Venezuela: Partidos da esquerda proscrita se manifestam sobre as eleições de #28J

Partidos da esquerda proscrita se manifestam sobre as eleições de #28J

 

Por Laclase.info

 

Publicamos a declaração das organizações de esquerda PPT-APR, Marea Socialista, Partido Socialismo e Liberdade (PSL) e Liga de Trabajadores por el Socialismo (LTS) [Liga dos Trabalhadores pelo Socialismo], que realizaram uma conferência de imprensa no dia 25 de abril. Na conferência, anunciaram a decisão de pedir voto nulo nas eleições de 28 de julho, apresentando o documento unitário que fundamenta a sua posição política.

 

Angel Arias, da LTS, apresentou um resumo do documento acordado entre as quatro organizações, seguido de intervenções de representantes do PSL, PPT/APR, Marea Socialista e do grupo feminista Mujeres en Lucha (PSL e independentes) [Mulheres em Luta].

 

Seguem abaixo o documento completo e as intervenções dos representantes das organizações.

 

 

DECLARAÇÃO UNITÁRIA

 

O governo está preparando eleições sob medida para os seus interesses. São várias as organizações que tiveram seus direitos políticos violados pelos mais diversos procedimentos e manobras: intervenção judicial, recusa de registro, ausência de respostas administrativas às solicitações e inelegibilidades pessoais.

 

As condições impostas pelo governo impediram que a Plataforma Unitária registasse María Corina Machado e sua primeira suplente, permitindo-lhe registar apenas um segundo suplente, Edmundo González Urrutia. Também impediram a apresentação de qualquer candidatura localizada à esquerda, para evitar que se expressassem eleitoralmente vozes que questionassem a farsa do governo “operário” e do falso “socialismo” de Maduro.

 

Somos contrários às proscrições e defendemos o direito democrático do povo venezuelano de decidir em quem votar, sem que os candidatos sejam impostos pelo governo. Porém, denunciamos que, apesar das restrições anti-democráticas, todas as correntes patronais terão candidatos, mas não a esquerda que questiona a exploração dos trabalhadores e as desigualdades do capitalismo. Com isso, procura-se silenciar as vozes daqueles que se opõem consequentemente a políticas que só beneficiam os patrões, os ricos de sempre e os novos-ricos.

 

Nem o governo e o seu candidato nem aqueles apresentados pela oposição patronal são uma opção para quem vive do próprio trabalho

 

Todos os candidatos representam os interesses dos empresários, das transnacionais e dos burocratas que enriqueceram a partir do controle das receitas do petróleo. O cenário é de disputa entre um governo amplamente repudiado, que está empenhado em permanecer no poder a todo custo, e a oposição patronal, anti-operária e pró-imperialista, que busca recuperar o controle do Estado e gerir o capitalismo venezuelano.

 

 

A dívida externa pesa dramaticamente sobre as condições de vida das maiorias; para pagá-la, é retirado dinheiro da saúde, da educação, dos salários e de outras necessidades básicas. Foi isso que Maduro fez. E a oposição patronal quer fazer o mesmo, mas sob a tutela do FMI e dos Estados Unidos.

 

O governo, os partidos patronais e os empresários concordam com a destruição dos direitos trabalhistas e com a imposição de condições de super-exploração aos trabalhadores. Essa aliança anti-operária não é questionada por nenhum dos candidatos da oposição.

 

 

O governo aprofundou o seu compromisso com os setores religiosos anti-direitos, que se opõem às exigências das mulheres e da comunidade sexo-diversa. E nenhum candidato da oposição questiona essa aliança regressiva. A violência policial contra a juventude dos bairros populares é aplicada pelo governo, mas endossada por todos os partidos da oposição patronal.

 

Se os partidos capitalistas que hoje estão na oposição voltarem a governar, continuarão a aplicar medidas anti-operárias e anti-populares, com a desculpa de que o governo de Maduro deixou o país quebrado e de que teremos que seguir apertando os cintos. E essas políticas não serão implementadas sem repressão.

 

Não nos representam!

 

Nesse contexto, várias organizações políticas de esquerda acordaram promover uma campanha unitária para denunciar as restrições às liberdades políticas e democráticas, e particularmente às aplicadas à esquerda, bem como apresentar uma posição de independência política dos/as trabalhadores/as nas próximas eleições presidenciais.

 

 

Compreendemos o cansaço do povo com um governo profundamente repressivo e corrupto, que tem aplicado um ajuste econômico brutal durante uma década. Compartilhamos do repúdio a um regime que levou as condições de vida do povo trabalhador a níveis trágicos. Sabemos da confusão gerada pelo chavismo, que se apresenta como “socialista” ao mesmo tempo em que destrói salários e direitos trabalhistas, com medidas que só beneficiam patrões, comerciantes, transnacionais, empresários e banqueiros.

