Por um PSOL independente!

As eleições terminaram com a derrota de Bolsonaro e a vitória da frente ampla de Lula-Alckmin. Foi uma pequena margem de votos, mas a alegria e o alívio nas ruas foram imensos. É a primeira vez que um presidente em exercício perde uma reeleição. Bolsonaro e a extrema direita fizeram de tudo para ganhar e sua derrota alegra os que se manifestaram pelo “Fora Bolsonaro” desde o#EleNão, no Tsunami da Educação e nas mobilizações e greves contra os cortes de verbas, a reforma da previdência e as privatizações; nos atos antifascistas e antirracistas e nas lutas por vacina e contra fome. Nós, da CST, tendência radical do PSOL, fomos parte desses processos de luta e nossa campanha eleitoral esteve a serviço da derrota de Bolsonaro. Por isso, agora também somos parte dos milhões que comemoram o resultado das urnas. O voto contra a extrema direita foi uma rejeição às políticas antipovo de arrocho salarial, privatizações, negacionismo e contra seu projeto autoritário e ditatorial.

Agora passada as eleições está colocado no debate qual deve ser o papel do PSOL frente ao governo Lula-Alckmin. Nós da CST fazemos este texto como contribuição ao debate no PSOL, porque discordamos da política do campo majoritário que defende compor e apoiar o governo Lula-Alckmin, um governo de conciliação e classes e chamamos os psolistas a defenderem a independência do PSOL frente ao governo.

Conselho de Transição de Governo: de mãos dadas com os tucanos e o MDB e a defesa das Forças Armadas golpistas.

Sabemos que o novo governo gera expectativas em muitos trabalhadores, jovens e mulheres. Mas a realidade da transição de governo deve nos fazer refletir. O PSOL decidiu por uma diferença de um voto compor a equipe de transição. Essa votação absurda, atropelada, sem debate político, só reforça a linha da direção majoritária de acabar de vez com que caráter independente do PSOL em relação aos governos.

O caráter dessa equipe de transição não deixa dúvidas: é a ampliação da aliança com patrões expressa na Frente Ampla. O anúncio da equipe da transição traz figuras da direita clássica. Lideranças do PSDB, como Floriano Pesaro, na Coordenação Executiva. No Grupo de Trabalho da Economia, temos André Lara Resende, ex-presidente do BNDES no governo FHC, e Pérsio Arida, ex-presidente do BNDES e do Banco Central nos governos do PSDB. Eles são os “papas” do Plano Real, que significou privatizações das estatais, congelamento salarial para os servidores, enquanto no campo se massacrava os sem-terra como em Eldorado dos Carajás e Corumbiara. Foi o plano que “quebrou o Brasil”, como dizia o PT antigamente. No grupo de Assistência Social está incluída Simone Tebet: senadora pelo MDB de Mato Grosso do Sul, parlamentar ligada ao agronegócio e que defende privatizações.

A conciliação inclui acenos às Forças Armadas. No dia 11/11, em coletiva do Conselho Político da Transição, Gleisi Hoffman falou sobre a nota golpista das Forças Armadas. Ela minimizou o fato: “Vejo isso como um fato desses comandantes, desse governo, um fato que tende a ser isolado. Mas não acredito que a totalidade das Forças Armadas pensem assim”. A cúpula das Forças Armadas, foi treinada pelos EUA e por mais de duas décadas impôs uma ditadura militar em nosso país (1964-1985). Todos eles foram responsáveis pelo genocídio atual do governo do capitão Bolsonaro e do general Mourão.

Enfrentar, julgar e punir a extrema-direita golpista

A extrema-direita segue viva, organizada e uma parcela de seus defensores, armada. Apenas dois dias após as eleições, empresários bolsonaristas financiaram o trancamento de rodovias em mais de mil pontos por todo país. Desde as eleições existem manifestações  e acampamentos em frente aos quartéis com a pauta golpista de não reconhecer o resultado eleitoral e que os militares junto com Bolsonaro tomem o poder, fechando as liberdades democráticas, perseguindo e torturando opositores.

Devemos exigir que os empresários que financiam essas manifestações golpistas devem ser expropriados, Além disso, Bolsonaro, seus filhos e a cúpula do exército que o apoiou devem ser julgados e presos por todos os crimes que cometeram, desde a corrupção generalizada que implantaram em seu governo, até o atraso consciente na compra de vacinas, política que tirou a vida de cerca de 400 mil brasileiros.

O PSOL tem que apresentar candidatura própria para a Presidência da Câmara.

