Panamá: seguem os protestos contra o ajuste
por Virgilio Araúz, dirigente da Proposta Socialista, seção panamenha da UIT-QI
Desde o início do julho, o Panamá presencia uma greve de professores a nível nacional, com manifestações diárias das principais forças sindicais, agrupadas na “Aliança Povo Unido Pela Vida” e “Aliança Nacional pelos Direitos do Povo” (ANADEPO). Na primeira, destaca-se o sindicato mais forte do país, SUNTRACS, da construção, e a Associação de Professores da República do Panamá, centrais sindicais, como CONUSI, Convergência Sindical, Central Nacional de Trabalhadores, federações e sindicatos independentes. Na ANADEPO, destaca-se a importante Associação de Educadores de Veraguas e outros sindicatos docentes, federações sindicais, como FUCLAT, e outros grupos populares. Participam, além dessas organizações, os povos originários, como os Gnobe Bugle, que têm sido um fator importante nas paralisações de rodovias em direção à província limítrofe com a Costa Rica e, consequentemente, com o resto da América Central. Também participam setores sindicais independentes, como a Associação de Empregados da Caixa de Seguro Social, moradores agrupados na Coordenação Victoriano Lorenzo e independentes, já que integraram-se às mobilizações vastos setores da população que não são parte das organizações existentes…
A classe trabalhadora e o povo enfrentam o plano do imperialismo ianque, FMI e Banco Mundial
O governo de Cortizo (PRD), vem entregando cada vez mais o país para as multinacionais. Quase todos os projetos econômicos têm a ver com zonas especiais, como a Panamá-Pacífico, ou a chamada “Cidade do Saber”, ambas construídas em áreas recuperadas pela luta anti-imperialista, junto ao canal, e que eram bases militares ianques, localizadas no que era a zona do canal…
Todos esses projetos de entrega do país são vendidos com a desculpa de criar empregos. Outra farsa, não apenas do governo, mas do regime imposto pela invasão imperialista em 1989. Essa política é integrada por toda a burguesia e seus partidos…
É o país considerado por organismos internacionais como o sexto mais desigual do mundo. No entanto, negam-se doações por considerá-lo de nível médio, de acordo com seu PIB e ingressos.
O imperialismo ianque e a burguesia insistem no plano, para o qual aproveitaram a pandemia e, agora, a invasão de Putin-Rússia na Ucrânia para fazer o ajuste na empresa privada, com legislações antioperárias do governo Cortizo, que permitiu às empresas realizarem demissões com “acordo mútuo” e outras, fazendo o ajuste que desejam há muitas décadas. Trata-se da política do capitalismo neoliberal de fazer a classe trabalhadora e o povo pagarem a crise capitalista.
Toda a aplicação do plano é acompanhada de níveis de corrupção históricos, que, nos últimos 15 anos, ultrapassa os 15 bilhões de dólares roubados por governos de todos os partidos.
Essa política vem sendo enfrentada hoje pela classe trabalhadora e setores populares em luta.
O governo cede, mas não é o suficiente
O governo de Cortizo vem cedendo em algumas coisas. Ao início da luta, rebaixou o preço da gasolina em 25 e 28 centavos de dólar, de um preço de quase 6 dólares o galão. Agora, na intensificação das lutas e na paralisação de quase todo o país, rebaixou a 3,95 dólares o galão e congelou 10 produtos da cesta básica de alimentos. A isso se agrega um ajuste de 10% na folha de pagamento estatal e contenção de gastos, sobretudo em viagens e diárias.
O comunicado da Proposta Socialista (UIT-QI), interpretando as necessidades da classe trabalhadora e do povo, defende as demandas:
– Gasolina a 3 dólares;
– Diminuição e congelamento do preço de toda a cesta básica;
– Basta da máfia farmacêutica: diminuição e congelamento dos preços de medicamentos e abastecimento de 100% das farmácias da Caixa de Seguridade Social e dos postos de saúde pública.
“Uma só mesa, uma só luta”. Que o governo não nos divida dizendo com quem negocia: uma só equipe de negociação. Agrega o comunicado, respondendo ao ajuste da folha de pagamento:
Não aceitamos que trabalhadoras e trabalhadores estatais sejam bodes expiatórios, como defendem as entidades empresariais, canais de TV, partidos tradicionais e empresários.
A Proposta Socialista (UIT-QI), denuncia a intenção do governo:
O governo pretende aplicar o plano do FMI e do Banco Mundial, com demissões massivas de mais de 20 mil trabalhadores e trabalhadoras estatais, como parte do plano de privatização de toda participação do estado na economia. Isso inclui a Caixa de Seguridade Social, a saúde e a educação. O discurso empresarial, de partidos tradicionais e de falsos independentes, como Juan Diego Vásquez, o sionista e pró-ianque Edison Broce, entre outros, tem sido contra a folha de pagamento estatal, disfarçando como um discurso contra o “clientelismo”, que afirmam ser a causa de todos os males, quando esse forma parte do sistema que eles chamam de democrático (com fome e desemprego.
Conclui o comunicado da Proposta Socialista:
A crise capitalista é produto da exploração de empresas multinacionais e nacionais, da opressão imperialista através de planos do FMI e do Banco Mundial, que querem manter suas margens de lucros e que paguemos uma dívida que, apesar de já termos pago diversas vezes, segue crescendo, financiando conscientemente a corrupção em governos a seu serviço.
A classe trabalhadora e o povo não devem pagar pela crise: que as empresas multinacionais e nacionais paguem todos os impostos; não à evasão; imposto de emergência a empresas multinacionais e nacionais; não ao pagamento da dívida que financia a corrupção.
Em outros comunicados e em seu periódico, a Proposta Socialista (UIT-QI) tem defendido que, diante da intransigência governamental, é preciso seguir a luta. E também tem defendido que a saída de fundo é a luta por um governo da classe trabalhadora e do povo, que vire o jogo, acabando com a exploração e opressão imperialista, com a dívida externa, e que conquiste o pleno emprego digno, educação, saúde e seguridade gratuita e de qualidade, etc.