Qual o papel da ONU e do governo Lula?

Nos últimos dias surgiu uma expectativa na ONU (Organização das Nações Unidas) e no papel do governo brasileiro devido à proposta de “cessar-fogo humanitário”. A resolução foi barrada pelos EUA (Estados Unidos) e causou a impressão de que Lula cumpre um papel “negociador” progressivo. Essa expectativa é compreensível, já que o horror dos bombardeios causa muita angústia e queremos acabar com esses ataques. Uma segunda reunião do Conselho de Segurança ocorreu com muitos discursos ditos “humanitários” dos EUA e nova ameaças de veto. Até o fechamento dessa edição sem nada de concreto definido. Por isso queremos apresentar outra visão sobre o papel de Lula e da ONU.

A resolução proposta pelo governo brasileiro é limitada e equivocada

Primeiro: a resolução de “cessar-fogo humanitário” na ONU era bastante limitada, devido às negociações e conciliações que o governo Lula fez com as potências capitalistas. Ela “recomenda” um “cessar-fogo humanitário” temporário. Ou seja, não seria algo obrigatório. E, pelo caráter de Israel, esse “conselho” jamais seria cumprido.

Segundo: o texto tem um erro central, pois considera que Israel e a Faixa de Gaza são equivalentes, iguais. Isso é absurdo, pois Israel tem um dos maiores exércitos do mundo, financiado pelos EUA, apoiado pela União Europeia (UE). E a Faixa de Gaza é uma parte do território palestino, cercada, sem poderio militar e econômico. Não se pode igualar o opressor e o oprimido.

Terceiro: a resolução parte do pressuposto de que Israel se defende dos “terroristas” palestinos. Isso é equivocado. Israel sempre colonizou, bombardeou e praticou apartheid e limpeza étnica na palestina. E os palestinos se defendem como podem visando sua autodeterminação.

Os acordo de Oslo, defendidos por Lula, não são solução

O governo Lula afirma que “na qualidade de presidente do conselho de segurança da ONU” vai buscar uma solução nos termos dos acordos de Oslo de 1994. É uma velha tese imperialista e sionista que legitima a existência de Israel sob a máscara de “dois Estados”. O governo Lula afirma que assim se pode “viver em paz”, mas isso não é verdade. Em 1994, Yasser Arafat, liderança da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), reconheceu o Estado sionista de Israel e passou a aceitar os “dois Estados”. Porém, Israel nunca reconheceu a soberania da Palestina devido ao seu próprio caráter colonialista e racista. A Cisjordânia palestina, virtualmente governada pela OLP, segue sob ocupação israelense. E a Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, está sitiada e transformou-se num campo de extermínio. A tese dos “dois Estados” tenta paralisar a resistência palestina enquanto Israel usurpa territórios. Em nossa opinião, a única saída viável para que se ponha fim a essa situação é uma Palestina única, laica, democrática e não racista.

A ONU, organização imperialista e que fundou Israel, não é uma aliada

O veto dos EUA na ONU demonstra que essa entidade é parte da estrutura de poder imperialista e é dominada pelas potências capitalistas. Ela defende Israel e aprovou sua criação em 1948. A ONU respaldou a Nakba (tragédia) da expulsão de 1 milhão de palestinos daquele território. Do mesmo modo, nunca obriga Israel a cumprir as resoluções contra o colonialismo ou a devolver a porção oriental da cidade de Jerusalém, definida pela ONU como “território palestino ocupado”. A ONU não é neutra ou nossa aliada e sempre respalda invasões militares, como é o caso do Haiti. O verdadeiro caminho para dar fim aos bombardeios e ao cerco a Gaza é outro: a mobilização e o apoio à resistência palestina.

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