Chile: É preciso votar em Boric para derrotar o pinochetista Kast!

 

 

por Movimento Socialista das e dos Trabalhadores (MST), seção da UIT-QI no Chile

 

O pinochetista José Antonio Kast surpreendeu ao vencer o primeiro turno da eleição presidencial chilena, fazendo 1.961.122 votos contra 1.814.809 conquistados pelo segundo colocado, Gabriel Boric, da Frente Ampla (FA, um partido reformista). Um dos motivos desse resultado é que Kast, o candidato reacionário e misógino da Frente Social Cristã, capitaliza a crise política do Governo de Piñera. Essa crise já havia impactado as primárias do “Vamos Chile” (coalizão de direita), deixando para trás o candidato da UDI, Lavín, e desbancando Sichel, o que permitiu que Kast arrastasse o voto da direita e obtivesse no primeiro turno um pouco mais de 200 mil votos que a direita obteve com o repúdio ao plebiscito de 2020, mas quase meio milhão de votos menos do que Piñera obteve no primeiro turno de 2017.

O resultado eleitoral de Gabriel Boric demonstra que este setor não conseguiu organizar, aglutinar e arrastar para o voto a grande parte das 5,8 milhões de pessoas que haviam votado pela aprovação do plebiscito constitucional. Boric e sua aliança com o PC não derrotou Kast porque toda a campanha eleitoral ficou alheia às demandas populares que seguem pendentes e sem solução desde as mobilizações de 2019. Boric se apresentou como o candidato do Acordo pela Paz, que salvou o Governo de Piñera e o podre regime burguês. Isso deu espaço para a reorganização eleitoral da direita. Boric, por exemplo, posicionou-se contra a liberdades dos presos políticos, buscando “girar ao centro”, em um momento em que o centro está em crise. Assim, somando-se o fracasso da Lista do Povo, as centenas de milhares que se mobilizaram em outubro de 2019 ficaram carentes de uma representação política nessas eleições.

As eleições demonstraram o aprofundamento da crise política do país, já que os partidos tradicionais da Concertação (coalizão frentepopulista) ficaram abaixo dos candidatos que não participaram das primárias e 12 dos 24 partidos legais perderam a sua legalidade. Expressão dessa crise são, também, os votos obtidos por Parisi, candidato que, apesar de não estar no Chile (encontra-se nos Estados Unidos, já que devia estar preso pelo não pagamento de pensões familiares) obteve 12% dos votos. A queda dos partidos tradicionais do regime, junto à crescente crise social, à crise econômica e sanitária, os baixos salários e aumento da miséria provocaram uma polarização política que Kast soube capitalizar à direita e que agora devemos derrotar.

 

Kast é um pinochetista que busca esmagar as lutas e é preciso derrotá-lo nas urnas votando em Boric

 

A candidatura de Kast, seu programa, suas alianças, sua origem familiar e suas declarações públicas o demonstram como um fiel defensor da ditadura pinochetista, que assassinou, torturou e perseguiu centenas de milhares de lutadores sociais e políticos para impor o Plano Condor e aplicar o modelo econômico que segue vigente até hoje, sustentado por todos os governos que se seguiram. Foi contra esse modelo que se levantaram centenas de milhares de pessoas em outubro de 2019. Kast é um defensor da repressão e da tortura. É amigo e aliado político do assassino Krassnoff e do deputado Johannes Kaiser. Em seu programa político para as eleições manifestou posições que o levaram a receber o título de “Bolsonaro chileno” ou “Trump do Chile”. Sua misoginia se manifesta no repúdio ao direito das mulheres e das dissidências sexuais, que ele segue patologizando e perseguindo. Contra os imigrantes, defendeu construir uma vala no norte do país para impedir suas passagens, além de incentivar ações xenófobas contra venezuelanos. Estando no governo, Kast buscará não apenas sustentar o modelo de exploração capitalista, mas também aprofundá-lo. Buscará que as e os presos políticos sigam nas prisões e aumentar a repressão e a criminalização dos protestos a serviço das grandes empresas que roubam nossas aposentadorias, saqueiam nossos recursos e contaminam o meio ambiente. A serviço de demitir os servidores públicos e precarizar a educação. Kast não é somente a continuidade do governo de Piñera, mas representa o que há de mais reacionário na direita, que exige mão de ferro contra os que lutam. Kast não pode passar e devemos derrotá-lo nas urnas votando massivamente em Boric!

