EDITORIAL | A posição da CST nas eleições | Combate Socialista n°153
O governo de Bolsonaro significou, até o momento, 600 mil mortes, 20 milhões de pessoas passando fome e aumento do desemprego. Tudo está muito caro, os salários estão arrochados e não sobra dinheiro pro gás, luz ou ônibus. Mais de 1 milhão de pessoas estão sem receber o Auxílio Brasil, numa “fila de espera”. Bolsonaro defende a Ditadura de 1964, as chacinas dos negros e indígenas e lidera um governo capitalista ultrarreacionário da corrupção na compra de vacinas, caminhões de lixo ou cartão corporativo.
A indignação contra Bolsonaro é alta
O genocídio e a queda do nível de vida desgastam o bolsonarismo. Nas eleições municipais de 2020, vimos esse enfraquecimento quando as candidaturas da extrema direita foram derrotadas. Em 2021, a indignação popular se expressou nas manifestações pelo Fora Bolsonaro, por salário, emprego e serviços públicos. Bolsonaro é o primeiro presidente que tenta reeleição e não lidera as pesquisas. Segundo o Datafolha, 55% declaram que “não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum”. A insatisfação social, combinada à possibilidade de derrota eleitoral, leva Bolsonaro a questionar as urnas eletrônicas. Esse discurso autoritário busca unificar eleitores para fugir dos problemas do arrocho salarial, fome e o desemprego. As ideias ultrarreacionárias de Bolsonaro devem ser combatidas já, sem subestimá-lo, com uma mobilização nacional unificada (ver box).
O desgaste bolsonarista se expressa no crescimento eleitoral da chapa Lula/Alckmin, que lidera as pesquisas e possui chance de vitória no primeiro turno.
A frente ampla Lula/Alckmin é a saída?
São milhões de trabalhadores e jovens, com maior ou menor entusiasmo, que pensam em utilizar o voto na frente ampla de Lula/Alckmin para derrotar o bolsonarismo e resolver nossos problemas. Entendemos essa ideia, mas discordamos. A CST avalia que Lula/Alckmin não são uma alternativa real para a classe trabalhadora.
As eleições são um período em que o povo trabalhador pensa em quem deve governar. Os projetos que se apresentam no primeiro turno são uma oportunidade para debater os rumos do país. Nós, socialistas revolucionários, devemos ir à raiz dos problemas e divulgar propostas dos explorados e oprimidos, sendo radicais na defesa da independência política da classe trabalhadora, algo que a maioria da esquerda abandonou.
Lula está com os patrões e representantes dos patrões
O Lula está com os patrões e representantes dos patrões. Trata-se de uma coligação que tem como vice Geraldo Alckmin, ex-presidente do PSDB, antes chamado de “fascista” e “golpista” pelo PT. Ele governou SP atacando a USP, UNICAMP, escolas públicas, secundaristas e metroviários. Seu governo foi marcado por repressão à ocupação do Pinheirinho, além de corrupção na construção de rodovias e merendas. Alckmin é da Opus Dei, a extrema direita do Vaticano. Apoiou o impeachment, Temer e ficou neutro no segundo turno de Bolsonaro e Haddad em 2018. O PSDB de Alckmin governou o país nos anos 1990, privatizando a Vale, Telebras, empresas estaduais (Banerj, transportes, CEG/RJ) e assassinando trabalhadores sem terra em Eldorado dos Carajás/PA. Não é um “companheiro”.
A frente ampla envolve partidos burgueses, como REDE e PSB, o corrupto Renan Calheiros (MDB) e setores do PSD, que possui ministérios no governo Bolsonaro. Além disso, ocorrem reuniões com magnatas. Gleisi Hoffmann, Guido Mantega e Fernando Haddad reuniram com Abílio Diniz (Península), Flávio Rocha (Riachuelo), Cândido Pinheiro (Hapvida), Eugênio Mattar (Localiza), Jan Jereissati (Ambev), José Olympio (Credit Suiss), Ricardo Saad (Band), Washington Cinel (empresário bolsonarista), etc. O PT baixou a cabeça para os bilionários: “não há ninguém com mais disposição de conciliar do que o presidente Lula” disse Gleisi; “É o Lula conciliador… Ele fará um governo de centro”, declarou Mantega, que elogiou o presidente do Banco Central de Bolsonaro; “O PT não é um partido de esquerda”, falou Haddad. Tudo para tranquilizar empresários e banqueiros. A aliança com patrões não vai solucionar nossos problemas. Para reverter o arrocho e o desemprego é preciso atacar empresários, banqueiros e multinacionais.
As propostas da frente ampla não solucionam os problemas do povo trabalhador
Os discursos de Lula atraem trabalhadores e jovens cansados do genocídio bolsonarista. Lula constata que existe uma crise social, mas nunca apresenta uma saída concreta. O PT não propõe a revogação da reforma da previdência. Lula critica a reforma trabalhista apenas defendendo o retorno do imposto sindical aos pelegos das centrais sindicais, mas se nega a revogá-la de conjunto. Fala vagamente de diminuir a informalidade por meio de uma comissão tripartite (patrões, centrais e governo), cuja composição não pode garantir avanços. Apesar das críticas ao teto de gastos, ele segue defendendo a responsabilidade fiscal e o pagamento da dívida externa e interna aos banqueiros. Não tem propostas concretas no tema democrático para punir os torturadores da Ditadura e pôr fim à PM racista.