O PT e o PSB definiram apoiar a reeleição de Artur Lira para Presidente da Câmara Federal. Um enorme erro, que em nome da tal “governabilidade” acabam dando folego para a extrema direita. Por isso foi muito correta a posição da bancada federal do PSOL que decidiu não apoiar a reeleição de Lira.  A nota expressa: “Os últimos dois anos foram marcados pelo comando de Arthur Lira, representante do Centrão e, sobretudo, aliado de primeira hora do governo Bolsonaro. Com o instrumento absurdo do Orçamento Secreto, capturou o Orçamento da União e ganhou mais poder do que qualquer outro Presidente da Câmara na história da Nova República teve em suas mãos. Votações como autonomia do Banco Central, congelamento de salário de servidores públicos, privatização da Eletrobrás e desmonte ambiental (com o autolicenciamento) foram realizadas a toque de caixa.”(Nota da bancada federal 30/11/22). Nesse processo é muito importante que o PSOL apresente uma candidatura própria para a Presidência da Câmara, para se contrapor a Lira e as candidaturas que representam os interesses do capital. Um nome que poderia cumprir essa tarefa é o do companheiro Glauber Braga.

O PSOL tem que se manter independente!

Lula no governo repete a mesma política do PT de conciliação com os patrões que já deu errado outras vezes.Em 2002, a “transição” de FHC para Lula foi coordenada por Antônio Palocci (PT) e Pedro Parente (Casa Civil de FHC). O processo envolveu temas econômicos como o orçamento, a reforma da previdência e uma anistia a corrupção do PSDB e o esquecimento dos massacres contra os sem-terra.

A frente ampla é uma frente de colaboração de classes com empresários e partidos patronais.Essas alianças políticas com os patrões jamais beneficiaram o povo trabalhador. Agora, na transição de governo, o protagonista é Geraldo Alckmin, tradicional político dos empresários de SP. Ocorrem pactos com o presidente da Câmara, o deputado bolsonarista Arthur Lira (PP), o chefe do “orçamento secreto”,que ajudou a eleger vários políticos genocidas da extrema direita. O PSD, de Kassab, que compõe o governo Bolsonaro e a frente bolsonarista de Tarcísio em SP, é outra parte dessa “transição”. O“centrão”está barganhando espaço e manutenção de seus esquemas, como, por exemplo, o orçamento secreto.Negociar com eles é uma estratégia completamente errada.

Agora mesmo esses pactos e negociações com partidos e lideranças políticas bolsonaristas estão levando as lideranças da CUT, UNE, MST e MTST a não convocarem mobilizações de rua contra as ações golpistas que setores do bolsonarismo estão realizando em frente aos quartéis. O caminho da desmobilização é um erro que só favorece os patrões e a extrema direita. Bolsonaro e os bolsonaristas que defendem uma ditadora militar não podem ficar impunes.

Infelizmente já se fala que a Sonia Guajajara e até Guilherme Boulos podem compor o governo Lula, mais uma vez a direção majoritária visa colocar o PSOL sob o fato consumado. É necessário parar qualquer negociação com o governo Lula-Alckmin. A importante derrota eleitoral da extrema direita não pode fazer perder de vista o caráter de classe da frente ampla e qual sua política. Lula e o PT já governaram esse país por mais de 14 anos e estiveram aplicando inúmeros ajustes contra a classe trabalhadora. Agora não será diferente. O PSOL mesmo foi fundado enfrentando os primeiros ataques que o governo Lula desferiu contra os servidores públicos, que protagonizou uma forte greve em 2003. Heloisa Helena, Luciana Genro, João Fonte e Babá foram expulsos do PT por se recusarem a votar contra a classe trabalhadora. Agora a maioria das correntes políticas argumentam que o fato de existir a extrema direita não podemos nos contrapor a frente ampla. Mais o que se esconde por trás dessa política é a total capitulação ao projeto de conciliação e classes com os patrões, que só leva a nossa classe a derrotas e acaba pavimentando desilusões e o fortalecimento da extrema direita.

Nós da CST defendemos que o PSOL tem que voltar a assumir uma posição independente diante dos governos patronais e que, portanto, não apoie e nem integre o governo de Lula-Alckmin, respeitando o projeto fundacional do partido. O PSOL tem que ter como eixo a organização e mobilização em defesa das pautas da classe trabalhadora contra a fome, a miséria e o desemprego. Que exija do governo que rompa com a política econômica bolsonarista, colocando fim ao teto de gastos, ao orçamento secreto, pela revogação das reformas da previdência e trabalhista; pelo fim do sigilo dos 100 anos; punição para Bolsonaro e os golpistas. Para isso tem que enfrentar o sistema financeiro e os mercados, não pagando a dívida pública e taxando as grandes fortunas. Pois a dívida não é com os banqueiros e sim com o povo trabalhador.

Ao lado da luta de nossa classe, é fundamental seguir batalhando pela criação de uma nova alternativa de esquerda independente e consequente. Uma nova direção sindical e política classista. Construir uma verdadeira esquerda independente é o caminho para impedir o fortalecimento da extrema direita e para garantir a independência política da classe trabalhadora e dos setores populares. Por isso o PSOL tem que voltar a ser independente. A CST seguirá lutando para construirmos uma alternativa política unitária socialista, de esquerda, sem patrões, que defenda medidas de fundo para acabarmos com a fome e a miséria, o que passa por construir um governo da classe trabalhadora e um Brasil Socialista.

01/12/2022

Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores – CST-PSOL