Enfrentar Bolsonaro e construir uma alternativa política da classe trabalhadora
Diego Vitello e Adriano Dias, Coordenação da CST
Desde o final do primeiro semestre, estivemos participando da construção dos atos de rua pelo Fora Bolsonaro. As manifestações contaram com a presença de centenas de milhares de manifestantes por todo país, marcando a situação política e mostrando uma importante disposição de luta. Infelizmente, esse processo arrefeceu devido à política completamente equivocada por parte das maiores centrais sindicais (CUT, CTB) e partidos de oposição (PT, PCdoB). O ato que estava marcado para o dia 15 de novembro foi cancelado pela cúpula da coordenação da campanha Fora Bolsonaro, sem nenhuma discussão nas bases.
Em novembro, tivemos os atos encabeçados pelo movimento negro no dia da consciência negra, 20 de novembro, que moveram um expressivo setor nas principais cidades do país, denunciando a política racista do governo da extrema direita. Porém, esses atos poderiam ser muito maiores caso houvesse uma convocação mais forte por parte das direções majoritárias do movimento sindical e da oposição parlamentar.
O desafio que temos até o final de 2021 é fortalecer a construção de novas manifestações de rua contra o governo. No dia 04/12, o movimento feminista está convocando atos por todo país, denunciando a política machista do governo Bolsonaro; e no dia 08/12, os servidores convocam atos nos estados contra a Reforma Administrativa. Fortalecer essas convocações é tarefa fundamental para os próximos dias. Sob o governo da extrema direita aumentou a violência contra as mulheres, além delas serem as principais vítimas do desemprego e da crise econômica.
Bolsonaro, Guedes e a burguesia afundam o país na crise
A situação do país é desastrosa e, se não derrotarmos esse governo, vai piorar ainda mais. A estimativa é que, em 2021, a inflação ultrapasse os 10%. O desemprego bate recordes e metade da população economicamente ativa do país está na informalidade ou sem nenhum tipo de ocupação. A população que passa fome dobrou: em 2019, esse gravíssimo problema atingia 9,8 milhões de brasileiros; hoje, apenas dois anos depois, temos 20 milhões de brasileiros passando fome. Somado a isso, vemos cortes maciços nos investimentos em áreas como saúde e educação. As privatizações também avançam. Temos a ameaça constante da privatização dos Correios e da Eletrobras, gigantescas empresas estatais que Paulo Guedes quer entregar para seus comparsas do mercado financeiro. Combinado a isso, Bolsonaro quer impor, junto com o Congresso Nacional, a PEC dos Precatórios, que atinge duramente a classe trabalhadora. Dívidas do governo com os trabalhadores, que deveriam ser pagas em meses, poderão levar anos e até décadas. Enquanto isso, Bolsonaro garante o lucro dos banqueiros e das grandes empresas. As grandes fortunas no Brasil só aumentaram durante a pandemia. O número de bilionários dobrou sob o governo Bolsonaro.
Por uma nova jornada de lutas contra o governo
O projeto político em curso, encabeçado por Bolsonaro e Paulo Guedes, precisa ser parado. Cada dia a mais com Bolsonaro no governo significa o aumento da grave crise em que vivemos. Por isso, nós, da CST-PSOL, defendemos a retomada das grandes manifestações de rua contra Bolsonaro. Nesse sentido, exigimos que as direções de CUT, CTB e Força Sindical, assim como os principais partidos de oposição, como PT, PDT e PCdoB, rompam sua política de desmontar os atos e convoquem novas manifestações para dezembro. Temos que fechar 2021 com grandes atos nas principais cidades do país, atos que repudiem a política de fome e genocida do governo de Bolsonaro, Mourão e Guedes.
Lula, PT e a política da Frente Ampla para 2022
Em paralelo à construção das lutas, é tarefa da esquerda socialista impulsionar a construção de uma alternativa da classe trabalhadora, para impor uma saída de fundo aos problemas do país. Infelizmente, Lula e o PT estão caminhando, mais uma vez, no sentido contrário dessa perspectiva. Agora, buscam uma aliança eleitoral com Alckmin, tucano (em vias de sair do PSDB), defensor do neoliberalismo, das privatizações e de todos os ataques que a classe trabalhadora sofreu nos últimos anos, como a Reforma Trabalhista e da Previdência.
Essa política do PT tem o objetivo de buscar um acordo com setores da classe dominante e do próprio capital financeiro, materializado em uma grande chapa de frente ampla para 2022. Essas sinalizações do PT à burguesia não são novas e continuaram mesmo durante o governo Bolsonaro. Isso ocorreu quando os governadores do PT no Nordeste apoiaram em seus estados reformas da previdência ao mesmo estilo da de Paulo Guedes, utilizando inclusive da Polícia Militar para reprimir manifestações contrárias. No Rio de Janeiro, o recente pacote de ajuste do governador Cláudio Castro contou com o apoio e a parceria do deputado estadual André Ceciliano, do PT, atual presidente da ALERJ.
