Chega de chacinas policiais nas periferias e favelas
A brutalidade policial, movida pelo aparelho repressivo do Estado, é uma política que vitima milhares de jovens e famílias negras e periféricas no Brasil. Nos últimos dias, vimos diversas chacinas em periferias de diferentes cidades e estados: no Guarujá, litoral de SP; na Cidade de Deus, no RJ, e na Bahia. É algo recorrente, fruto da própria lógica policial que sempre trata o povo negro e da periferia como o “marginal” e inimigo a ser abatido, do mesmo modo como eles enxergam as greves e manifestações de rua. Os militares que cometem esses crimes devem ser punidos e junto com eles toda a cúpula militar, os chefes supremos das forças policiais estaduais, bem como os responsáveis civis, secretários de segurança e os governadores.
Os governadores estaduais são comandantes dessas tropas assassinas
O governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, político da extrema direita, disse que os assassinatos cometidos pela PM são mero efeito colateral e avaliou como correta a chacina realizada pela PM e Polícia Civil. Ele é assessorado por Guilherme Derrite, secretário de segurança pública que foi afastado da ROTA, a equipe de elite da PM paulista, por número excessivo de mortes. Derrite foi indicado ao cargo pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro. A ROTA, que tem em seu passado massacres em Canudos, contra os opositores da ditadura militar, atuando no cerco a Lamarca, e berço de grupos de extermínio na periferia de SP, protagonizando mais recentemente o massacre do Carandiru na casa de detenção em SP.
O governador do RJ, Cláudio Castro, se elegeu primeiramente como vice de Witzel, na onda eleitoral bolsonarista de 2018, quando falavam em “atirar na cabecinha” do povo negro e favelado. Desde então, mantém uma política de segurança ultrarreacionária, comandando as maiores chacinas da história do RJ, nas chamadas “operações”, seja PM ou Polícia Civil (algumas com a PRF, outra tropa cuja cúpula está cheia de golpistas bolsonaristas). Além disso, a extrema direita no Rio de Janeiro é diretamente ligada às milícias.
Jerônimo Rodrigues, governador da Bahia, foi eleito pelo PT, partido que controla o estado há 20 anos. E a Bahia é líder nacional em números absolutos de pessoas mortas pelas polícias, de acordo com dados do Fórum de Segurança Pública. Foram 1.464 óbitos no ano passado; quase todos os mortos eram pessoas pretas. Além disso, não houve nenhum repúdio à chacina cometida pelos policiais; pelo contrário, o governo baiano emitiu uma nota vergonhosa tentando justificar o indefensável: dizendo que todos os mortos eram criminosos.
Fim da guerra ao povo negro e do extermínio da juventude nas favelas
Os governadores e a cúpula militar se escondem num discurso de combate “ao crime” e numa cruzada contra as “drogas”. Tudo mentira, pois os maiores criminosos, os milicianos que controlam territórios, os grandes barões do tráfico de armas e drogas convivem muito bem nos governos e nos espaços de poder. Lembremos que até em aviões da FAB, no governo Bolsonaro, transportava-se cocaína para tráfico internacional.
A chamada “guerra às drogas” é a desculpa para assassinar crianças, jovens, mulheres e idosos pretos das periferias. Vivemos a criminalização da pobreza e um processo de naturalização da violência e desumanização desses corpos e territórios. São décadas e décadas de “operações” invadindo o morro, ocupação militar das favelas, tropas aterrorizando as baixadas e vielas e só quem perde é o povo trabalhador e a juventude negra. E tudo isso foi aprofundado pela Lei de Drogas, sancionada nos governos anteriores do PT, que somente ampliaram o encarceramento do povo negro.
Nós defendemos a legalização das drogas, tal como já ocorre com o álcool e o tabaco. Isso significa reconhecer o uso dessas substâncias sem necessidade de repressão policial e tratar a dependência das substâncias psicotrópicas como parte da saúde pública. E o primeiro passo para isso é a revogação da Lei de Drogas de 2006, do segundo governo Lula.
Mobilizar nas ruas!
É urgente construirmos uma jornada de luta contra a violência policial e essas chacinas criminosas, que não são novidade e continuam acontecendo com a conivência dos governos. O dia 24 de agosto está sendo construído pelo movimento negro como um dia de luta contra a violência policial para gritarmos que vidas negras importam.
Pelo fim das operações policiais nas favelas e bairros populares! Punição aos policiais e responsáveis civis por todos os assassinatos e chacinas! Pela destruição de todo aparelho repressivo usado nas favelas e contra os movimentos sociais. Fim da PM e da PRF! Instalar uma comissão formada pela Coalizão Negra por Direitos, UNEGRO, UNEAFRO, Associações de Moradores, OAB, ABI e Centrais Sindicais para apurar de forma independente esses crimes e evitar a impunidade.