50 anos do Golpe no Chile

(Na foto, presos políticos no Estádio Nacional. Registro de Evandro Teixeira em 22/09/73)


Confira a seguir os artigos de nossos camaradas Chilenos aos 50 anos do golpe de Pinochet (apos a introdução e o editorial).

Introdução

Aqui neste especial você vai ler os textos do MST de Chile, seção da UIT-QI, acerca do cinquentenário do golpe de 1973. Além deles incluímos um Artigo de 2013: “40 anos depois do Golpe: O fim da “via pacifica ao socialismo” (Introdução ao livro de mesmo nome publicado na Argentina por Izquierda Socialista da UIT-QI).

Há ainda a “carta da coordenadora de Cordones Industriales a Allende de 5 setembro de 1973″. Tal documento é citado num dos artigos do MST de Chile, mas como não é muito divulgado nos Brasil entendemos como necessário sua publicação na integra. 

Reproduzimos, ao final, um longo artigo de Anteno Alexandre, trotskista brasileiro exilado no Chile naquela época. O texto foi publicado pela primeira vez na Revista da América nº 11, de novembro de 1973 (publicação da Corrente Morenista). E por fim nossa homenagem a Tulio Quintiliano, trotskista brasileiro assassinado no Chile. 

Editorial, do MST Chile, 2023

A seguir, iniciando o especial, republicamos aqui o Editorial do jornal do MST do Chile (seção da UIT-QI) de Setembro de 2023

Já se passaram um ano e meio desde o governo da ex concertación (Coalizão de partidos pela democracia), o Partido Comunista e a Frente Ampla encabeçada por Boric, com tempo suficiente para entender até aonde vai administração atual. Sem medo de nos equivocarmos podemos assegurar que é mais um governo “dos 30 anos” (referente a democracia, da ditadura e do laboratório do neoliberalismo). Os discursos mudanças e transformações sociais se diluíram rapidamente em um projeto empresarial que nada tinha de novo. Como sempre os ricos se tornam mais ricos saqueando o país, enquanto as famílias dos trabalhadores pagam a conta.

Wallmapu (território habitado pelos Mapuches) foi sitiada por estado de exceção que permite a militarização da zona com o único intuito de cuidar dos negócios das empresas de silvicultura (madeireiras) às custas do povo Mapuche. Se subjugou ainda mais o país a rapina das multinacionais com o projeto TPP-11 (Trans-Pacific Partnership – Parceria trans pacífica – acordo de livre comércio de países da bacia do oceano pacífico). Se mantém a repressão contra mobilizações sociais, com a devida impunidade da maioria absoluta de pacos (pejorativo para carabineros e militares) repressores dos levantes sociais, enquanto se mantém em completo abandono das vítimas da repressão, e ainda pior, Boric vem “passando o pano” para Piñera que foi o grande responsável por esses crimes. O salários baixos se mantém assim como as aposentadorias de miséria, os exorbitantes preços dos alimentos e outros produtos básicos, enquanto entregam milhões de dólares para as grandes empresas em forma de subsidio, ao lado de um grande etc.

O correto para sermos mais justos é que o atual governo não somente segue a herança da concertación e da direita, como também vem replicando os mesmos esquemas de corrupção que usaram seus antecessores. O “caso fundaciones” (escândalo do governo de ONGs com fundos públicos envolvendo o governo de Bóric) é só a ponta do iceberg do verdadeiro combustível que move as engrenagens do Estado Chileno e todas as suas instituições: O saque do estado via corrupção. Boric e seus partidos, longe de combater este câncer vem utilizando o sistema para enriquecerem.

Porque o governo de Boric é mais do mesmo da concertación e da direita?!

A decepção de centenas de milhares de pessoas que votaram nesse atual governo vem crescendo. Não se trata apenas da espera interminável das mudanças que nunca chegam, mas também porque se vem fazendo o que mencionamos anteriormente. Sobre isso são inúmeras as explicações de militantes e de aliados do governo, que buscam nos explicar porque aconteceram essas derrotas. Geralmente a explicação mais famosa, repetida e usada, “é culpa da direita que não nos deixa governar”. Observemos estas justificativas.

Vamos partir de um ponto. Como em todos os regimes políticos do mundo, incluindo chileno, a oposição luta para evitar ações dos governos aos quais enfrentam. Querem nos fazer acreditar que se deve governar sem oposição para levar a cabo “as promessas”, isso é uma piada de mau gosto. No entanto, esta desculpa esconde, com maior gravidade, uma grande mentira. Mais importante que as diferenças, tem sidos acordos, a aprovação da TPP-11 foi um acordo entre o governo e a direita, assim como a impunidade responsáveis civis e militares e carabineros das violações dos direitos humanos durante os protestos , assim como a militarização de Wallmapu, os baixos salários, constituinte fraudada em curso (nova constituição), entre outras medidas. Acordos públicos defendidos, deixamos esclarecidos, com acentuações diferentes segundo quem vá dizer, mas defendidos por todos.