Nesse sentido, temos feito uma batalha política dentro do PSOL. Enquanto isso, a política da direção majoritária do PSOL é seguir negociando com Lula para 2022, deixando o partido refém das barganhas que a cúpula do PT está fazendo e ajudando a semear ilusões de que a aliança com a burguesia é uma saída para os grandes problemas da classe trabalhadora e da juventude. Mais do que nunca, a direção do PSOL tem que romper com essa política de conciliação de classes e tem que apresentar uma candidatura própria em 2022, construindo uma frente de esquerda nacional.
A pré-candidatura de Glauber Braga e a necessidade da construção da Frente de Esquerda
Em meio ao atual cenário, a construção e o fortalecimento de uma alternativa com independência de classe é uma necessidade objetiva. Cabe à oposição dentro do PSOL, que apresentou o nome do companheiro Glauber como pré-candidato, seguir fortalecendo um polo de independência de classe, por fora da política conciliadora do PT e de Lula. As plenárias presenciais da pré-candidatura de Glauber devem estar a serviço desse combate. Um polo que conflua com as organizações e dirigentes políticos que não aceitam a política de aliança com a burguesia.
Esse bloco deve dialogar com todas as iniciativas que estão surgindo, como a da UP, que lançou o nome do companheiro Leonardo Péricles como pré-candidato à Presidência da República, e como a dos camaradas do PSTU, que estão construindo um polo nacional socialista e revolucionário. Deve conversar também com os camaradas do PCB, nesse mesmo sentido, procurando unificar todas essas iniciativas e organizações políticas numa grande Frente de Esquerda nacional – com PSOL, PSTU, UP e PCB -, que apresente uma candidatura em 2022 contra as alternativas burguesas e a alternativa de conciliação de classes, representada por Lula. O exemplo da FIT-U, na Argentina, que saiu como terceira força nas eleições e tem expressão nas lutas sociais da classe trabalhadora e da juventude, deve servir de inspiração.
Batalharemos para que esse polo ou campo apresente uma candidatura sem aliança com a burguesia, vinculada às lutas da classe trabalhadora, das mulheres e da juventude, e que defenda um programa econômico de ruptura com o capitalismo. A necessidade de medidas como taxação das grandes fortunas, o não pagamento da dívida aos banqueiros, a anulação das Reformas da Previdência e Trabalhista, o aumento geral de salários, a criação massiva de empregos, direitos trabalhistas aos trabalhadores de aplicativos, o congelamento do preço dos alimentos, gás, água e luz, entre outras medidas para benefício da maioria da população, só poderão ser apresentadas por uma alternativa da classe trabalhadora, sem nenhuma aliança com setores patronais, pois são eles que se beneficiam da miséria do povo.
Ajude a construir uma organização de luta, socialista e revolucionária
O governo de Bolsonaro, os governadores, os prefeitos e os patrões atacam os trabalhadores para manter suas riquezas sempre nas alturas, enquanto pioram cada vez mais a vida da maioria da população. Para mudar essa situação, além de lutar ocupando as ruas e mobilizando a classe trabalhadora, também é necessário se organizar. Nesse sentido, a CST (Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores) é uma organização revolucionária que está na luta para construir um outro sistema, no qual os trabalhadores definam o que deve ser produzido e para quem deve ser produzido.
Estamos na luta pelo Fora Bolsonaro, contra as reformas administrativas e as privatizações; na luta das mulheres, contra o feminicídio e pelo direito ao aborto; com o movimento negro, contra o racismo e o genocídio do povo negro nas favelas; batalhando com os operários e demais trabalhadores, por reajuste salarial e melhores condições de trabalho; com a juventude, contra os cortes de verba da educação, pelo direito a cultura, estudo e lazer. Somos parte da classe trabalhadora que luta todo dia para sobreviver.
Ao lado da mobilização, precisamos nos organizar para construir um governo diferente, que detenha a fome, a carestia e o arrocho salarial. Para isso, defendemos que é preciso tirar dos ricaços, dos bilionários, generais, políticos, juízes e todos os parasitas que lucram e mantêm altos privilégios em cima da miséria do povo.
Nossa saída de fundo é construir um governo da classe trabalhadora e do povo, um governo operário e popular, sem banqueiros ou alianças com a direita, que rompa com as multinacionais imperialistas que nos saqueiam e com os patrões que só nos exploraram, impondo uma efetiva independência do país. Precisamos avançar rumo a um Brasil Socialista, pois o capitalismo só tem gerado mais miséria, desemprego e falta de perspectivas de futuro para nossa juventude.
(originalmente publicado no jornal Combate Socialista n° 143)