 

Pela mais ampla unidade contra Kast: por comitês unitários pelo voto em Boric!

 

A ameaça representada por Kast exige a mais ampla unidade para derrotá-lo. Não há neutralidade possível diante desse perigo que se aproxima. Kast já tem o apoio da maioria da direita. O conjunto dos grandes meios de comunicação buscam embelezar suas posições para esconder o perigo e os grandes capitalistas – em particular o capital financeiro – buscarão apoiar sua candidatura. De nossa parte, o povo trabalhador e as centenas de milhares que não foram votar no primeiro turno, devido à legítima desconfiança e apatia diante do regime explorador e corrupto, devemos organizar o voto em Boric desde as bases.

Nós, do MST, convocamos os trabalhadores, o povo, as mulheres, dissidências, os territórios e povos originários a votar massivamente em Boric para derrotar Kast no segundo turno, como um passo urgente e necessário. Esses comitês são necessários porque não podemos improvisar nessa batalha e porque devemos sair organizados a defender e ampliar nosso voto em Boric nos locais de trabalho e estudo, nas ruas, praças e avenidas.

Esse chamado pela mais ampla unidade em torno do voto em Boric não significa que tenhamos expectativas em um governo da FA+PC. Diferenciamo-nos de sua política ao mesmo tempo em que, ombro a ombro, lutamos juntos para derrotar Kast, e nos mantemos mobilizados na luta independente por todas as nossas reivindicações e em apoio permanente às lutas em curso que seguem buscando uma saída de fundo diante da crise capitalista.

Somos diretos: para derrotar Kast, é preciso votar em Boric e nos organizarmos para que esses votos demonstrem toda a fúria e indignação do povo. A derrota do pinochetista Kast será uma vitória do povo trabalhador, que abrirá um novo capítulo na luta social e política, em que estaremos em melhores condições para aprofundar a mobilização por salários e pensões dignas, para acabar com a previdência privada que nos rouba. Para acabar com o código trabalhista que nos condena à precarização e flexibilização e conquistar a negociação por categoria e direito a greve. A derrota de Kast será um novo gás para a luta pela educação e saúde públicas e para barrar a privatização e o lucro privado. A derrota de Kast no segundo turno é um soco na cara dos reacionários e em defesa dos direitos das mulheres e das dissidências, para pôr fim à violência machista, conquistar o aborto legal, seguro e gratuito, a educação sexual integral e direitos trabalhistas, educação e saúde para que as pessoas trans deixem de morrer aos 37 anos. A derrota de Kast é um passo obrigatório para acabar com a constituição e o modelo pinochetistas e conquistar a liberdade dos presos políticos, a desmilitarização do país, o fim da repressão e dos carabineiros, além da autodeterminação do Povo Mapuche.

Hoje é preciso lutar sem piedade contra Kast e seus aliados. Organizemos comitês unitários em cada bairro, escola e local de trabalho pelo voto em Boric! Hoje e sempre, sigamos mobilizados para acabar com esse sistema explorador e opressor, derrotando os capitalistas e burocratas do governo e erguendo um governo dos trabalhadores e dos povos, que organize a sociedade democraticamente a serviço das necessidades da classe trabalhadora e dos setores populares, e não dos grandes capitalistas. Mãos à obra, pois não há tempo a perder!

 

30 de novembro de 2021

 

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