O circo da COP26
por Miguel Lamas, redator da revista Correspondência Internacional e dirigente da UIT-QI
O presidente ianque, Joe Biden, dormiu em sua cadeira na primeira sessão enquanto alguém dava um informe. Quando Biden acordou de seu cochilo, criticou a ausência do presidente chinês Xi Jinping e do russo Vladimir Putin. Enquanto isso, do lado de fora da porta, Greta Thunberg, a jovem líder ambientalista, gritava com um megafone “as mudanças não vão vir daí de dentro, mas sim daqui das ruas!” e “basta de blá blá blá!”.
Esses fatos anedóticos mostram, simbolicamente, a zombaria à humanidade que é o novo circo da COP26.
A COP26 (Cúpula do Clima de número 26), está reunida em Glasgow (Escócia) entre os dias 1 e 12 de novembro, com participação da maioria dos Estados do mundo e sob auspícios da ONU.
Trata-se de um evento anual (suspenso em 2020 pela pandemia) no qual os governos discursam sobre sua preocupação com o aquecimento global e se comprometem a realizar ações para evitar que se ultrapasse 1,5 graus desde a era pré-industrial (isto é, desde 1850). No entanto, os acordos das últimas 25 cúpulas não foram cumpridos e tiveram resultados ridiculamente insuficientes.
Já foram realizadas 25 cúpulas climáticas e tanto a ONU como quase todos os Estados do mundo reconhecem a gravidade do problema. Todavia, devido aos interesses do capitalismo mundial e de suas gigantescas multinacionais, nunca se tomou nenhuma medida urgente e significativa que a situação requer para impedir o aquecimento global.
As cúpulas se comprometeram a um processo mundial para abandonar, paulatinamente, os combustíveis fósseis (carvão, gás, petróleo) e substituí-los por outras formas de energia não contaminante (eólica, solar, hidráulica, etc.). Ainda assim, em dez anos, a cota de combustíveis fósseis no gasto energético mundial é quase a mesma: de 80,3% em 2009 para 80,2% em 2019. A isso se agrega a utilização, em muitos países, dos chamados “biocombustíveis”, que significa queimar vegetais, o que também emite CO2. Por isso, as emissões mundiais de CO2 seguem aumentando inexoravelmente em valor absoluto (salvo durante a crise de 2008 e a pandemia de 2020).
O ciclo natural é que o CO2 seja absorvido pelas plantas, que liberam oxigênio. Porém, a destruição de florestas e o enorme excesso de CO2 produzido pelas grandes indústrias capitalistas rompeu esse ciclo natural. E o excesso de CO2 se acumula sem parar a cada ano. O culpado desse desastre é o sistema capitalista-imperialista, que produz com a prioridade do lucro privado e não em benefício da humanidade.
Segundo outro informe científico da ONU, de fevereiro deste ano, necessita-se de uma redução de 45% das emissões de gases de efeito estufa daqui até 2030 para evitar um aquecimento catastrófico, sendo que, atualmente, os planos dos governos capitalistas só conseguirão diminuir as emissões em 1%!
Entre os compromissos não cumpridos das cúpulas há 10 anos também estava ajudar os países semicoloniais para 2020 com a realização de mudanças energéticas no valor de 100 bilhões de dólares ao ano. Esse é outro compromisso ridículo, conhecendo que, somente em armas, o mundo gastou 15 vezes essa quantidade (quase tudo vindo dos países imperialistas). E isso tampouco se cumpriu. Agora eles dizem que o compromisso ficará para 2025, mas em empréstimos! Enquanto isso, 50% da população mundial é responsável por apenas 7% das emissões de CO2. Já o 10% mais rico, concentrado nos países imperialistas, é responsável por 50%. E os pobres do mundo são submetidos a planos de fome, saque, fuga de capitais e uma esmagadora dívida externa.
Através das ruas!
Como disse Greta Thunberg, as mudanças virão através da luta nas ruas, uma vez que os governos capitalistas e as multinacionais às quais eles respondem não estão dispostos a fazê-las.
Hoje, já há um desenvolvimento tecnológico de novas formas de energia que poderiam diminuir drasticamente os combustíveis fósseis. Contudo, essas mudanças energéticas são custosas. E as multinacionais que se beneficiam da destruição ambiental mostraram que não estão dispostas a fazê-las porque não querem diminuir seus lucros. Somente algumas se limitam a fazer novos negócios com o capitalismo “verde” com subsídios estatais, mas mantendo a maioria dos grandes capitais para investir no petróleo e até mesmo no carvão, que é o mais contaminante. A China, que é um dos países que mais emite CO2, agora tem um déficit energético e volta a aumentar a produção de carvão. Mas na China fabricam seus produtos e utilizam a energia desse carvão a grande parte das multinacionais europeias, norte-americanas e japonesas.
Portanto, está muito evidente que não haverá mudanças se elas não forem impostas pela luta. As mudanças de fundo só serão conquistadas com uma luta internacional que conquiste governos do povo trabalhador que iniciem uma mudança socialista, que exproprie as multinacionais e realize uma planificação econômica internacional para a mudança energética, eliminando os gastos inúteis ou prejudiciais, como os enormes orçamentos militares.
Porém, nesse caminho, a luta é agora, junto às milhões de pessoas que lutam em todo o mundo para impedir o desastre ambiental.
Nós, da UIT-QI, somos o setor socialista revolucionário nesse amplo movimento em defesa da vida no planeta. A UIT-QI apoia e impulsiona todas as lutas populares e da juventude em defesa dos recursos naturais e que enfrentem o saque e a destruição da natureza. Apresentamos consignas como: não à contaminação da água, do ar, da terra e do mar; não à destruição das selvas e florestas; não à destruição da natureza pelas multinacionais e suas políticas de saque imperialista. E chamamos a unidade de ação de sindicatos e centrais sindicais, assim como organizações de esquerda, de mulheres, de direitos humanos e populares, camponeses e indígenas, com os jovens estudantes e movimentos ambientalistas. Queremos levar a mobilização para o enfrentamento às multinacionais petroleiras, mineradoras e do agronegócio (como Bayer-Monsanto) e aos governos que lhes respondem, pois essas empresas são beneficiárias diretas da destruição ambiental.