Em resposta ao camarada Leandro Fontes e aos camaradas do MES
Rosi Messias e Denis Melo, coordenação da CST
Estamos diante de desafios na conjuntura. Seguir a batalha contra o bolsonarismo é a tarefa fundamental que temos pela frente, batalha na qual estamos empenhados. Ao mesmo tempo, devemos lutar pela independência política da classe trabalhadora. Com o presente texto, nós, da CST, continuamos o debate com os camaradas do MES, em particular com o companheiro Leandro Fontes, que em recente texto no site do MES nos definiu como tendo um curso “cético, sectário, dogmático e auto proclamatório” por não apoiarmos o voto na chapa de Lula-Alckmin, visto que a CST se nega a apoiar alianças eleitorais com setores patronais, como é o caso de Alckmin. Porém, o debate é mais profundo do que o simples voto. Leandro Fontes e o MES polemizam conosco e afirmam que o MES, com sua atual política, tem o objetivo de “fortalecer a ala Marxista revolucionária” do PSOL. Nós, da CST, opinamos o oposto. Atualmente, o MES está contribuindo para debilitar a oposição de esquerda do PSOL. Vejamos:
A federação com a REDE
Leandro Fontes e os camaradas do MES afirmam que a CST demonstra seu suposto “sectarismo” porque “
Apoio à frente ampla Lula/Alckmin
Leandro Fontes diz que o MES dá apenas um “apoio crítico no primeiro turno a Lula”, o que, segundo ele, ficou explícito no discurso de Luciana Genro no ato com Lula/Alckmin no RS. No comício gaúcho, Luciana disse: “a política de conciliação de classes não vai proporcionar a resolução dos problemas do povo brasileiro… que é preciso enfrentar o sistema financeiro e taxar as grandes fortunas”. A CST opina que essa atuação nada teve de crítica. Trata-se de uma frase genérica, um conselho amigável a Lula e à frente ampla. Se uniram à maioria da direção do PSOL para fotografar e fazer o “L” com Lula/Alckmin presentes. Supõe-se que alguém que vá fazer uma campanha crítica não iria a esse ato com Lula-Alckmin e faria sua campanha de forma independente; ou, caso decidisse ir, deveriam ter feito um discurso contundente e independente, algo que não vimos no discurso de Luciana e do MES. Em seu discurso, a camarada não fez nenhuma denúncia concreta da coligação com os patrões e da presença de Alckmin como vice de Lula, o que é a encarnação dessa política de conciliação de classes; não denunciou que é um erro buscar o apoio do MDB e do PSD, de Kassab. Por outro lado, o “conselho” de que é preciso “enfrentar o sistema financeiro e taxar as grandes fortunas” semeia a ilusão de que o programa burguês da frente popular pode ser disputado para a esquerda. É bom que se diga que Lula, no Rio Grande do Sul, defendeu seu projeto publicamente, inclusive na mídia burguesa gaúcha. Defendeu o pagamento da dívida pública, as empreiteiras, as políticas focalizadas, e – o mais absurdo – a reforma da previdência, que está na raiz da fundação do PSOL. Lula disse: “Eu quero dizer que você pode fazer uma reforma na Previdência negociada, e eu fiz ela para o setor público” (https://lula.com.br/
Não é verdade que temos que desmontar os 44% e simplesmente nos somar a campanha de Lula/Alckmin. Deveríamos aproveitar o primeiro turno para apresentar as pautas operárias e populares. Se fosse apenas uma questão de “dar o voto”, poderiam ter esperado o segundo turno e, então, dar o voto crítico contra Bolsonaro, como fizemos em 2018. A CST não é sectária, simplesmente denuncia esse crime político da maioria da direção do PSOL e seguimos lutando pelo PSOL das origens, sem patrões, pela independência de classe. Para não sucumbir em alianças com setores empresariais, defendemos uma Frente de Esquerda e Socialista com a UP, PCB e o Polo Socialista.
O governo Chaves, Siryza e Podemos
O companheiro Leandro Fontes, mais de uma vez, tentar pintar um quadro positivo do MES, que seria uma organização “aberta”, seriam os “revolucionários que buscam romper a marginalidade”. Ela escreve uma história falsa das diferenças entre o MES e a CST. Afirma que nos dividimos em 2002 porque eles eram contra a definição de que havia uma “situação revolucionária mundial”; diz que a CST estava contra o “reagrupamento” de “revolucionários” e que eles se abriram a processos de massas, como o de Chaves, na Venezuela, Siryza, na Grécia, ou Podemos, no Estado Espanhol, como parte de suas “táticas”. Define a CST como “sectária” por não apoiar Chaves, Siryza ou Podemos. É aí onde está o problema: o próprio Leandro nos abre o caminho para revelarmos a verdade. Eles dividiram a organização para apoiar os governos reformistas burgueses de Chaves, visto que o definiam como de “ruptura com a burguesia” (ver Setenta anos de lutas e revoluções na América Latina, P. Fuentes, Pagina 141). Após a nossa ruptura, seguiram esse rumo, apoiando os governos burgueses de Siryza e Podemos. Não podemos semear a ilusão de que os problemas na Venezuela são do governo Maduro, como afirma Fontes quando menciona “equívocos cometidos pela chavismo desconfigurado por Maduro”. A CST dizia, já naquele momento, que Chaves não iria romper com o capitalismo, que pactuava com as multinacionais do petróleo, que se apoiava na boliburguesia e que ia afundar os trabalhadores e o povo venezuelano (o que foi continuado por Maduro). Do mesmo modo, combatemos desde a primeira hora e nunca capitulamos aos governos burgueses de conciliação de classe de Siryza e Podemos. Os fatos demostram quem estava certo.
