Unificar a esquerda que rejeita a conciliação de classes de Lula e do PT

 

Diego Vitello e Rosi Messias, Coordenação da CST

 

Os debates eleitorais se aceleraram nas últimas semanas. A conturbada prévia do PSDB deu a vitória ao governador de São Paulo e empresário, João Doria. O ex-ministro de Bolsonaro, Sergio Moro, também lançou sua pré-candidatura, que está sendo “inflada” pela mídia burguesa. O presidente genocida Jair Bolsonaro se filiou ao corrupto PL. Bolsonaro, que antes gritava contra a corrupção, mostra a cada dia que é parte dos esquemas de corrupção, junto com sua família. Essas três variantes burguesas estão comprometidas com o aprofundamento dos ataques à classe trabalhadora. Todas defendem as medidas brutais de retirada de direitos, que, como vimos, só geram a queda no poder de compra, o desemprego e miséria para a maioria do povo.

Combinada a essas movimentações, Lula e o PT se movem mais à direita. Ganhou repercussão nos últimos dias o desejo dos dirigentes petistas em compor uma chapa com Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e tucano histórico. Alckmin, por sua vez, tem agradecido publicamente aos dirigentes do PT, em especial trocando afagos com Lula. Essa política se combina com o desmonte dos atos da campanha nacional Fora Bolsonaro, deixando o PT e Lula de mãos livres para implementar a sua política de aliança com a burguesia. Uma movimentação para “acalmar os mercados” e mostrar que, assim como no passado, seguirão fazendo um governo com e para a burguesia.

Frente a esse cenário, o que deve fazer a esquerda que rejeita um apoio à chapa Lula/Alckmin ano que vem? E para a conjuntura mais imediata, qual deve ser nossa política?

 

PSOL na encruzilhada: aderir à conciliação de classes ou ter um projeto político independente?

 

Há uma profunda divisão no PSOL, partido que ajudamos a fundar e que nasceu como uma resposta frente às alianças do PT com a burguesia e aos ataques que Lula chefiou contra a classe trabalhadora, como a Reforma da Previdência de cunho neoliberal em 2003. De uns anos pra cá, a atual direção majoritária do PSOL (Primavera Socialista, Resistência, Insurgência e Revolução Solidária) buscam selar um acordo eleitoral com Lula para 2022, política que já vem sendo aplicada em Belém, na Prefeitura de Edmilson Rodrigues. De forma envergonhada, pronunciaram-se contrários à aliança que se costura com Alckmin, porém, em nenhum momento ameaçaram romper as negociações com o PT caso isso se concretize.

O partido, 18 anos após sua fundação, passa por uma encruzilhada e a batalha para que continue como um projeto de esquerda independente é levada a cabo hoje pelos setores que defendem conosco a pré-candidatura a presidente do companheiro Glauber Braga, a quem entrevistamos na pág. 8 deste jornal.

 

A esquerda independente do PT pode se unificar nas lutas e nas eleições de 2022

 

Hoje, temos diversos grupos e organizações políticas que estão se negando a aderir ao lulismo. Além das diversas correntes que se articulam em torno da pré-candidatura de Glauber no PSOL (MES, Comuna, CST, LS, SoB e mais diversos grupos regionais), temos a pré-candidatura de Leonardo Péricles pela UP e, também, o Polo Socialista Revolucionário, encabeçado pelo PSTU, ao qual se somou nas últimas semanas o MRT.

Sabemos que o peso da candidatura de Lula sobre setores da classe trabalhadora e da juventude é forte, na medida em que a própria direção do PSOL se nega a construir um polo alternativo. Mesmo com um discurso abstrato e se negando a prometer medidas como a revogação da Reforma Trabalhista e da Previdência ou a taxação das grandes fortunas, Lula é hoje a principal figura de oposição a Bolsonaro. O significado disso, como já discutimos acima, leva a classe trabalhadora ao beco sem saída da conciliação com os patrões, onde nós, trabalhadores e trabalhadoras, seguiremos pagando pela crise. A independência política da classe trabalhadora no atual cenário é o que está no centro do debate.

Frente a essa realidade, temos valorizado muito as movimentações da ala da esquerda do PSOL, da UP, e do PSTU/MRT. Inclusive, estivemos presentes na abertura do Congresso da UP e no lançamento do Polo Socialista e Revolucionário em estados como SP e RJ. Todas essas iniciativas apontam no sentido de demarcar uma posição de independência de classe no cenário político. De nossa parte, seguimos a batalha com Glauber até a Conferência Eleitoral do PSOL, em abril de 2022.

Precisamos evitar a pulverização da esquerda independente do PT. Achamos que é possível explorar ações e discussões programáticas em comum. Todos defendem duas questões fundamentais na atual conjuntura: que, frente ao desmonte dos atos do Fora Bolsonaro, precisamos batalhar para que sejam retomados e voltemos com ainda mais força às ruas, não esperando as eleições para derrotar Bolsonaro, e, também, que a esquerda precisa ter um projeto independente do PT. Nós, da CST, defendemos que todos esses setores se unifiquem em uma Frente de Esquerda Socialista para apresentar uma candidatura unificada com o objetivo de fortalecer um polo de independência de classe nas lutas e nas eleições. Que defenda um projeto do não pagamento da dívida pública aos banqueiros, a taxação das grandes fortunas, a reestatização das empresas privatizadas, a reforma agrária, urbana e a revogação das reformas neoliberais dos governos FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. Evitar a pulverização também é uma das maiores tarefas que temos nos próximos meses para fortalecer um calendário de lutas contra Bolsonaro e combater todas as variantes burguesas.

 

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