CS: Teve uma única manifestação unificada, dia oito.

Duda: Que o pessoal foi para a Assembleia (Legislativa de MG), né? Então, eu acho que teve até bastante, comparando com o que tinha antes. Foi muito grande, porque antes não tinha nada, era coisa de tipo, dois estudantes irem assim, o que então, assim, melhorou por causa da mobilização da greve. Quando começa a falar de greve, todo mundo começa a ficar preocupado né? Porque atrapalha na graduação e tal, e aí o pessoal até se mobilizou, mas ainda acho que precisa de mais, principalmente considerando a resistência que o governo está tendo. Não tem diálogo. Zema mesmo diante da greve, ele foi lá, se posicionou e falou: “Se vocês acham que o Estado paga pouco, vocês podem trabalhar na iniciativa privada.” que é exatamente o que ele quer né? Enfraquecer a universidade para privatizar.

CS: Ele falou exatamente a mesma coisa para a gente na mesa de negociação dos professores da rede básica. Enfim, é isso. A gente vê que é possível construir boas iniciativas unificando tanto a campanha salarial da educação superior do Estado com a galera da educação básica, que nós também estamos em mobilização. Inclusive, teremos uma assembleia com indicativo de greve e uma das questões que a gente da Combate tem trazido é essa importância, que a gente acha que deveria ser construída pelo SindUTE (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais), que é o nosso sindicato, de uma unificação dessas greves do Estado.

Duda: Muito importante.

CS: É muito bom conversar com você hoje e gostaria de agradecer, o Combate Socialista e nós da CST estamos à disposição da greve da UEMG.

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