O tamanho não é atestado de correção política
Outro argumento de Leandro Fontes é que o tamanho do MES é uma certidão de que sua política e orientação são corretas. Isso é equivocado. Sendo assim teríamos – absurdamente – que dar razão aos reformistas, pois são imensas organizações. Teríamos que dar razão aos stalinistas, que sempre foram maiores que os trotskistas. O dirigente Nahuel Moreno, mesmo em minoria, sempre combateu a conciliação de classes, o apoio direto e indireto a governos comuns com a burguesia. O que o camarada Leandro Fontes não relata é que grande parte desse período de crescimento do MES se deu rompendo fronteiras de classe no seu financiamento e política de alianças: a) o financiamento eleitoral de 2008, por meio do dinheiro das empresas Gerdau e Taurus; o financiamento do cursinho Emancipa, em 2011, pela rede Zaffari (supermercados), Panvel, Multiplan, além da FECOMERCIO (federação patronal do Comércio); b) apoio à política de alianças com partidos burgueses, como PV, PSB, PDT e REDE.
Por outro lado, podemos citar erros como o rebaixamento de seu programa, adaptando ao senso-comum e ao gosto do público, cujo exemplo mais emblemático foi o “Viva a Lava Jato”, de 2016. Até mesmo atuações parlamentares equivocadas, como, num exemplo recente, o apoio a Baleia Rossi, do MDB, para a presidência da Câmara, em 2021.
A questão é que não há atalhos para construir uma organização revolucionária. Construir uma organização rebaixando o seu programa, apoiando a velha direita ou com dinheiro da burguesia não é algo correto. No plano imediato, isso pode significar aumentar diretórios/delegados nos congressos do PSOL ou conquistar parlamentares. Mas a longo prazo, caso nada mude, o preço que se paga pode ser alto demais.
Chama a atenção que, em toda a longa descrição do MES, o camarada Leandro esqueça que, assim como nós e outras forças, eles também tiveram rupturas. O grupo ligado ao MTL, que terminou com Carlinhos Cachoeira ou no PSB; o grupo de Pernambuco, do Polo que se acoplou à ala majoritária; o grupo do Rio Grande do Sul, que também se juntou ao campo majoritário; ou recentemente, no RJ, estado do camarada Leandro Fontes, a infeliz ruptura do deputado David Miranda, que terminou no PDT, de Ciro Gomes. Isso para citar alguns exemplos.
Outro elemento no balanço nada objetivo (e muito auto proclamatório) feito pelo camarada Leandro e pela direção do MES é que se “esquecem” de falar dos resultados do chamado “reagrupamento internacional”. O fato é que no, plano internacional, o projeto do MES entrou em profunda crise. O “Reagrupamento”, como se intitulava, terminou com o MST da Argentina e outros grupos e dirigentes. O MES ficou praticamente como uma corrente nacional. Hoje, o MES integra o SU, que, no Brasil, possui 4 organizações com políticas divergentes, duas delas com peso no Campo Semente (o fiel da balança que sustenta o campo majoritário do PSOL).
MES participa do governo de conciliação de classes de Edmilson Rodrigues
Para justificar que o voto em Lula é apenas uma tática eleitoral, dizem que “a polêmica mais grave no partido é a não entrada no governo Lula”. No entanto, isso se contradiz com a participação do MES no governo de conciliação de classes de Belém do Pará. O MES compõe o primeiro escalão da Prefeitura de Belém, no cargo de Secretário de Direitos Humanos. A Prefeitura é composta por partidos burgueses, como REDE, PSB e PDT, mantem um pacto de governabilidade com a corrupta câmara de vereadores e governa junto com o MDB, da família Barbalho. Uma Prefeitura que, recentemente, autorizou o corte de salários de trabalhadores e trabalhadoras da educação que estiveram em greve durante meses reivindicando o pagamento do piso salarial., Hoje esses trabalhadores estão recebendo apenas R$ 896,26. Ou seja, o MÊS está à frente de uma secretaria de direitos humanos em uma Prefeitura que corta salário de grevistas e reprime manifestações contra o aumento das passagens, ao mesmo tempo em que dizem que o “rubicão” é a entrada do PSOL no governo da frente ampla de Lula/Alckmin. Não ser parte de governos comuns com a burguesia é uma questão de princípio. Apelamos que os camaradas do MES reflitam e rompam com a Prefeitura da frente ampla de Edmilson.
Fortalecer um polo de independência de classe
Por fim, toda a política do MES, ao dividir os 44% e não apoiar um candidato da esquerda independente, debilita a verdadeira luta por uma esquerda revolucionária no PSOL. A CST, como tendência radical do PSOL, constrói o Polo Socialista Revolucionário e apoia a pré-candidatura da Vera Lúcia à presidência da república. Uma tática eleitoral de independência de classe para, no primeiro turno, afirmar as pautas da classe trabalhadora. Ao mesmo tempo, defendemos a Frente de Esquerda e Socialista, com o objetivo de impedir uma pulverização das forças que estão fora do campo da conciliação de classes, junto com a defesa de um programa anticapitalista que inclua o não pagamento da dívida aos banqueiros e a taxação das grandes fortunas. Lançamos pré-candidatos a deputados estaduais e federais pelo PSOL, como é caso do nosso camarada Babá, um dos fundadores do partido, que segue lutando por um PSOL das origens. Não estaremos nos palanques da frente ampla de Lula/Alckmin nem de seus apoiadores para os governos estaduais e o Senado. Assim, podemos batalhar para fortalecer uma verdadeira “ala marxista revolucionária” no PSOL e na esquerda.