No encontro com as Centrais Sindicais, afirmou: “Nós vamos estudar esse documento e chamar empresários para conversar… Queremos chamar as centrais, mas também o presidente da CNI, da Fiesp e da Febraban, para saber o compromisso de cada um em reconstruir esse país”. A Febraban arrocha salários e demite bancários e terceirizados. O Benjamin Steinbruch, da CSN, congelou salários e demitiu grevistas. A FIESP organizou o impeachment de Dilma e sustentou Temer e Bolsonaro. O Abílio Diniz elogia a gestão econômica de Bolsonaro. Ou seja, as propostas e programas com patrões não servem. Eles não vão deixar de nos explorar e oprimir.
Lula e o PT já governaram em aliança com os patrões e isso não deu certo
O PT já governou o país por 13 anos em alianças com os patrões. Primeiro com Lula/José Alencar (PT/PL) e depois com Dilma/Michel Temer (PT/PMDB). Lula fala como se esses 13 anos tivessem sido um paraíso na terra. Mas não foi assim. O PT governou para e com os empresários e as multinacionais, aplicando reformas da previdência, privatizações dos Hospitais Universitários, leilões das bacias petrolíferas e desinvestimento da Petrobras. Em seus governos tivemos a usina de Belo Monte, a liberação de transgênicos, o ajuste Dilma/Levy e cortes de verbas das universidades. Foi o PT que criou a repressora Força de Segurança Nacional, a lei de drogas, que ampliou as prisões da juventude negra, realizou as ocupações militares nas favelas do RJ e a lei antiterrorismo. O PT atuou por dentro dos esquemas da república dos ricos e entrou na corrupção da compra de votos, desvios na Petrobras e obras para a Copa da FIFA.
As políticas sociais focalizadas, orientadas pelo Banco Mundial, mostraram sua insuficiência e o mal-estar social explodiu nas jornadas de junho de 2013. Não esquecemos que Alckmin e o prefeito Haddad realizaram juntos o aumento das passagens e a repressão às jornadas de junho e aos protestos contra a FIFA. O PT perdeu base social e a burguesia rompeu com o PT, realizando o impeachment e apostando em Temer para acelerar o ajuste fiscal. Essa falência do projeto de conciliação de classes, a decepção das massas com os maiores partidos (PT, PSDB, MDB) e a forte crise econômica abriram espaço para a extrema direita vencer as eleições.
Atualmente, os governadores e prefeitos lulistas apoiaram a reforma da previdência de Paulo Guedes e aplicaram reformas da previdência ou pacotes de ajustes fiscais contra os servidores. Entregaram a base de Alcântara aos EUA no Maranhão, atacaram as universidades na Bahia e reprimiram manifestações antifascistas em Pernambuco.
O PSOL fortalece a frente ampla e abandona o projeto de ser um partido independente
A frente ampla de Lula/Alckmin se fortaleceu com a adesão do PSOL a essa coligação. O PSOL definiu, também, realizar uma federação com a REDE, um partido ligado ao Itaú. Isso significa o abandono do caráter de esquerda independente do PSOL. A direção do PSOL não apenas deu o voto para a frente ampla Lula/Alckmin; eles compõem chapa na justiça eleitoral, a coordenação de campanha e elaboram um programa para o futuro governo. Estão na frente ampla por opção própria, porque concordam com essa linha. Eles rejeitaram a proposta de candidatura de Glauber Braga à presidência, negando-se a utilizar o primeiro turno para apresentar as propostas da classe trabalhadora e do povo. Tudo para encaixar o PSOL no futuro governo burguês de Lula/Alckmin.
Por isso, a CST não vai apoiar a decisão do PSOL de votar em Lula/Alckmin. Defendemos um PSOL sem patrões, lutando pelo PSOL das origens. Somos psolistas radicais, que apoiam a pré-candidatura de Vera Lúcia, do Polo Socialista e Revolucionário, para fortalecer uma alternativa de esquerda independente. Apoiamos Vera Lúcia e as pré-candidaturas aos governos dos estados e ao Senado do Polo para fortalecer uma esquerda que defende o não pagamento da dívida e um plano de emergência econômico operário e popular; para combater os pelegos e burocratas vendidos e construir uma nova direção democrática e de luta nos sindicatos e movimentos sociais; para apoiar as lutas da classe trabalhadora, estudantes, das mulheres, negros e negras e ambientais. Propomos uma Frente de Esquerda e Socialista, que unifique o Polo, a UP, PCB e as esquerdas do PSOL (ver pág. 11). Queremos uma alternativa que não se una aos políticos patronais e lute por uma mudança de fundo, por um governo da classe trabalhadora, rumo a um Brasil socialista (veja propostas programáticas na página 6).