Itália: greve operária e estudantil em apoio ao povo palestino

Lukas Vergara, militante da Tendência Quarta Internacional (parte do PCL – Partido Comunista dos Trabalhadores)

No dia 23 de fevereiro, o movimento estudantil italiano, junto com os sindicatos de base, saiu às ruas em apoio ao povo e à resistência palestina. As pautas da classe trabalhadora se mesclaram com as reivindicações do povo palestino, no contexto da rejeição da economia de guerra. Enquanto os trabalhadores continuam a ter perdas reais nos salários, dizimados pela inflação, as fábricas fecham e a insegurança no emprego aumenta, o governo de Meloni desenvolve uma economia centrada nos investimentos militares, eliminando o IVA na produção de armas: muito dinheiro subtraído dos serviços sociais, das pensões, da atenção à saúde e do sistema escolar.

A mobilização de 23 de fevereiro – promovida, entre outros sindicatos de base, por USB [União Sindical de Base] e SI Cobas [Sindicato Inter-categorias – Confederação de Comitês de Base] – caracterizou-se por ter um objetivo puramente político. O slogan foi: “Parem o genocídio”, respondendo ao apelo da juventude palestina. O alvo perseguido com a greve do dia 23 e a manifestação nacional do dia 24 de fevereiro em Milão foi pressionar por um cessar-fogo imediato. Isso porque a guerra – além de atingir a população palestina, com uma nova Nakba [1] – corre o risco de incendiar o mundo e destruir as condições de vida dos trabalhadores e do povo. A relação entre a participação italiana nos teatros de guerra e o ataque às condições de vida dos trabalhadores foi também o fator que levou o movimento estudantil, os trabalhadores do futuro, a entrar em campo com as manifestações. E aqui a atitude agressiva do governo Meloni se expressou claramente, com os métodos repressivos da polícia, que atacou violentamente estudantes secundaristas nas manifestações em Pisa e Florença.

Foi um verdadeiro abuso de poder e uma gestão autoritária do espaço público, a tal ponto que Sergio Mattarella, presidente da República Italiana, teve que escrever uma nota de protesto contra a ação policial dirigida ao Ministro do Interior, Piantedosi. Uma resposta extraordinária veio da população de Pisa que, chocada com as imagens de violência contra os estudantes indefesos que queriam entrar pacificamente na Piazza dei Cavalieri, decidiu sair em defesa dos manifestantes. Na tarde de 23 de fevereiro, a Piazza dei Cavalieri ficou lotada de gente e a polícia não pôde fazer nada além de abrir a praça aos cidadãos. O movimento operário italiano avançou no sentido de retomar as lutas e estendê-las a outros setores, como o estudantil, sacudindo uma letargia que já durava anos. O governo Meloni, por outro lado, sofreu um claro revés, dado que os efeitos das suas políticas anti-operárias começaram a ser sentidos pela população. Não foi por acaso que, apesar da demissão do diretor da polícia de Pisa, Giorgia Meloni reiterou o seu total apoio aos policiais, instrumento de repressão do Estado burguês. Foi por isso que o comissário de polícia de Pisa – personagem sórdido, protagonista da repressão e da violência no G8 de Gênova em 2001 – se manteve no cargo, como parte dos dirigentes da burocracia estatal. Uma ausência lamentável da greve do dia 23 foi a das confederações sindicais, em primeiro lugar a CGIL [Confederação Geral Italiana do Trabalho], que com seu peso em termos de organização e de filiados daria maior impulso ao novo período de lutas na Itália. Mas a burocracia sindical das confederações não parece demonstrar vontade, até agora, de desenvolver uma luta sindical também dirigida à esfera política, mesmo que seja promovida pelo movimento real dos trabalhadores, dos precarizados e dos estudantes. E é também por isso que dias como o 23 de fevereiro têm uma importância social tão significativa.

29 de fevereiro de 2024.

Notas:

[1] O equivalente palestino da palavra hebraica Shoah, Holocausto.

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