Lenin e a Luta Contra a Burocratização do Estado Operário
Centenário da Morte de Lenin
A Luta Contra a Burocratização do Estado Operário
por Gabriel Bento e Naziel Kalil, militantes da CST
Vladimir Ilyich Ulyanov, imortalizado como Lenin, foi um marxista russo que liderou a revolução soviética e que segue sendo uma das figuras mais marcantes da história da luta de classes mundial. Lenin integrou a revolução que enterrou o regime absolutista na Rússia e criou o primeiro Estado Proletário na História. Suas formulações teóricas acerca do sistema capitalista do século XIX e início do século XX, suas contribuições teóricas e práticas ao marxismo mundial e desenvolvimento do modelo organizativo do partido revolucionário (centralismo democrático) o colocam no centro dos debates até a atualidade. Seu legado teórico nos auxilia a analisar e intervir sobre o momento presente, partindo dos acúmulos históricos e intervenções bem sucedidas.
Para fins de breve contexto, a Revolução Russa explodiu em 1917, tendo como estopim uma greve de trabalhadoras em meio ao desgaste político e socioeconômico do Império Russo, agravado pela retirada das tropas da Primeira Guerra. A Rússia, país mais atrasado da Europa, sob a direção de Lenin, saltou de um país praticamente feudal para uma democracia operária, para a surpresa de vários marxistas que acreditavam em obrigatórias etapas de desenvolvimento do capitalismo para tal evento.
Lenin sempre demonstrou preocupação profunda com inúmeras questões pelas quais a realidade impunha suas dificuldades e travou várias lutas no interior do partido, onde, embora sua voz sempre fosse extremamente importante, era necessário o convencimento da militância do partido para ação, na qual as linhas eram debatidas e não derramadas como uma voz imperativa e não questionável como os stalinistas costumam desenhar.
Lenin acreditou na classe trabalhadora mais que qualquer marxista ou pseudointelectual à esquerda em sua época. Sob a organização dos bolcheviques declarou todo apoio aos sovietes e a todos os órgãos da classe e com seus panfletos e discursos inflamou multidões que se tornaram motores de sua própria libertação.
Consumada a revolução, Lenin continuou a elaborar, debater e escrever suas teses, ajudou a instituir o modelo de produção (taylorismo soviético), avançou na planificação da economia (a qual debatia com a classe trabalhadora que, através de sua necessidades, orientava o processo de produção e distribuição de recursos) e se envolveu com a polêmica NEP (necessidade forçada por situações objetivas extremas no contexto russo), que continua sendo distorcida como regra determinada, e não uma medida de situações extremas, por movimentos intitulados marxistas e defensores do modelo chinês atual de economia.
A jovem URSS à época passou por situações extremas, com o isolamento da revolução e após sofrer com as mortes e destruições devido à guerra contra a coalizão internacional de Estados burgueses (conhecida como “Exército Branco”). Frente às guerras de resistência e com perdas humanas impactantes, o Estado começou a ser penetrado por burocracias e ex-agentes do Czar, já que a grande maioria no país ainda era analfabeta. Membros do Estado começaram a adquirir muito poder e essa nova burocracia formada da contradição histórica começou a se amplificar e tomar forma na figura de Stalin, que, ao contrário do que se propaga, representava um grupo que disputou os rumos da URSS e não somente um homem.
Lenin adoeceu e se iniciou o debate interno entre as teorias que definiriam os rumos da União Soviética: “O socialismo em um só país” dos burocratas e a “Revolução Permanente” levantada por Trotsky.
Lenin, já adoecido, mas preocupado com esse setor burocratizado, escreveu o texto que ficaria conhecido como seu “Testamento” (Carta ao XII Congresso), ressaltando a necessidade de combater a burocratização em curso e fazendo a proposta da realocação de Stalin para outro cargo e instauração de um novo Secretário-Geral, o que foi ignorado pela nova burocracia que figurava inicialmente em Kamenev, Zinoviev e Stalin.
“O camarada Stalin, tendo chegado ao Secretariado Geral, tem concentrado em suas mãos um poder enorme, e não estou seguro que sempre irá utilizá-lo com suficiente prudência. Por outro lado, o camarada Trotsky, segundo demonstra sua luta contra o CC em razão do problema do Comissariado do Povo de Vias de Comunicação, não se distingue apenas por sua grande capacidade. Pessoalmente, embora seja o homem mais capaz do atual CC, está demasiado ensoberbecido e atraído pelo aspecto puramente administrativo dos assuntos.” (http://cstpsol.com/home/dl/Vladimir%20Lenin/Carta%20ao%20Congresso.pdf).
Após a morte de Lenin, e com a acumulação de poder entre os burocratas, carreiristas e conservadores, ocorreu a expulsão de Trotsky da União Soviética, o que mais tarde culminou na ordem de seu assassinato, consumado em 1940 (fato o qual Stalin se arrependeu permanentemente por não tê-lo realizado antes), e Stalin eliminou seus demais opositores, acabando com a velha guarda bolchevique, militarizando sindicatos, desmontando o instituto Marx e Engels (pesquisa), desmontando direitos das mulheres (como o aborto) e fechando o Jenotdel (primeira organização histórica de mulheres).
Com a vitória dos burocratas, entrou na ordem do dia o “socialismo em um só país”, colocando os partidos comunistas ao redor do mundo como meras extensões do Partido Comunista da União Soviética, e não mais organizações que pretendiam fazer a revolução socialista se expandir a nível global. Tal programa ia frontalmente contra o projeto bolchevique de impulsionamento de revoluções ao redor da Europa, inspiradas na sua tomada do poder na Revolução de Outubro. Além disso, desenvolveu-se a ideia de que o partido, tal como composto sob as ordens de Stalin, era a verdadeira e pura continuidade histórica e política de Lenin sob o termo de “marxismo-leninismo”, dando aos reformistas e burgueses a propaganda que precisavam para a demonização do socialismo revolucionário, afinal este consenso se encontra entre liberais e stalinistas.
Lenin nos deixou aos 54 anos e com acúmulos incríveis a todos os marxistas mundiais. Vários tentam convertê-lo em uma figura ultrapassada, outros dizem que suas ideias são apenas um futuro distante e a grande maioria tenta moldá-lo como um homem determinista, cheio de fórmulas e respostas prontas, já que seu legado foi deturpado pelo stalinismo para justificar suas atitudes e não para formular um partido internacionalista de vanguarda do qual ele sempre se debruçou a construir.
Lenin Presente! Vivo seguirá, assombrando todos aqueles que temem a revolução operária mundial!