Greve unificada contra as privatizações mostra força da classe trabalhadora
Diego Vitello – Diretor do Sindicato dos Metroviários de SP.
Exigimos da CUT, CTB, MTST uma greve geral em SP
No dia 03 de outubro, a maior cidade do país amanheceu paralisada. Os trabalhadores dos dois maiores sistemas de transporte público de massa do Brasil (Metrô e CPTM) cruzaram os braços contra as privatizações. A greve unificada também envolveu os trabalhadores da Sabesp, responsáveis pelo saneamento e fornecimento de água no estado. O debate com a população se intensificou.
Seja nas ruas, nas filas dos ônibus, nos restaurantes, bares, ou em casa com a família, o debate se resumia a: por que o metrô e o trem estão parados? Afinal, as privatizações são benéficas ou prejudiciais para o povo? Por que um governador que nunca morou em São Paulo quer vender as empresas públicas do estado?
Até o Pinóquio teria inveja: as mentiras de Tarcísio
Às 07h, o governador Tarcísio de Freitas foi a público se manifestar. A coletiva ocorreu no Palácio dos Bandeirantes, onde o governador estava acompanhado por alguns de seus aliados, incluindo o presidente do Metrô, da CPTM e uma representante da direção da Sabesp.
A primeira mentira absurda que o governador da extrema-direita tentou impor foi: “são apenas estudos sobre as possibilidades de desestatização”. No entanto, já existem editais que transferem para a iniciativa privada a gestão das estações de Metrô e a manutenção de trens da Linha 15. Além disso, a privatização total da Linha 7 da CPTM está agendada para fevereiro de 2024.
Outra mentira: “a greve é por interesses corporativos”. O governador quis insinuar que metroviários, ferroviários e funcionários da Sabesp estavam em greve apenas por interesses pessoais. Isso é completamente falso. Em todo o Brasil, onde empresas de transporte e saneamento foram privatizadas, as tarifas para a população aumentaram. No Rio de Janeiro, o trem privatizado custa R$7,40, enquanto o Metrô custa R$6,90. As linhas privatizadas em SP têm três vezes mais falhas graves do que as linhas estatais. A tarifa de água no RJ, onde a empresa de saneamento também foi privatizada, é 34% mais cara do que em SP. Portanto, ao contrário do que diz o governador, lutar contra a privatização significa lutar por transporte e água mais acessíveis para os trabalhadores.
Fortalecer o plebiscito popular promovido pelos sindicatos
Nós, trabalhadores, não temos dúvidas: a decisão sobre a venda do Metrô, CPTM e Sabesp deve estar nas mãos dos usuários desses serviços. Se fossem realizadas assembleias populares nas estações do Metrô e da CPTM, reunindo milhares de trabalhadores que usam o transporte público, o resultado seria uma ampla maioria contra qualquer privatização do transporte e da Sabesp. Portanto, nós da CST temos ajudado no Plebiscito Popular promovido pelos sindicatos. A resposta da população tem sido muito positiva quando realizamos a coleta de votos nas estações, nas escolas e com a juventude do Vamos à Luta no Restaurante Universitário da USP e em outros locais. Durante a greve, os sindicatos dos Metroviários, dos Ferroviários (CPTM) e o SINTAEMA (Sabesp) propuseram ao governador que ele realizasse um plebiscito oficial com debates públicos e igualdade de tempo na TV para consultar a população sobre as privatizações. Tarcísio, que é covarde, teve medo e rejeitou a proposta. Para ele, o futuro do transporte público deve ser decidido pelos deputados e empresários que só utilizam helicópteros e carros de luxo, ou pelos estrangeiros da Bolsa de Valores de Nova York. Tarcísio está contra a classe trabalhadora e finge não ouvir nossa voz. Portanto, devemos continuar mobilizados e fortalecer a coleta de votos do plebiscito popular.
A luta continua, peão: precisamos continuar combatendo as privatizações
Aqueles que participaram da greve em 03/10 sabem que estamos apenas começando. Precisamos derrotar Tarcísio e seu projeto privatista, seja para manter um serviço de qualidade para a população, seja para garantir nossos empregos e sustentar nossas famílias. Nós, trabalhadores metroviários da CST, estamos propondo a construção de um grande ato em São Paulo, com a participação de todos os que estão lutando ou que participaram do Plebiscito Contra as Privatizações. Um ato que pode reunir dezenas de milhares nas ruas, e para isso, é necessário que as maiores entidades, como o MTST, partidos como o PT, PCdoB e PSOL, e líderes como Boulos, coloquem todo o seu peso a serviço da ação direta nas ruas. Depois disso, devemos seguir com uma agenda de luta e programar novas greves, reunindo os sindicatos que lideraram a greve em 03/10 e realizando novas plenárias unitárias nos Bancários.
