Crise com mercenários mostra fracasso da invasão russa na Ucrânia
Por Miguel Lamas, dirigente da UIT-QI
Uma disputa entre o líder da milícia Wagner, Yevgeny Prigojin, e a cúpula militar russa em torno dos combates na Ucrânia resultou num motim. Combatentes do grupo militar privado abandonaram a frente da Ucrânia para tomar a cidade russa de Rostov do Don, no sul do país, e iniciaram um avanço de 24 horas em direção a Moscou sem aparentemente encontrar resistência, interrompendo sua marcha no sábado, 24 de junho, a 200 quilômetros da capital, após anúncio de um acordo com Putin.
O Kremlin informou que o acordo estaria acertado com a mediação de Alexander Lukashenko, presidente da Bielorrússia e aliado de Putin, e permitiria a Prigojin e sua milícia partir para a Bielorússia, ficando isentos de processo penal na Rússia.
Antes da rebelião, Prigojin levou meses denunciando e insultando os generais russos, sob a acusação de que não entregavam suficiente munição à sua milícia.
No fechamento desta edição, ainda não estava claro se o conflito entre Prigojin e Putin se solucionaria por meio do anunciado acordo. No entanto, para além disto, é evidente que o Estado russo e o regime de Putin atravessam uma profunda crise, provocada em grande parte pelo fracasso da invasão. A Ucrânia está na ofensiva atualmente e recuperou centenas de aldeias que estavam tomadas pela Rússia no sul do país. A resistência popular e militar ucraniana é a principal causa que explica o fracasso do exército russo, pois a grande diferença não reside no maior poderio militar da Rússia, mas na moral muito superior do povo ucraniano. É o que explica, desde o início da guerra, os milhares de voluntários que se apresentaram no lado ucraniano, numa demonstração de unidade popular que não se viu na Rússia. Há provas mais do que suficientes de que os soldados russos estão sem moral para o combate, e isto tem sido a causa fundamental do seu retrocesso no terreno.
A situação na frente levou Putin a trocar os comandos e recorrer aos paramilitares do grupo Wagner, uma milícia privada dirigida por um oligarca neofascista. Com o aval de Putin, este grupo recrutou grande parte de seus combatentes na população carcerária, reunindo presos condenados por delitos graves, que ganharam a liberdade em troca de sua incorporação à milícia.
O fato de um Estado imperialista recorrer a exércitos privados mercenários atesta o nível da sua crise. Os Estados Unidos empregaram mercenários em todas as invasões que levaram a cabo nos últimos trinta anos. A Rússia também já havia empregado a milícia Wagner em suas intervenções na Síria, Sudão e República Centro-africana. Mas se além disto, como acaba de acontecer com a milícia Wagner, os mercenários se rebelam armados contra o governo que os contratou e, em seguida, esse governo chega a um acordo com eles, o que se tem é um estado de crise gravíssima.
É fora de dúvida que a milícia Wagner e seu chefe Prigojin nada têm de progressistas. Muito ao contrário, o que pretendem é consolidar e tornar mais cruel a invasão da Ucrânia. Mas também é indubitável, por outro lado, que o atual enfrentamento debilita o imperialismo russo e torna evidente o fracasso da invasão.
Nós da UIT-QI temos denunciado, desde o começo da invasão russa, que o imperialismo ianque e a OTAN querem tirar partido da guerra, para fazer da Ucrânia sua semicolônia por meio de acordos com Zelenski. Mas, em primeiro lugar, chamamos à plena solidariedade com a resistência do povo ucraniano, que está levando a uma crise os invasores russos, e saudamos a sua luta heroica contra a invasão! Fora os invasores imperialistas russos!