 

O cansaço e a confusão podem levar setores do povo a buscar qualquer via para remover o atual  governo. Também queremos que esse desastre acabe. Porém, consideramos errado votar nos nossos algozes. Os nossos problemas não terminarão apenas com a saída de Maduro. O problema central é o sistema econômico e social, em que prevalecem os interesses dos empresários e das transnacionais. É por isso que não podemos aceitar acriticamente um novo messias, que represente interesses de classe semelhantes aos do atual governo.

 

 

Nesse sentido, não compartilhamos a posição de algumas organizações que se dizem de esquerda, bem como de ex-ministros de Chávez e de alguns indivíduos provenientes do chavismo, que estão chamando o voto no candidato da Plataforma Unitária ou em outras variantes da oposição patronal, com o argumento de que é o “mal menor”, para se livrar de Maduro. Com lógica semelhante, há setores do chavismo crítico que defendem que o “mal menor” é a permanência de Maduro, dada a possibilidade de vitória do candidato da oposição pró-imperialista. Também não partilhamos dessa posição. Não votaremos naqueles que destruíram os direitos econômicos e sociais da classe trabalhadora e que nos perseguiram ou prenderam quando lutarmos por tais direitos. Não se trata de escolher entre duas opções reacionárias.

 

Por um programa operário e popular de emergência, conquistado com a mobilização dos trabalhadores e do povo pobre

 

Perante a crise do capitalismo venezuelano – pela qual os trabalhadores estão sendo obrigados a pagar –, com o ajuste econômico do governo, a corrupção, a fuga de capitais e as sanções imperialistas, a única alternativa progressiva e de fundo é recuperar a capacidade de luta por um plano econômico operário e popular de emergência, que inverta as prioridades; que, em vez de continuar a descarregar a crise nas costas dos trabalhadores e dos pobres, atinja os interesses dos patrões, das transnacionais e dos empresários nacionais e daqueles que se enriqueceram com a corrupção a partir do Estado.

 

– Por salário-mínimo e pensões equivalentes à cesta básica. Chega de bonificação salarial. Revogação do Memorando 2792 e das Instruções da Onapre. Respeito aos contratos coletivos.

 

– Pela reintegração dos demitidos, dos suspensos e dos “não requisitados”.

 

– Liberdade plena para os trabalhadores e as trabalhadoras presos/as ou processados/as. Não à criminalização dos protestos operários e populares!

 

– Defendemos intransigentemente as liberdades do povo trabalhador: pelo direito de expressão, pelas liberdades de imprensa, de mobilização e de organização sindical e política. Pelo respeito ao direito de greve.

 

– Basta de sanções imperialistas! Devolução dos bens nacionais confiscados!

 

– Contra a política de “segurança” imposta aos jovens nas comunidades populares.

 

– Por plenos direitos econômicos, sociais, sexuais e reprodutivos das mulheres.

 

– Plenos direitos para a população sexo-gênero-diversa (LGTBIQ+).

 

– Não ao pagamento da dívida externa! Não aos gastos militares e com a repressão! Que esses recursos sejam utilizados em saúde, educação, habitação, salários e outras necessidades básicas.

 

– Nenhum imposto para os trabalhadores! Abaixo o IVA! Impostos pesados ​​sobre os lucros, as rendas e as grandes fortunas.

 

– Repatriação forçada de todo o dinheiro retirado do país por banqueiros, empresários e altos burocratas.

 

– Não à privatização da indústria petrolífera, das empresas básicas e de outras empresas públicas. Elas devem ser 100% estatais, sem transnacionais ou empresas mistas, e geridas pelos seus trabalhadores, profissionais e técnicos.

 

Para além das eleições, apelamos à mobilização e ao fortalecimento da batalha pela organização política independente da classe trabalhadora, a única força social que, com o seu próprio programa, pode apresentar uma solução progressiva para a crise atual.

 

Defendemos o voto nulo, em repúdio às restrições às liberdades democráticas do povo trabalhador, contra a proscrição da esquerda e como maneira de forjar uma alternativa político-eleitoral da classe trabalhadora. Não depositamos qualquer confiança ou apoio político a candidatos que não representam os interesses dos assalariados.

 

A classe trabalhadora precisa de uma alternativa política que represente verdadeiramente os seus interesses. Nossa perspectiva estratégica é a luta por um governo dos trabalhadores e do povo pobre. A classe trabalhadora deve governar!

 

Caracas, 25 de abril de 2024.

 

Patria Para Todos (PPT-APR), Marea Socialista (MS), Partido Socialismo y Libertad (PSL), Liga de Trabajadores por el Socialismo (LTS)

 

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