Estado espanhol: diante do resultado das eleições, Sánchez antecipa novas eleições para julho

Por UIT-QI

Esgotados os gestos propagandísticos, Sánchez tem como sua última cartada apostar numa polarização do voto da esquerda e lança para os eleitores a alternativa entre ele próprio e a vitória da extrema direita: “ou eu ou Vox”.

Chamando a cerrar fileiras, deixa sem tempo de manobra os “barões” do PSOE e tenta colocar um ponto final na crise interna, aproveitando-se também da crise dePodemos-Sumar-IU, que vem do descalabro do 28M, para usar o voto útil do PSOE a fim de “deter a direita”. Ao mesmo tempo, traz ao cenário a dependência do PP em relação a Vox no governo dos municípios e comunidades autônomas, e tira partido dos atos de abertura da presidência espanhola na União Europeia. Pode ser pouco, mas é o que lhe resta no arsenal. Em 23 de julho saberemos se isto não terá sido uma fuga para a frente, ou se, ao menos, terá servido de alguma forma para minimizar as perdas do PSOE.

As eleições do 28M foram, na verdade, um voto castigo para o governo e, como em eleições anteriores, sai mais castigada a esquerda do executivo, representada por IU/Podemos, que é quem mais frustrou as expectativas do seu eleitorado. De nada serviu Pablo Iglesias insistir, como um refrão, sobre o descalabro da esquerda portuguesa, que deu apoio eleitoral ao PS sem entrar no Governo, admitindo que no caso espanhol, diferentemente, IU/Podemos soube entrar no Governo: foi o mesmo descalabro. Com tais precedentes, o projeto de Yolanda Díaz (Sumar) já nasce enfraquecido e desesperado por ganhar tempo, tentando tapar as fendas e chegar a um acordo com Podemos.

O governo que sair das urnas terá que elaborar para 2024 um orçamento que leve em conta o fim do prazo para retomar uma gestão rigorosa do déficit fiscal, prazo este cujo alargamento foi autorizado pela UE em função da pandemia e da guerra na Ucrânia. Para a Comissão Europeia, é hora de voltar à austeridade, com tudo o que isto representa, inclusive novos cortes nas aposentadorias e pensões. Na falta de alternativas à esquerda do bloco governamental PSOE/IU/Podemos, a rejeição ao governo se traduzirá em abstenção ou pelo voto na direita. Se isto ocorrer, será resultado, também, da política de desmobilização das grandes confederações, CCOO e UGT, transformadas em muletas do Governo, diante do qual não reivindicam seriamente nem mesmo o cumprimento das promessas de campanha, contribuindo assim para o descrédito da esquerda parlamentar. E é também o resultado da fragmentação e debilidade da esquerda revolucionária, uma vez que não temos sido capazes de construir uma alternativa à esquerda do bloco PSOE/IU/Podemos.

Durante anos temos insistido na necessidade de avançar na construção de uma Frente dos trabalhadores e trabalhadoras, pela ruptura com o regime monárquico e o direito de autodeterminação contra o capitalismo. Nas eleições para o Parlamento europeu de 2009 criou-se a Iniciativa Internacionalista, uma ampla coalizão de grupos formada em todo o Estado espanhol, da qual participaram a esquerda abertzale e organizações políticas e sindicais de todos os territórios e regiões autônomas. Infelizmente, esta experiência não se consolidou, passando rapidamente para a direita quando Bildu, a maior força da coalizão, se associou com a ERC na Catalunha e o BNG na Galícia.

Mais tarde, nas eleições de 2010 para o Parlamento catalão, juntamente com Anticapitalistas, En Lucha, Corriente Roja e Lucha Internacionalista formamos a coalizão Des de Baix, que não teve continuidade. Em 2012 fizemos acordos com a CUP-AE e, na última legislatura, participamos da CUP-Pela Ruptura, que obteve duas cadeiras e foi, apesar de todas as hesitações, um instrumento de apoio às lutas, como as motivadas pela reforma trabalhista de Yolanda Díaz e contra a lei da mordaça, ou pela defesa da lei trans e contra a lei repressiva do PSOE sobre a prostituição. Foi um instrumento de denúncia dos Pactos de Toledo e das duas reformas da previdência – esta última em conjunto com o movimento dos pensionistas – e tentou colocar-se ao serviço da luta contra a repressão e a reforma do código penal, o processo do SAT e o dos 12 de Saragoza. Como Luta Internacionalista, voltaremos a propor um acordo para dar continuidade à CUP-PR e incluir novas forças nas eleições de 23 de julho.

Com o agravamento constante da situação econômica, o único caminho é impulsionar a mobilização e a organização. Junte-se você também a Luta Internacionalista para construirmos essa alternativa.

Editorial. Prensa de Lucha Internacionalista, nº 186, 31/05/2023

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