Equador: Massiva mobilização do povo trabalhador e indígena
Por Miguel Lamas, dirigente da UIT-QI
17/06/2022
A CONAIE (Organização Nacional Indígena do Equador), organizações de estudantes, de bairros e a FUT (Frente Unida de Trabalhadores) tomam as ruas do Equador contra o governo neoliberal e pró-imperialista de Lasso, contra suas medidas econômicas e repressivas.
Desde o dia 13, iniciou uma paralisação de tempo indefinido com bloqueio de vias, convocado pela CONAIE. Organizações estudantis universitárias saíram a protestar em Quito. Por sua parte, a União Nacional de Educadores, a Frente Popular e a Frente Unida de Trabalhadores anunciaram mobilizações para os próximos dias. A organização política Somos Água, encabeçada por Yaku Pérez, também manifestou seu apoio ao protesto popular e participou das marchas.
O fato que desencadeou os protestos foi, como na rebelião popular indígena de 2019, o aumento dos combustíveis em mais de 50%. Os preços internos dos combustíveis estão “liberados” por ordem do FMI, sendo que o Equador é um país produtor e exportador de combustíveis. O país vive uma crise econômica, aumento de produtos de primeira necessidade, mineração extrativista que está destruindo florestas e fontes de água, aumento de pobreza, desemprego, flexibilização trabalhista, informalidade e salários miseráveis. Também há uma crise envolvendo máfias que controlam o narcotráfico e violência nas prisões, com centenas de mortos.
O governo neoliberal do banqueiro Lasso acata ordens do FMI para pagar a dívida externa, preservar os lucros das multinacionais e banqueiros e descarregar a crise sobre os trabalhadores. Também faz uso de medidas repressivas, como a recente “Lei de Uso Legítimo da Violência”, que foi lamentavelmente apoiada pela oposição correista, e que autoriza a repressão militar e até o uso de armas de fogo para reprimir protestos populares, taxados de “terrorismo”. Há duas semanas, também foram detidos 8 militantes do Movimento Guevarista Terra e Liberdade, acusados de terroristas. No dia 13 foi detido e processado Leónidas Issa, máximo dirigente da CONAIE, por “interromper serviços públicos”. Outros 20 estudantes e camponeses foram detidos nos protestos.
As marchas e bloqueios exigem que se baixe o preço dos combustíveis. Outra reivindicação são a redução dos preços dos alimentos, que elevaram-se de forma desmesurada, e controle eficaz contra os especuladores; não à mineração extrativista lesiva que destrói a natureza; não à privatização de empresas estatais; moratória de 1 ano no sistema financeira para que as famílias paguem suas dívidas; preços justos nos produtos do campo; emprego e direitos trabalhistas; não à mineração em territórios indígenas e em fontes de água; não à privatização dos setores estratégicos; aumento de investimento urgente para saúde e educação; livre acesso em universidades públicas; não mais endividamento, não ao pagamento da dívida externa. Também se reivindica o fim das leis repressivas e a liberdade dos presos por lutar. Nos protestos de rua se escutam as palavras de ordem “que se vayan todos!” (Fora Todos!) e “Fora Lasso!”.
Para vencer e conquistar mudanças de fundo, é urgente unificar e coordenar essa poderosa mobilização do povo trabalhador, a unidade das organizações em luta e elaborar um programa comum de demandas operárias, populares, indígenas e estudantis, com um plano econômico que permita colocá-las em prática. Nesse sentido, o Equador conta com a importante tradição da Assembleia Nacional dos Povos, que, com representantes das organizações indígenas, populares e operárias, esteve reunida nos momentos de crise política, como em 2005 e 2019. É preciso impulsionar desde as bases da CONAIE, da FUT e das demais organizações em luta, reivindicando essa unidade aos dirigentes para que convoquem a Assembleia Nacional dos Povos que possa concretizá-la e formular um programa para derrubar o governo de Lasso e do FMI e governar o Equador com o povo trabalhador.