Aliança de Lula com o ruralista Neri Geller: tática eleitoral ou projeto de governo?
Joice Souza – Pré-Candidata a deputada estadual CST-PSOL
No dia 12/07, uma reunião oficializou o apoio do deputado federal Neri Geller (PP-MT) à chapa Lula-Alckmin. O ruralista será candidato a senador no Mato Grosso, apoiado pela federação PT-PV-PCdoB. Também estava presente o senador licenciado Carlos Fávaro (PSD-MT), escolhido para ajudar na elaboração do programa de governo petista. A aliança também tem o apoio do ex-governador Blairo Maggi (PP).
Notícias de bastidores apontam que os “novos” aliados indicarão o nome do futuro Ministro da Agricultura do governo Lula. Tanto Geller como Maggi foram ministros nos governos petistas.
QUEM É NERI GELLER?
Neri Geller é um dos principais líderes da frente parlamentar da agropecuária e dono de grandes fazendas no Mato Grosso, parte delas em territórios de disputa com os povos paresi, munduruku, arapiaka e kaiabi. Não à toa, Geller é um dos principais articuladores do Marco Temporal (PL 490), que determina que só haverá demarcação de terras indígenas se estas tiverem sido ocupadas até 1988.
Outros projetos de ataque aos povos indígenas e ao meio ambiente contam com a digital de Geller, tais como o Projeto de Lei 6299/02, o “pacote do veneno”, e o PL da Grilagem que facilita a regularização de terras da União sem vistoria prévia. Geller também é defensor de regras mais “flexíveis” de licenciamento ambiental e o “auto licenciamento” feito pelas empresas, sem fiscalização de órgãos estatais.
Em suas redes sociais, o deputado comemorou a “aliança pelo bem de Mato Grosso e do Brasil” que, segundo ele, vai trabalhar pelo “fortalecimento do agronegócio”.
O que realmente significa essa “tática eleitoral”?
Semanas antes da reunião, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros disse em entrevista a UOL, que as articulações de Lula com o centro deveriam ser “compreendidas como tática eleitoral, mas o que se faz do governo é outra coisa”. A direção do PSOL tenta vender a ilusão de que alianças eleitorais não influenciam o tipo de governo que teremos. Nós afirmamos, categoricamente, o contrário. Como vimos acima, há toda uma costura para que os ruralistas e seu projeto inimigo dos povos indígenas sejam parte do governo Lula-Alckmin. Diferente do que diz Juliano Medeiros, a tática eleitoral é errada porque concilia com nossos inimigos. Ela surge de uma estratégia de colaboração de classes e gera um governo com e para o agronegócio, multinacionais como a Vale, Hydro e Cargill.
Enquanto propagandeia a criação de um ministério indígena, Lula costura a entrega do Ministério da Agricultura para o Agronegócio e, apesar das palavras bonitas, o programa da Chapa Lula-Alckmin não traz propostas concretas sobre a prometida “defesa dos povos indígenas”, não fala em revogar ou vetar Leis que os atacam e não o faz porque isso desagradaria os ruralistas.
Os interesses dos ruralistas são inconciliáveis com a luta dos povos indígenas e em defesa do meio ambiente. Quando um ganha, o outro perde. O avanço das fronteiras do agronegócio obedece ao objetivo do lucro dos grandes latifundiários e das multinacionais e não das verdadeiras necessidades da população trabalhadora, dos povos originários e da defesa de nossos biomas.
A frente ampla apresenta como alternativa um governo de conciliação desses dois setores. Essa alternativa é completamente falsa e levará mais dia, menos dia a atacar direitos, como ocorreu na construção da UHE de Belo Monte no Pará.
Por isso, ao invés de conciliação, é preciso um programa de enfrentamento e independência de classe. É necessário apoiar a luta dos povos originários e camponeses contra a ação das mineradoras e do agronegócio e contra projetos de Lei como o marco temporal.
Nós, da CST, tendência do PSOL e construtora do Polo Socialista e Revolucionário defendemos uma Reforma Agrária sob controle dos trabalhadores; a expropriação de multinacionais e grandes empresas agropecuárias, bem como das empresas poluidoras e que desmatam; a defesa de políticas contra a catástrofe ambiental; a demarcação das terras indígenas. Não pagar a dívida pública e destinar recursos para os órgãos ambientais, para a ampliação de créditos baratos aos camponeses, de combate ao desmatamento do agronegócio capitalista, para a defesa da Amazônia e todos os biomas e para e produção de alimentos baratos para o povo trabalhador. Esse programa só será possível em um governo da classe trabalhadora. Por isso, estamos com Vera Lúcia e Raquel Tremembé como pré-candidatas a presidência e vice; no estado do Pará, com Cleber e João Santigo como pré-candidatos a governador e Senado; e a CST apresenta Mariza Santos e Joice Souza para deputadas.