Nós, da CST, acreditamos que é fundamental construir uma greve geral em São Paulo contra as privatizações de Tarcísio, os ataques à educação, as chacinas e em defesa dos direitos dos trabalhadores, que envolva diversas categorias. Isso é possível e necessário. Portanto, exigimos que as grandes centrais sindicais (CUT, CTB, Força Sindical) organizem essa ação.
Os trabalhadores deveriam controlar o transporte público e o saneamento básico
A realidade ficou evidente no dia 03/10. Quem move São Paulo é a classe trabalhadora. Se os chefes do Metrô, CPTM e Sabesp ficam três meses sem ir trabalhar, ninguém percebe. Se os trabalhadores param por um dia, a cidade para junto. Portanto, nós da CST defendemos que as empresas estatais deveriam estar sob o controle dos trabalhadores, sem cargos de confiança e nepotismo por parte dos governantes. Basta de chefes que não fazem nada e ainda recebem salários elevados!
Também defendemos o fim das isenções fiscais concedidas pelo governo Tarcísio às grandes empresas, que em 2023 somarão R$79,6 bilhões. Além disso, nós da CST apoiamos a taxação das grandes fortunas dos bilionários e a não pagamento da dívida pública aos banqueiros, os maiores parasitas do país. Esse dinheiro deve ser investido em concursos públicos e na contratação de novos funcionários em primeiro lugar. Além disso, os recursos devem ser utilizados para expandir o metrô, a ferrovia e garantir o abastecimento de água em todas as regiões periféricas do estado de São Paulo.
Dona Fátima: “Isso aqui não é culpa dos sindicatos. São os governantes que não valem nada.”
A revolta de Dona Fátima, entrevistada na TV Bandeirantes no dia da greve, mostrou o que uma grande parte da população de São Paulo pensa sobre as privatizações. Passageira da Linha 9, ela experimentou em primeira mão a piora no serviço após a privatização. Diferentemente dos poderosos amigos de Tarcísio, ela é como nós e compreende que a culpa não recai sobre os trabalhadores do Metrô ou da CPTM, que são iguais a ela. Eles acordam cedo todos os dias e também dependem do transporte público para chegar ao trabalho e atender às necessidades da população.
No dia da greve, foi anunciado que as linhas privatizadas continuariam operando. Tarcísio, em mais uma de suas mentiras, afirmou o mesmo. No entanto, a realidade foi muito diferente. A Linha 9 ficou paralisada por várias horas, mais um dia marcado por graves problemas no serviço. A verdade é que a privatização prejudica a população.
Operários da Embraer cruzam os braços em 03/10
Repudiamos a repressão aos grevistas e exigimos o fim dos processos!
Os trabalhadores e sindicatos na luta por seus direitos são um pesadelo para os patrões. Os milionários que comandam as grandes empresas desejam nos explorar ainda mais a cada dia. Para garantir seus privilégios, muitas vezes chamam a polícia, que age como uma força de choque dos ricos contra a classe trabalhadora. Isso ocorreu na greve da Embraer, também em 03/10. O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, José Dantas, e o ativista do Movimento Popular Ederlando dos Santos foram presos pela Polícia Militar e pela Polícia Federal durante um piquete de greve. Isso constitui uma prisão política, destinada a criminalizar aqueles que lutam por direitos. É essencial denunciar a política repressiva de Tarcísio, mas também cobrar o governo Lula, pois a Polícia Federal participou da repressão e abuso de poder contra os grevistas.
Os ativistas passaram mais de 24 horas detidos, foram agredidos pelos policiais e tiveram suas cabeças raspadas. Após uma ampla campanha de solidariedade, os trabalhadores foram libertados. No entanto, o processo judicial continua. Repudiamos totalmente esse tratamento absurdo contra aqueles que lutam pelos direitos dos trabalhadores. Exigimos o arquivamento imediato do processo contra José Dantas e Ederlando dos Santos.