Caiu a “Lei ônibus”: um triunfo popular!
Escreve Juan Carlos Giordano, deputado nacional eleito pela Izquierda Socialista/ FIT Unidad.
Uma vez conhecida a notícia, a militância reunida na Plaza de los dos Congresos explodiu de alegria, algo que também ocorreu em grande parte do país, contando com uma simpatia popular generalizada, que se expressou em buzinaços e panelaços. “Unidade dos trabalhadores, quem não gosta, está ferrado, está ferrado”, cantou-se. Não é para menos. Sentimo-nos parte desse grande passo que foi alcançado.
O pedido de “retorno à comissão” foi a forma elegante do governo tentar encobrir uma derrota retumbante, já que tudo voltou à estaca zero. “Derrota difícil para Milei”, “Milei sem Lei” e “O governo sofreu um forte revés” são algumas das manchetes dos jornais de hoje. Um fato inédito, pois foi a derrota da primeira Lei proposta por um governo recém-eleito. Os apelos de Pichetto em socorro ao governo chegaram tarde. Dos 644 artigos, restaram 300. A Lei é tão brutal que até os/as deputados/as ligados/as aos governadores (os mesmos que aplicam o ajuste em suas províncias) acabaram retirando o apoio à grande parte de seus artigos. Tais governadores do “diálogo” – que não têm nenhum disputa de fundo com o governo – defendem os grandes empresários e são contra os trabalhadores. Até a direitista Carolina Píparo votou contra um artigo. A sorte estava lançada. O tudo ou nada levou o governo de extrema direita ao fracasso.
Um jornalista do TN disse ontem à noite: “Milei está em chamas”. O presidente foi notificado do resultado às três da manhã e começou a twittar desesperadamente. Ele estava em Israel, apoiando o genocídio sionista contra o povo palestino.
Milei disse que “a casta se colocou contra a mudança que nós, argentinos, votamos nas urnas”. A mesma desculpa de sempre, mas que agora está fazendo água. Em primeiro lugar, porque grande parte do que Milei chamou de “casta” – políticos patronais ativos da ditadura até hoje – estão integrados ao seu governo. Em segundo lugar, porque, embora milhões de pessoas, fartas do governo anterior, tenham votado erroneamente em Milei, acreditando que poderia haver uma mudança positiva, dois meses depois começaram a ver que nada mudou. Ocorreu o oposto. Milei intensificou o ajuste que já vinha sendo aplicado pelo governo anterior de Alberto Fernández, Cristina e Massa.
Ontem vimos na televisão o repúdio popular dos entrevistados ao aumento desenfreado de 250% dos transportes públicos em AMBA. Os salários perderam 13%, em termos reais, em dezembro. O próprio governo reconheceu que a pobreza já chegou a 50%. São consequências da estagflação anunciada por Milei a serviço do FMI, ou seja, uma recessão com inflação desenfreada, alimentada pelo próprio governo, que deu rédea solta à “liberdade de preços” e ao aumento das tarifas de electricidade e de gás, com a consequente e inédita desvalorização súbita dos salários e das aposentadorias.
A Lei caiu em meio ao crescimento do protesto social. No dia 24 de janeiro, houve uma greve, com grande mobilização, que foi imposta aos dirigentes da CGT. Os protestos começaram em 20 de dezembro, com a ocupação da Plaza de Mayo contra o protocolo repressivo de Bullrich realizada pelo sindicalismo combativo e pela esquerda. Depois houve o panelaço e a marcha da CGT até os Tribunais no dia 27 de dezembro. Ampliaram-se as assembleias de bairro e os espaços unitários nacionais, como Unidos pela Cultura. Diferentes iniciativas de luta foram tomadas em alguns locais de trabalho contra as demissões e contra os cortes nas ferrovias pelo Corpo Combativo de Delegados Ferroviários de Sarmiento. Ocorreram greves em Bridgestone contra as demissões etc. Tais lutas e a crescente agitação social foram essenciais para forçar a reversão da Lei.
“A votação ou não da Lei não vai mudar o rumo da economia”, disse o ministro da economia macrista, Luis Caputo. Isso é claro. O governo não vai mudar. É por isso que devemos aproveitar essa derrota do governo para fortalecer a luta contra o ajuste e a repressão, mostrando que podemos vencer. Devemos continuar a luta contra qualquer tentativa do governo de voltar com a “Lei ônibus”, contra o DNU e contra todo o plano motosserra; contra o aumento das tarifas, contra as demissões e, fundamentalmente, por um aumento imediato de salários e aposentadorias. Por tudo isso, devemos continuar a exigir da CGT e da CTA uma nova greve geral e um plano de luta nacional. A CGT sumiu após a greve do dia 24, quando Daer disse: “vamos continuar a luta”. A CGT não esteve presente nos principais dias de concentração popular em frente ao Congresso, em que os/as lutadores/as e a esquerda repudiaram o início da tramitação da Lei e foram reprimidos. Em cada local de trabalho, assembleia e marcha devemos continuar a fazer tal exigência.
Nós, da Izquierda Socialista, saudamos os/as lutadores/as por essa grande vitória. Reivindicamos o papel da Frente de Izquierda Unidad, com sua bancada brigando no Congresso e nas ruas. Enquanto isso, o peronismo deu votos a Milei, como o dos tucumanos; Scioli ingressou no governo; e apenas alguns líderes sindicais do kirchnerismo participaram timidamente do ato na quinta-feira, dia 1, mas sem convocar uma mobilização para derrubar a Lei. Defendemos o fortalecimento da Frente de Izquierda, com políticas unitárias; um plano econômico operário e popular; a ruptura com o FMI; o não pagamento da dívida externa; e um governo dos/as trabalhadores/as e da esquerda, rumo a uma Argentina socialista. Tudo isso mantendo a guarda alta, para seguir enfrentando o plano motosserra de Milei.
7 de fevereiro de 2024