Não são mais os enfrentamentos que existiam entre o governo e a oposição que houve antes do governo da concertación (no sentido de conciliação) ou de Piñera. Ainda assim, frente a decepção dos seus eleitores, cada governo culpa aos seus opositores de fazer as coisas das quais acordam com seus opositores atrás das cortinas. É um show interminável que levou a milhões de pessoas a gritar pelas ruas do país em 2019 contra “los gobiernos de 30 anos” (os governos dos 30 anos), ou melhor, contra o que todos esses obscuros personagens vinham fazendo contra as famílias trabalhadoras e população.

Isso é assim porque o modelo econômico que manteve a profunda desigualdade social, o regime político corrupto, as decadentes instituições, os partidos políticos e no congresso, são engrenagens controladas pelos verdadeiros donos do país: os grandes empresários e o imperialismo ianque. Não importa por onde comecemos criticando e investigando, sempre chegaremos ao mesmo punhado de milionários que se enriquecem brutalmente com cada governo e cada oposição em um ciclo que se renova a cada eleição sob promessas de que tudo isso acabará e virão grandes “mudanças sociais”.

Uma nova mudança de gabinete que deixa tudo igual 

A saída de Giorgio Jackson do ministério desenvolvimento social, empurrou a saída de Marcela Hernando na Minería (equivalente ao Ministério de Minas e Energia no Brasil), Marcos Ávila na educação e Jaime Aguirre na Cultura, modificando também comitê político de La moneda (palácio da república, nome atribuído ao governo no geral). A terceira mudança de gabinete neste governo, volta a demonstrar que não há mudanças de fundo que modifiquem o caminho que Boric tomou. Os conflitos da oposição patronal da direita, baseado nos erros e delitos e no executivo (a corrupção é um delito), movem permanentemente para posições mais distantes das demandas reais dos trabalhadores e da população da atual administração.

A unidade das mobilizações e a coordenação Nacional são a única saída

O que ficou demonstrado neste um ano e meio de governo, e que fica absolutamente claro como nos governos dos 30 anos, é que nenhum desses personagens quer resolver a desigualdade social e a situação de milhões de famílias trabalhadoras e da população. Nessas décadas, as únicas e verdadeiras esperanças são as grandes mobilizações de estudantes , contra as AFP (Administradoras de fondo de pensiones – sistema previdenciário chileno), feministas, ambientalistas, sindicalistas e sobretudo a rebelião popular de 2019. Por isso todos os partidos que hoje governam desde “la moneda” até a oposição são temerosos.

As ruas são os único cenário que permitem que as vozes dos que sustentam suas multimilionárias fortunas se expressem. Quando essas vozes se somam a centenas de milhares, milhões, todo o amontoado de mentiras desaba e fica exposto o verdadeiro país em em que vivem milhões de famílias trabalhadoras. Por isso, a única saída é solidarizar com as atuais mobilizações, lutar para unir essas mobilizações, buscar sua coordenação e unificar as demandas numa grande exigência nacional. Não há outra coisa diferente que volte a unir as vozes que em 2019 foram reunidas, e dar vida a um gigante que caminha pelas ruas do Chile armado com a exigência de milhões.

Há 50 anos do golpe de estado, seguimos reivindicando a necessidade de acabar com o capitalismo e construir uma sociedade dirigida por trabalhadoras e trabalhadores 

A meio século de golpe de Estados liderado por Pinochet, mas dirigido pelos empresários chilenos e pelo imperialismo ianque, a necessidade de protestar pelos lutadores e lutadoras (que se foram) é mais urgente que nunca. Esta edição é dedicada em grande parte a esta memória, mostraremos parte do nosso balanço do ocorrido no governo da Unidade Popular e seu trágico final, assim como o que consideramos necessidades fundamentais de balanço que ajude a tirar conclusões necessárias para não cometermos os mesmos erros.


Textos:

O pacto de impunidade para militares, civis golpistas e torturadores, Jornal do MST Chile 2023

Negacionismo e impunidade, Jornal do MST Chile 2023

Cordones Industriales (Cordões industriais): o duplo poder que permitia triunfar, Jornal do MST Chile 2023

Carta dos cordões industriais – Setembro de 1973, Carta de 1973

O movimento sindical contra o golpe, e os sindicatos hoje?!, Jornal do MST Chile 2023

As manifestações de 2019 e as tarefas pendentes dos 50 anos do golpe, Jornal do MST Chile 2023

40 anos depois do Golpe: O fim da “via pacifica ao socialismo”, Introdução ao livro de mesmo nome publicado na Argentina por Izquierda Socialista (UIT-QI) em 2013

O fim da via pacifica, Artigo de Antenor Alexandre. Publicado originalmente em Revista de América n°11, novembro de 1973. Disponibilizado pela primeira vez em Português.

Túlio Quintiliano: trotskista brasileiro assassinado por Pinochet, CST 2023

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