Grandes greves na Grã-Bretanha  

 

por Miguel Lamas, dirigente da UIT-QI

 

Em meio à crise capitalista mundial e suas graves consequências para os povos trabalhadores, sobre quem os governos tentam descarregar todo o peso da crise, multiplicam-se as greves na Europa e nos Estados Unidos. A classe trabalhadora da Grã-Bretanha está realizando as maiores greves em muitas décadas.

A Grã-Bretanha, um dos países imperialistas mais importantes, está em seu pior momento de crise desde a Segunda Guerra Mundial. A inflação pode chegar a 13% neste ano. Ainda que isso possa parecer pouco para a América Latina, é gravíssimo na Grã-Bretanha, com salários semicongelados. O salário real é o mais baixo em muitas décadas, mas isso não é tudo. O Sistema Nacional de Saúde está cada vez pior, com baixos salários e falta de pessoal. O congelamento e redução dos investimentos desde 2010 fez com que tenha hoje um dos mais baixos números de leitos hospitalares por pessoa em um país desenvolvido, algo que fez com que os pacientes sofressem durante a pandemia. Junto com isso, houve aumento dos preços da energia elétrica e do gás (em mãos de empresas privadas) superior a 80%. A nafta superou 40% de aumento.

A isso se soma a crise política. O primeiro-ministro conservador Boris Johnson renunciou em junho e só no dia 5 de setembro será nomeada a pessoa para substituí-lo, que será outro conservador nomeado pelo Parlamento, com planos para diminuir ainda mais os investimentos públicos. Desde já, diante disso, cresce o repúdio popular e qualquer novo primeiro-ministro não terá quase nenhum apoio.

Um dos meios de imprensa mais importantes, o direitista “Daily Telegraph”, publicou uma nota através de seu colunista Allister Heath: “Nossa decadência acelerada é trágica e, no entanto, não surpreende. Estamos perto do desenlace, do ponto final, de um quarto de século de fracasso político, intelectual e moral do qual a maioria de nossa classe política é cúmplice”.

Isso é o que dizem os meios de imprensa conservadores, partidários do modelo econômico liberal conservador capitalista consolidado por Margareth Thatcher. A profunda crise de hoje tem sua origem há muitos anos, ainda que hoje esteja agravada pela pandemia e pela guerra na Ucrânia. Por exemplo, a crise da água tem a ver diretamente com a privatização da empresa hídrica e a falta de obras. A crise da saúde pública, tem a ver com a redução de investimentos.

Thatcher atacou os direitos trabalhistas, privatizou grande parte das empresas públicas e restringiu o direito de greve. Uma greve geral seria hoje ilegal no país. E cada greve parcial só pode ser convocada depois de um longo processo que termina em uma votação secreta dos filiados do sindicato, para aprovar ou não a greve.

O Partido Trabalhista, que governou entre 1997 e 2007, com Tony Blair, totalmente subordinado ao grande capital, esteve muito longe da classe trabalhadora, que o fundou a partir de seus sindicatos há um século atrás, e manteve a mesma política capitalista.

 

Estouram as greves

 

Dezenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras estão em greve, liderados pelas 40.000 do RMT, no setor ferroviário, que já fizeram várias nos últimos meses, e os milhares de trabalhadores e trabalhadoras dos ônibus, do metrô, Correios e do sindicato Unite, dos estivadores do Porto de Felixstowe. Antes haviam parado os trabalhadores de linhas aéreas, cancelando milhares de voos. Também há greves em fábricas, setores da saúde e educação. Todos reivindicam aumentos salariais de acordo com a inflação.

O secretário geral do sindicato ferroviário RMT, Mick Lynch, advertiu que o atual descontentamento pode terminar em uma greve geral de fato (a última foi em 1927). “É algo que será decidido pela central de trabalhadores. Mas o que vamos ver em educação, saúde, transporte e no setor privado é ação sincronizada de greve”.

Está colocada a possibilidade de uma greve geral, ainda que a lei não permita. Isso pode abrir uma nova perspectiva para o movimento operário britânico. Como em muitos países do mundo, as e os trabalhadores veem que nenhum dos partidos capitalistas lhes dá solução. Está colocada a necessidade de conquistar um governo do povo trabalhador.

A UIT-QI convoca a solidariedade internacional com a luta das trabalhadoras e dos trabalhadores britânicos para que eles sejam vitoriosos e semeiem seu exemplo na Europa e no resto do mundo.

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