As manifestações de 2019 e as tarefas pendentes dos 50 anos do golpe
Há quase 4 anos das manifestações é bom recordar porque aconteceu a maior mobilização da história. Milhões nas ruas, com o apoio da maioria da população, cobrando o que nunca foi garantido nos 30 anos de “democracia”. O grito de não mais AFP (Administración de fundos de pensiones – Aposentadorias privadas), salários dignos, educação e saúde pública gratuita, entre outras demandas, disseram também: Fora Piñera!
Do golpe de 73 às manifestações de 2019
Os 30 anos de democracia não resolveram nenhuma das necessidades do povo trabalhador, muito pelo contrário. O modelo econômico imposto pela ditadura militar de Pinochet e seus aliados seguiu intacto. Pinochet se foi do governo, mas todos os governos seguiram e sustentaram as aposentadorias privadas, a saúde privada e a privatização dos serviços públicos e o “Estado subsidiário” onde o Estado não é mais que um garantidor dos investimentos capitalistas e sua rentabilidade junto à impunidade dos militares genocidas e seus cúmplices civis.
A manifestação social foi um grito desesperado do povo trabalhador chileno e grandes camadas de pessoas contra um modelo que só aumentou a desigualdade social. Desta maneira, Piñera foi identificado como principal inimigo do povo ao tentar impor uma feroz repressão com a teoria de que “estamos em guerra” colocando militares nas ruas. Mas fracassou, teve que retirar os militares e seus cassetetes; em seu lugar, o parlamento impôs a barganha do acordo de paz para salvar a Piñera. Todos os partidos políticos sabiam que por trás da possível queda do Piñera todo o regime também poderia cair, incluindo a herança da ditadura, por isso o salvaram.
Qual o panorama político de hoje em dia?!
O partido Republicano, a extrema direita Pinochetista, domina o cenário. Como explicar semelhante contradição entre as manifestações de 2019 com a ascensão de um neofascita como Kast (presidenciável da extrema direita)? A explicação está no funcionamento da política de governo de Boric, o PC e a FA. Desde que assumiu não outorgou nenhuma das demandas do povo que foi às ruas. A desilusão foi grande e milhares se sentiram traídos. A frustração fez com que o plebiscito de 4 de setembro de 2021 levasse o rechaço ao governo, o que se repetiu no último plebiscito entregando à maioria da nova convenção ao partido Republicano, os mesmos que tentaram aprofundar o modelo pinochetista que eles defendem.
As promessas que Boric realizou em sua campanha eleitoral foram jogadas ao vento e, governando, cingiu a estrutura de um sistema capitalista mundial dominado pelas grandes corporações, das quais dependem os empresários chilenos. O governo de Boric demonstra uma vez mais o que sucedeu ao governo de Allende, de que não há espaço para o reformismo, que é impossível humanizar o capital e que finalmente estes tipos de governos são apenas para enganar as massas; para que não tomem consciência que o inimigo é o sistema capitalista e seus governos junto a todos os setores políticos e institucionais e não somente a direita, como formula o PC o qual – como se ha demostrado hoje no Chile e antes na Venezuela, Equador e outros – não tem nenhum problema de participar e de ser parte orgânica de um governo que explora e oprime ao seu povo como todo governo capitalista faz.
Esta polarização social criada pelo duplo discurso dos falsos governos progressistas, não é exclusiva do Chile. A Argentina padece do mesmo com Milei, assim como foi antes com Bolsonaro no Brasil e com Trump nos EEUU e o mesmo que acontece em outras partes do mundo. Estes fenômenos, mais que manifestar um genuíno crescimento orgânico da direita, é uma maneira de rechaçar os governos que a única coisa que fazem é ajustes fiscais nos trabalhadores e retirar direitos. Ante ao desespero e à revolta, as pessoas buscam alguém que em tese rapidamente resolverá seus problemas, e não promessas que nunca se concretizam, levando a franja de eleitores a optar pela ultradireita.
Contra o Pinochetismo enfrentamos a política continuísta de Boric, do PC e da FA.
Vamos construir a ferramenta política dos trabalhadores!
Milhares de ativistas da ampla vanguarda, que lutaram nas ruas contra o governo de Boric, tiraram uma importante conclusão: As manifestações espontâneas de nosso povo não conseguiram botar pra fora Piñera e conquistar as demandas porque o regime impôs um acordo de paz. Porque não conseguiram? Entre tantas outras coisas porque nossa classe e os lutadores não contam com uma organização política suficiente para direcionar as lutas políticas e sociais até seu triunfo final.
A 50 anos do golpe refletimos a seu respeito para avançar e construir esse partido revolucionário, que com democracia operária, independência dos governos e um programa operário e socialista que nos permita organizar as lutas de nossa classe para derrotar os que nos governam e sustentam a herança da ditadura. A necessidade de nos organizarmos para lutar por um governo das trabalhadores e do povo é urgente, os capitalistas não param de descarregar suas crises nas costas do povo trabalhador, a inflação devora os salários, as “40 horas” são usadas para flexibilizar e precarizar, eles mantém nossos recursos no mercado mundial, os militares e pacos (pejorativo para carabineros e militares) tem novas ferramentas para reprimir com a lei Nair-Retamal (lei do “gatilho fácil”) e são autorizados a usar metralhadoras contra quem consideram suspeitos.
Contra esses ataques, e ao calor das lutas, como as que levam adiante as trabalhadoras e os trabalhadores da educação com uma greve por tempo indeterminado, com assembléias nos locais de trabalho e creches em cada povoado, avançamos na união das lutas. E no calor dessas lutas te convidamos a que não só se organize no seu grêmio, sindicato ou juventude: Junte-se ao MST para construir juntos uma alternativa política dos trabalhadores para sepultar o sistema capitalista e construir uma nova sociedade onde as riquezas de nosso país e do mundo estejam a serviço da nossa classe e dos povos, onde não haja mais exploração e nem opressão, por um Chile e um mundo operária e socialista! Para transformar as derrotas em triunfos do amanhã, se some ao MST!