Antonio Guterres: “o ataque do Hamas não surgiu do nada”
Por Miguel Ángel Hernández, dirigente do PSL da Venezuela e da UIT-QI
O Secretário-Geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, disse: “É importante reconhecer que o ataque do Hamas não surgiu do nada. O povo palestino está sujeito a uma ocupação asfixiante há 56 anos. Viram as suas terras gradualmente ocupadas por assentamentos. Foram submetidos à violência. As suas economias foram sufocadas. As pessoas foram deslocadas Suas casas foram demolidas. As suas esperanças de uma solução política para a situação estão se desintegrando”. O discurso ocorreu na abertura da reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o Oriente Médio, 78 anos após a criação da entidade em 1945.
Guterres situou a ação do Hamas no quadro da opressão que Israel exerce sobre o povo palestino há décadas, como uma consequência da “asfixiante ocupação de 56 anos”, que provocou o deslocamento de palestinos por conta do roubo das suas terras e da demolição das suas casas, de forma violenta. No seu discurso, teve que reconhecer que existe um exército que ocupa terras roubadas e que sustenta tal ocupação através da violência.
No entanto, isso é tradicional na ONU. Por um lado, o seu Secretário-Geral faz tal denúncia. Porém, como sempre, não apresenta nada de concreto, assumindo o papel hipócrita de policial bom, numa divisão de tarefas com o imperialismo, em particular dos Estados Unidos, que rejeita um cessar-fogo e até algo mais elementar como uma “trégua humanitária”, o eufemismo usado cinicamente na ONU para conseguir a entrada de alguns recursos para que os habitantes de Gaza não morram de fome.
Sem dúvida, as palavras de Guterres, representante de um organismo multilateral do imperialismo global, são sintomáticas. Por isso, não são um fato menor ou anedótico. Ao contrário, refletem a tremenda crise existente no capitalismo-imperialismo mundial, que se aprofunda com as mobilizações cada vez mais numerosas de pessoas em todo o planeta, não apenas nos países árabes ou islâmicos, mas também na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina e em todo o globo. Mesmo em Jerusalém, os judeus ortodoxos que se opõem ao sionismo mobilizaram-se nos últimos dias.
A crise também se expressa na reação dos representantes sionistas nas Nações Unidas. A intervenção de Guterres despertou a ira do ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, bem como do embaixador do país na ONU, Gilad Erdan, que pediu a renúncia do Secretário-Geral.
Guterres questionou, inclusive, o fato de Israel ter ordenado a mais de um milhão de civis que evacuassem o norte de Gaza, sem recursos, e depois ter bombardeado as áreas do sul para onde lhes disse para se deslocarem. Ele reconheceu algo que já foi divulgado nas redes e que Israel tem negado.
No seu discurso, Guterres alertou que a guerra de Israel contra Gaza está provocando “divisões que fraturam as sociedades e tensões que ameaçam transbordar”. Fez uma alusão direta à possibilidade de tais “fraturas e tensões” se expressarem em grandes mobilizações, que coloquem em xeque os governos e os regimes de diferentes países, bem como à possibilidade do conflito militar se alastrar a todo a região do Oriente Médio.
Nós, da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional, insistimos que é necessário redobrar a mobilização dos povos do mundo para deter o genocídio levado a cabo pela entidade sionista israelense.
Em muitas cidades, em todos os continentes, os povos estão se levantando contra a agressão sionista e em apoio à heróica resistência palestina. A UIT-QI apoia de forma incondicional a resistência palestina e defende que os povos exijam o rompimento das relações dos seus governos com Israel, bem como o fim de todos os acordos econômicos, políticos, militares e culturais com o Estado sionista; que cessem os bombardeios e o envio de armas e de ajuda financeira dos Estados Unidos à entidade sionista; e que a frota naval norte-americana seja retirada do Oriente Médio. Ao mesmo tempo, segue lutando estrategicamente para acabar com o Estado segregacionista de Israel, que deve ser substituído por um Estado único palestino, secular, não racista e democrático, no território histórico de Palestina, em que árabes, judeus, cristãos e adeptos de outras religiões possam coexistir plenamente.