Consciência Negra – Uma memória negada e lutas contínuas

Por Andressa Rocha e Rômulo A. Lourenço

Houve um esforço das classes dominantes do país para construir o senso comum de que o Brasil é um país sem marcos de lutas. O imaginário de passividade do povo brasileiro não corresponde à realidade, ignora as centenas de anos de resistências e enfrentamentos, datados desde as lutas indígenas contra a colonização portuguesa. A quem serve nos fazer pensar que os oprimidos e explorados foram inertes na História? Aprendemos que os terrenos de lutas estão no norte global, que lá encontramos expoentes de bravuras, notadamente vindos de França, Inglaterra e Estados Unidos. Precisamos revisitar e nos conectar com o nosso passado, que distante da visão racista construída, foi marcado por múltiplas formas de lutas, isto é parte fundamental do fortalecimento da consciência negra.

O grande Quilombo dos Palmares, fundado no século XVI com apogeu no XVII, no que hoje é o estado de Alagoas, entrou para a História por contar com milhares de negras e negros que enfrentaram a escravização pelas mãos dos colonizadores. Seu principal líder, Zumbi dos Palmares, se tornou referência em vida e mártir do povo preto no Brasil. O dia 20 de novembro, dia de seu assassinato, entrou no calendário nacional como Dia da Consciência Negra e de Zumbi dos Palmares. Com os avanços dos movimentos feministas, o nome de Dandara dos Palmares saiu do apagamento histórico e recebeu os destaques por seu papel desempenhado na sociedade de Palmares e hoje também é referenciado nessa data.

Inúmeros foram os aquilombamentos, revoltas, iniciativas e lutas contra a escravização nos períodos colonial e imperial do Brasil. Ao fim do século XIX, com o modelo incompetente de abolição da escravatura executado, temos a continuidade do povo preto como base, como parcela da população mais explorada e oprimida entre os brasileiros. A política de branqueamento da população, baseada no chamado racismo científico eugênico, foi um dos ataques enfrentados pelos pretos no início do século XX, o que, entre outros efeitos e motivos, afastou o orgulho da negritude.

Os reflexos da escravocracia e da abolição praticada, estão presentes no cotidiano de racismo estrutural ao qual os pretos estão submetidos. A exemplo se tem o maior índice de desemprego ao qual as negras e negros estão submetidos, os mais baixos salários, acesso à escolarização e saneamento básico. Ainda se tem a violência policial, presente e noticiada na violência cotidiana e nas chacinas que ocorrem nas periferias do nosso país, em que o principal grupo vitimado em operações policiais são os negros, chegando a 83,1% das vítimas, como apontam os dados do Anuário de Segurança Pública de 2023. Ainda de acordo com o levantamento, a população negra possui hoje o maior percentual de encarcerados, representando 68,2% do total.

É importante exigir plenárias que organizem os trabalhadores e a juventude, a construir mobilizações e atos massivos em 20 de novembro em todo país. Debater e evidenciar que o racismo ainda é presente e reflete na realidade do povo negro, nas operações racistas da polícia e na implementação de políticas que reforçam e aumentam os índices de desigualdade, a exemplo da lei de drogas.

Sair às ruas no dia da Consciência Negra e ter uma luta contínua, por nossas vidas e pelos nossos direitos, para derrotar o genocídio do povo negro e da juventude pobre. É necessário que se tenha investimento para geração de empregos, salários e direitos sociais.

 


Dandara e Zumbi: a luta do povo negro segue vigente

Bruno da Rosa, Coordenação da CST e Bruna Assis, Mulheres da CST

O dia 20 de novembro marca o legado de luta e resistência que Zumbi dos Palmares, Dandara e outras importantes lideranças do movimento negro deixaram registrado na História e foram até o fim pela libertação. É importante resgatar os processos históricos que abordam o lado oprimido, desmascarar a falsa imagem de benevolência da princesa Isabel, que, por meio de uma Lei, concede a liberdade aos negros escravizados no dia 13 de maio de 1888. Esse processo foi fruto de muita luta do povo negro e da necessidade de construir um governo dos de baixo, que segue vigente.

A ONU publicou um relatório sobre racismo em instituições de Polícia e Justiça em 2021, e, dos exemplos citados, dois são brasileiros. As mortes de João Pedro e Luana Barbosa ilustram como investigações, processos, julgamentos e decisões não levam em conta o papel da discriminação racial nas instituições. Dentre os mais de 600 mil encarcerados brasileiros, 61% são negros. Esse número elevado de presos se dá muito pela Lei de Drogas (11.343/2006), sancionada por Lula/PT.

Precisamos de uma libertação definitiva, contra o racismo capitalista que nos massacra e a atual escravidão assalariada que nos explora e nos deixa cada dia pior. Enquanto formos governados por um governo com patrões, empresários, multinacionais e projetos capitalistas seremos massacrados. Os governos que nós queremos são os nossos próprios governos, tal como era o governo dos Quilombos de Zumbi, Dandara ou de Tereza de Benguela. A senzala não tem nada a ver e nem pode compactuar com a opressão e exploração da casa grande. Nós, trabalhadores, jovens e mulheres exploradas não podemos conciliar com os patrões e empresários, assim como nossos antepassados negros e indígenas guerreiros não compactuaram com os senhores escravistas.

Além das medidas emergências, como a revogação da lei antidrogas do governo Lula, fim das chacinas policiais e fim da polícia militar, defendemos um governo da classe trabalhadora, sem patrões, e um Brasil Socialista como uma mudança profunda para conquistar de vez nossas pautas.

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