O pacto de impunidade para militares, civis golpistas e torturadores

Impunidade quer dizer que quem comete um crime conta com garantias para não pagar pelo crime. Em nosso país (Chile) como no resto do mundo, a principal garantia de impunidade são o dinheiro e o poder. Por isso vemos os presídios cheios de pobres, enquanto os grandes empresários e outros personagens metidos no poder político e econômico jamais pagam por seus atos, mesmo quando estes se fazem públicos. Não é uma anomalia do sistema judicial e do político, como tentam nos fazer acreditar, senão a sua essência. São de fato os mesmos ricos que controlam o poder político e judicial para utilizá-lo a seu favor.

O caso do Chile após a ditadura de Pinochet é um grande exemplo, contra o que milhões de pessoas esperavam, a chegada da democracia não deu possibilidade de julgar a Pinochet e seus lacaios. Sem nenhuma vergonha e perante aos olhos do mundo, Pinochet se converteu em comandante, chefe das forças armadas e logo em senador vitalício (não foi votado e sim por imposição), para morrer anos depois em total tranquilidade sem ter colocado os pés na cadeia nem ao menos por um dia. Assim como ele, milhares de militares e civis, incluindo os agentes terroristas da CNI (Centro Nacional de Informações, “espiões”), seguiram em liberdade, desfrutando de suas fortunas e com garantias de que seus nomes nunca sairiam à luz publicamente, inclusive alguns fizeram carreira política.

Seria falso dizer que isso aconteceu devido “a direita”. Os governos de Concertación (Coalizão de partidos pela democracia de centro esquerda) foram defensores ativos da impunidade dos crimes da ditadura, enquanto o Partido Comunista, com importante peso nas organizações sindicais e sociais durante anos, pouco ou nada fez para enfrentar esses pactos. De conjunto, com maior ou menor culpabilidade, todos os partidos que estão hoje no congresso, atuaram para “deixar no passado” os horrores cometidos pelos agentes do Estado. De novo, o melhor exemplo é o atual governo, que não iniciou nenhuma campanha para terminar com a prisão luxuosa de Punta Peuco (uma prisão feita para receber torturadores e criminosos em padrões de luxo), nem encarcerar repressões, nem sequer ajudar no esclarecimento destes crimes.

A razão é tão simples quanto brutal: Necessitam dos mesmos ou novos repressores. Piñera necessitou deles durante 2019, a maioria dos Carabineiros (setor da Polícia que participou do golpe de Estado contra Allende) e Forças Armadas seguem impunes por seus crimes, Bachelet necessitou deles contra os estudantes, e assim seguem. Hoje Boric os utiliza contra o povo Mapuche e outras lutas sociais. Todos necessitam da violência dos agentes do Estado contra o povo e a classe trabalhadora, sem nenhuma exceção. A impunidade nada mais é que o mecanismo com que eles garantem que militares e Carabineiros não irão a prisão por usar métodos de guerra civil ou extremamente violentos contra as mobilizações que coloquem em cheque a consciência do domínio dos grandes empresários e a corrupção que une o governo e o congresso a partido políticos e todas as instituições da chamada democracia.

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