As lições esquecidas por Valerio Arcary
Recentemente foi concluído mais um congresso do PSOL, consolidando uma ampla maioria do setor que já dirigia o partido e que passa agora a controlá-lo com mais peso, quase de forma monolítica. Valerio Arcary, dirigente da corrente interna Resistência e integrante da ala majoritária, faz um esboço equivocado da disputa do PSOL. Culpa a ala minoritária de querer ser oposição ao governo Lula, ainda que nem mesmo a minoria tivesse apresentado qualquer resolução no sentido da batalha de colocar o PSOL como oposição de esquerda ao atual governo Lula/Alckmin.
Arcary, que se reivindica da tradição trotskista, esquece lições simples do marxismo: qual o caráter de classe do governo Lula? Os marxistas devem apoiar a frente de conciliação de classes ou devem batalhar por um polo de independência? Até tempos atrás Valerio responderia que era tarefa dos marxistas batalhar pela independência política da classe trabalhadora e não apoiar e nem compor nenhum governo capitalista. Mas agora ele mudou.
Para fugir de todo seu passado e da situação presente ele faz um malabarismo teórico centrando contra a extrema direita e um conjunto de medidas, como se o governo Lula não fosse responsável pela aplicação ou negociação desses ataques no parlamento. Pior, seu texto coloca a grande divisão na esquerda entre os que querem lutar contra a extrema direita ao lado do governo ou jogar água no moinho da oposição golpista e reacionária da oposição de direita. No mundo descrito por Valerio não há outra saída.
O movimento trotskista foi fundado diante de enorme pressão para a oposição de esquerda na União Soviética. De um lado, a ameaça real de desenvolvimento de regimes fascistas pelo mundo e, de outro, o enorme prestígio que a burocracia stalinista tinha ao redor do mundo, enquanto tratava de ir pouco a pouco destruindo e deformando as bases da revolução socialista no leste europeu.
A grande lição de Trotsky aos revolucionários do mundo foi a batalha implacável contra a extrema direita construindo uma verdadeira alternativa de classe, que batalhasse pela continuidade do triunfo da revolução de outubro, sem capitular à degeneração stalinista e denunciando-a com toda força.
O PSOL, com seu programa, sua postura frente ao governo de conciliação de classes e seu centro eleitoral, se consolida como um projeto que não tem nada a ver com a superação do capitalismo. E o fato é que o congresso consolida o PSOL sem independência, como parte integrante dos ministérios, da base aliada e do apoio ao governo Lula/Alckmin.
À minoria do PSOL resta uma reflexão: com a nova maioria de 67% da ala majoritária é difícil sustentar a hipótese de uma luta interna real no PSOL. Essa foi uma das questões que afirmamos quando rompemos com o PSOL meses atrás. Por outro lado, qualquer oposição real ao atual campo majoritário do PSOL só pode se estabelecer sob a base de uma ruptura com o governo Lula, proposta que o bloco das oposições não apresentou. Chamamos os camaradas do MES, APS, Comuna, Fortalecer e o mandato de Glauber Braga a fazer essa reflexão: é necessário dar esse passo à frente e abandonar o campo governamental. Assim teríamos um reforço na batalha para garantir uma esquerda independente do governo da frente ampla liderado por Lula/Alckmin.