As origens Socialistas do 8 de Março

No ocidente, a luta feminista tem dois capítulos fundamentais: as lutas do final do século 19 e começo do século 20 e as lutas de 1968 e começo de 1970. Nessas duas grandes ondas, mulheres burguesas e operárias participaram, acompanhando sua classe.
De um lado, as mulheres burguesas lutavam pelo voto feminino, mas somente para aquelas mulheres que possuíam propriedades. Do outro lado, as trabalhadoras exigiam melhores condições de trabalho e o voto universal.

Marxismo: instrumento indispensável à luta feminista

 

Na França, em 1840, Flora Tristán (ativista feminista, escritora e socialista) foi uma das primeiras a propor que a luta das mulheres devia estar unida às lutas da classe trabalhadora. A partir desse período, as mulheres começaram a se organizar na “União de Trabalhadoras”, no “Círculo de lavadeiras” e outras organizações e conquistaram importantes direitos.

As lavadeiras conseguiram a diminuição de sua carga diária de trabalho de 14h para 12h. As mulheres também conquistaram o direito de representar seus próprios interesses no seio do poder público.

O crescimento da classe operária e suas organizações trouxe consigo a organização das mulheres em sindicatos, para defender-se da brutal exploração. A Associação Internacional de Trabalhadores, fundada por Marx e Engels, cumpriu um papel decisivo no impulso às reivindicações das mulheres trabalhadoras, o que se refletiu na filiação de importantes grupos de operárias.

Desde o Manifesto Comunista (1848), é colocado o objetivo de lutar pela plena igualdade da mulher no Socialismo, apontando para o movimento Marxista um norte explícito na luta contra a opressão feminina.
O Socialismo continuou essa luta de forma consequente, e Marx e Engels dedicaram parte de seus escritos e elaborações à questão da opressão das mulheres.

Em 1907, a II Internacional, seguindo a tradição da Primeira Internacional, aprovou a campanha pelo sufrágio universal sem distinção de sexo, recusando, assim, qualquer concessão ao oportunismo dos partidos liberais que temiam o voto para a mulher. Para ler mais sobre esse assunto, adquira com uma de nossas militantes a cartilha “Feminismo e Marxismo: a história das lutas das mulheres”.

O mito do incêndio

 

Se você é mulher, certamente já ouviu falar da história de que a data do 8 de Março surgiu em homenagem às trabalhadoras estadunidenses que, em greve, foram trancadas dentro de uma fábrica têxtil em chamas.
De fato, houve greve e houve um incêndio, mas a versão de que esse seria o embrião da data é falsa.

Em março de 1911, a fábrica “Triangle Shirtwaist Company”, pegou fogo. Com algumas portas trancadas e um ambiente com tecidos, facilitando a propagação do fogo, muitas pessoas não conseguiram escapar, a maioria mulheres. Dois anos antes, as operárias dessa mesma fábrica fizeram uma forte greve. Em fevereiro de 1908, mulheres socialistas dos Estados Unidos organizaram uma manifestação, chamada de Dia das Mulheres, reivindicando melhores condições de trabalho e o direito ao voto.

Por que o dia da Mulher é celebrado no dia 8 de Março?

 

O que existe documentado é que em 1910, Clara Zetkin propôs um “Dia Internacional da Mulher”, durante o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, na Dinamarca. Clara propôs comemorar o dia da Mulher na data já tradicional da causa operária, o 1ª de maio, mas sua proposta não foi aceita pelo Congresso, que entendeu que o dia das mulheres devia ser comemorado em um dia específico.

Em 1913 foi adotado o 8 de março e a data foi comemorada na Rússia, apesar da brutal repressão czarista.

Em 1917, as Socialistas realizaram seu dia das mulheres em 23 de fevereiro, o equivalente ao 8 de março no calendário juliano, levando para as ruas a bandeira contra a guerra. Foi nesse dia que explodiu a greve espontânea das tecelãs de Petrogrado, que deu o pontapé inicial na Revolução de Fevereiro.
Essas trabalhadoras conquistaram o que nenhuma revolução burguesa havia dado até então. O Estado operário garantiu igualdade jurídica e política a mulheres e homens, o direito ao divórcio, ao aborto, a construção de creches, restaurantes e lavanderias públicas, e consolidou, em 1922, o dia 8 de março como o dia internacional das mulheres.

Infelizmente, o triunfo do stalinismo e a burocratização do Estado soviético a partir de 1923 interrompeu esse processo, como consequência, diversas conquistas das mulheres foram revogadas, como o direito ao aborto. Nesse período, o movimento trotskista denunciou e lutou contra a degeneração do Estado soviético.

Já em 1975, a burguesia, através da ONU, reconheceu oficialmente a data, buscando dar respostas à luta das mulheres que se gestavam naquele período.

A Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI) defende o caráter combativo do 8M, que tem sido retomado com chamados internacionais à greve de mulheres, manifestações por igualdade salarial, fim da violência machista, pela legalização do aborto e contra a cultura do estupro.

Nós seguimos em luta, por um mundo socialista, sem patrões, opressão e exploração!

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