Greve unificada em São Paulo mostra a força da classe trabalhadora
Por Diego Vitello – Diretor do Sindicato dos Metroviários de SP e da Coordenação Nacional da CST
Dia 28 de novembro foi mais um importante dia de greve unificada em SP. O projeto privatista de Tarcísio tem sido enfrentado com muita mobilização. Metroviários, Ferroviários e Sabespianos paralisaram a maior cidade do país, mostrando a força da classe trabalhadora. Como pudemos ver mais uma vez, é o trabalhador que “move tudo”. Se o governador Tarcísio, seus secretários, alguns
deputados da base governista, ou mesmo algum chefe dessas empresas não for trabalhar um dia, ninguém nem percebe. Porque o trabalho deles não é fundamental para a cidade. Já quando os trabalhadores param, o impacto é imediato.
Greves fortes que enfrentaram as ameaças de repressão de Tarcísio
No dia anterior à greve, o governador de extrema direita ameaçou duramente os trabalhadores. Utilizou, para isso, como suas marionetes, os chefes das empresas públicas, que são indicados pelo governo e cuja única “função” é praticar assédio moral contra quem de fato trabalha. Fizeram de tudo: listas com nomes dizendo que as pessoas eram obrigadas a trabalhar durante a greve, ameaçaram
colocar PMs em todas as estações e utilizar a força policial contra os piqueteiros, fizeram reuniões nas mais diversas áreas das empresas para ameaçar os trabalhadores, etc. Práticas antissindicais, ilegais e criminosas. No Metrô, a situação também é agravada pelas recentes demissões de oito companheiros e companheiras (na sua maioria diretores do sindicato e cipistas) demitidos por
enfrentarem a privatização.
Mesmo com todas as ameaças, os trabalhadores não se dobraram. A greve, mais uma vez, contou com alta adesão (no Metrô, por exemplo, mais de 90%). A nossa melhor defesa contra as práticas de assédio moral é a luta coletiva, e assim o fizemos.
“Não vamos deixar que a SABESP vire a ENEL”
Em uma das panfletagens que fizemos nas estações de Metrô, no dia anterior à greve, essa frase foi dita por um trabalhador que passava. De fato, o apagão gerado pela ENEL colocou mais uma vez esse debate na “boca do povo”. Seja conversando com os vizinhos, tomando um café durante o expediente ou em algum momento de descontração depois do horário de trabalho, vimos muitos trabalhadores comentando sobre o tema e inclusive colocando que o apagão é responsabilidade da privatização. E os dados que vieram à tona deixam isso bem evidente. A ENEL demitiu, nos últimos 3 anos, mais de um terço dos seus funcionários, sem contratar ninguém no lugar. Ou seja, muitos que poderiam estar
trabalhando para consertar os cabos de energia elétrica estavam demitidos. O que contrasta com isso é a situação da meia dúzia de grandes empresários que são os donos da ENEL. Nos últimos três anos, o lucro anual dobrou, passando de R$702 milhões para R$1,4 bilhão.
Isso mostra bem o que é a privatização: para encher os bolsos de meia dúzia de empresários multimilionários, deixam a população sem acesso a um serviço básico. Se privatizarem a SABESP, isso em breve ocorrerá com a água. Por isso concordamos com o trabalhador que, assim como nós, não quer deixar que a SABESP vire a ENEL. Além disso, a nossa luta é pela REESTATIZAÇÃO da ENEL e de todas as estatais que foram privatizadas.
A necessidade da construção de uma Greve Geral em São Paulo
Nós, da CST, temos colocado desde o dia 03/10 que é possível construir uma Greve Geral em São Paulo. Acreditamos que a força do dia 28/11 mostra novamente isso. Todo trabalhador sabe que, quando lutamos junto com outras categorias, a nossa luta se fortalece. Como os ataques vindos de Tarcísio e da patronal são muitos, uma Greve Geral ajudaria muito a enfrentá-los.
É necessário exigir que a CUT, CTB e Força Sindical construam pela base essa mobilização rumo à greve. Logo adiante aqui no jornal escreveremos nossa crítica à direção cutista da APEOESP, que mais uma vez pouco fez pelo dia de greve unificada. É preciso que as maiores centrais sindicais mudem o rumo e de fato se proponham a construir uma Greve Geral em São Paulo. Esse é o caminho
para derrotarmos as privatizações e demais ataques contra os direitos da classe trabalhadora.
Exigimos que Lula retire os planos de privatização dos metrôs de Recife e Porto Alegre
O debate sobre as privatizações está ganhando projeção nacional. Nesse sentido, a postura do governo Lula-Alckmin sobre o tema não tem sido boa. Primeiramente, em março deste ano, o governo federal deu continuidade ao plano de privatização do Metrô de Belo Horizonte, que começou com Bolsonaro e terminou no governo de Lula. Meses após a privatização, já vemos o desastre anunciado. Tarifa muito mais cara, piora da qualidade do serviço, inúmeras demissões e crescimento absurdo do assédio moral. Nesse sentido, é necessário apoiar a luta dos metroviários de Porto Alegre e Recife, que hoje lutam para que Lula retire do Plano Nacional de Desestatização (PND) os metrôs de suas cidades. Os metroviários dessas cidades já fizeram mais de uma greve este ano com essa exigência.
Além disso, não podemos deixar de citar que Lula entregou recentemente o Ministério dos Portos e Aeroportos nas mãos de Costa Filho (Republicanos), do mesmo partido do governador de São Paulo, Tarcísio. Essa “boa relação” com os privatistas não ajuda nada nossa luta contra o projeto da extrema direita em São Paulo e nos demais estados do país.