NOVA CALEDÔNIA: PELA INDEPENDÊNCIA DO POVO KANAKA!
FORA O IMPERIALISMO FRANCÊS DA NOVA CALEDÔNIA!
Por: João Santiago, CST/Brasil
ESTAMOS COM A FLNKS E OS INDEPENDENTISTAS: NÃO AO REFERENDO DE 12 DE DEZEMBRO IMPOSTO PELO IMPERIALISMO FRANCÊS!
No dia 12 de novembro, o governo francês anunciou a manutenção do 3º Referendo sobre a Independência da Nova Caledônia (como parte do acordos de Noumea de 1998), apesar do boicote da Frente de Libertação Nacional Kanaka (FLNK), o principal partido independentista na colônia francesa, do Partido dos Trabalhadores e das principais centrais sindicais.
A decisão de boicotar e não participar foi tomada pela FLNK em 20 de outubro por conta do avanço dos casos de Covid-19 no Arquipélago. No início de setembro, com o novo surto da Covid, mais de 250 pessoas ligadas ao povo kanaka haviam morrido. Como afirmou o porta-voz da FLNK, Jean Creugnet, seriam 5.000 votos perdidos, por conta do luto demorado das famílias e porque não haveria condições de fazer a campanha nos locais onde as famílias dos mortos residem (Le Figaro, 25/10/21). E para a frente independentista esses votos seriam decisivos para a vitória do SIM. Nos últimos dois Referendos (04/11/18 e 04/10/20) realizados por força dos acordos de Noumea, os lealistas, partidos contrários à independência, venceram por 56,7% e 53.3% dos votos, respectivamente.
Para manter a ordem e garantir a votação do dia 12 de dezembro, o imperialismo francês está montando um verdadeiro operativo de guerra: serão enviados para o arquipélago 2.000 gendarmes, policiais e soldados, para se somar ao efetivo dos 1.400 que existem atualmente, além de 160 veículos, 30 blindados, dois helicópteros Puma e um avião da base do Exército. Todo esse aparato é para amedrontar o povo kanaka e reprimir os protestos da oposição nas ruas, no 12 de dezembro (Le Figaro, 25/10/21). No fundo, essa pressa no Referendo e o aparato repressivo do imperialismo francês tem uma explicação.
Uma sucessão de derrotas políticas do imperialismo na Nova Caledônia
Seis meses após o Referendo de novembro de 2018, aconteceram mudanças excepcionais na situação política da Nova Caledônia. Os partidos anti-independência sofreram uma clara derrota nas eleições provinciais de 12 de maio de 2019. Pela primeira vez, os independentistas da UC-FLNKS conseguiram conquistar a presidência do Congresso da Nova Caledônia, com a eleição de Roch Wamytan por 29 votos contra 25 para o direitista e anti-independentista Magalie Manuohalalo. Isso aconteceu graças a uma ruptura do bloco dos « loyalistes » (lealistas), que são contra a independência (Le Figaro, 24 de maio de 2019).
O novo partido, L’Éveil océanien (Desperta Oceania), dos wallisienses e futunienses (das Ilhas Wallis e Futuna), que era próximo dos « loyalistes » rompeu com os partidos anti-independência (L’Avenir en Confiance, com 18 deputados e Calédonie Ensemble com 7) e trouxe seus três votos para os independentistas. Mas um fato importante também foi que o principal partido da direita Calédonie Ensemble (Caledônia Unida), os mais fervorosos anti-independentistas, teve uma derrota mais fragorosa, passando de 15 para 7 deputados no Congresso da Nova Caledônia ; na Província Sul, passaram de 16 para 9 deputados e na Província do Norte, passaram de 3 deputados para zero (Le Figaro, 22 de maio de 2019).
Novamente, em julho de 2020, quando da eleição para renovação da presidência do Congresso da Nova Caledônia, esse gesto se repetiu. L’Éveil Océanien manteve o seu apoio aos independentistas da UC-FLNKS e Roch Wamytan foi reconduzido ao cargo (Le figaro, 23/07/20). Diferentemente de 2019, agora L’Eveil Océanien decidiu se juntar de forma mais orgânica com os independentistas para dirigir as comissões no Congresso. Daí a preocupação do líder do partido da direita Caledonie Ensemble,no Congresso, Philippe Michel “A partir de agora, a maioria no Congresso é independentista e amanhã também pode derrubar o governo. São péssimos sinais enviados aos caledônios com a aproximação do referendo ” (Le Figaro, 23/07/20).
Essas derrotas políticas tiveram um reflexo direto no segundo Referendo de outubro de 2020, quando por uma margem bem estreita, os « loyalistes », partidos pró-imperialismo francês, venceram o Referendo pelo Não à independência com 53.3% dos votos. E o Sim só não venceu porque o imperialismo francês fez uma clara manipulação do censo eleitoral desde o 1º Referendo, que deixou de fora cerca de 22.780 pessoas de origem kanaka, repetindo essa manipulação em 2020.
O que está por trás desse Referendo de “guerra” do imperialismo francês?
O controle das reservas de níquel é chave para o imperialismo francês. Não é à toa que mesmo que a maioria do povo francês, cerca de 66%, seja favorável à independência,segundo uma pesquisa realizada pelo próprio Ministério do Além-Mar (Colônias) entre os dias 27 e 29 de abril deste ano com mais de 1.000 pessoas (Le Figaro,20/05/21), Emamanuel Macron esteja disposto a bancar o Referendo sem a participação do povo kanaka. Para Macron é uma questão chave diante da crise econômica capitalista mundial e do declínio do imperialismo francês, a manutenção de reservas estratégicas de níquel. Não deixa de ser um trunfo para sua reeleição no ano de 2022.
Descoberto em 1864, o níquel da Nova Caledônia constitui a segunda reserva mundial, atrás apenas da Austrália (24.000.000 t); está entre os cinco produtores mundiais (92.800t), atrás da Rússia (262.000 t), Indonésia (203.000t), Austrália (165.000t), Canadá e Filipinas (137.000t). Hoje, 65% do níquel consumido está na fabricação de aço inoxidável austenítico e outros 12% em superligas de níquel. O restante na produção de outras ligas.
Não foi à toa que Didier Julienne, ex-diretor da Norilsk Nickel e especialista em recursos naturais pronunciou esta frase: “A Nova Caledônia é governada pelo Níquel (Le Monde, 03/11/2017).
O imperialismo francês aposta nos “loyalistes” (colonos franceses contra a independência) e seus porta-vozes reacionários dos partidos da ordem, que são contra a independência, para continuar a exploração dos recursos naturais da Nova Caledônia e do povo Kanaka.
É por isso que estamos com a FLNKS, o Partido dos Trabalhadores e o povo kanaka e dizemos Não ao Referendo de “guerra” do imperialismo francês.
NOTA: Desde que o imperialismo francês tomou posse da Nova Caledônia com seu exército, em 1853, o povo Kanaka se organiza para expulsar o invasor. As revoltas de 1878 e 1917 foram derrotadas e seus líderes massacrados. Depois disso, a revolta mais importante foi na década de 80 do século XX, nos anos de 1984-1988, quando surgiu a FLNKS. Fruto da política conciliatória e traidora da direção da FLNKS, que abriu mão da luta insurrecional, é que os referendos e a própria instalação de um governo, com congresso e senado foram possíveis, com os Acordos de Matignon (junho/1988) e de Noumea (1998) que foi assinado pelo próprio Roch Wamytan, ao lado de Lionel Jospin, em 5 de maio de 1998.