Nicarágua: Em eleição fraudulenta e com alto índice de abstenção, Ortega vence, mas o gosto é de derrota
Por Simón Rodríguez Porras, dirigente de la UIT-CI
As ruas desertas no domingo, 7 de novembro, mostraram que os trabalhadores nicaraguenses deram as costas ao regime capitalista ditatorial de Ortega e Murillo. A ruptura vem de longa data, principalmente com a rebelião popular de 2018, reprimida de forma selvagem pelo regime. Mas a difícil situação econômica, devido à queda dos subsídios venezuelanos e a crise de saúde decorrente do manejo irresponsável da pandemia por parte do governo, contribuíram para o descontentamento.
A eleição foi decidida antes da votação, com a prisão de sete candidatos da oposição, no quadro da intensificação da repressão aos dissidentes. Mais de 150 presos políticos definham em prisões anti-higiênicas, onde não recebem assistência jurídica e médica. Soma-se a eles a mídia fechada e o controle militar e paramilitar do território. No mesmo dia da farsa eleitoral, houve prisões arbitrárias de dissidentes.
Cinco candidatos colaboracionistas, ou “andadores de pernas de pau”, como os nicaraguenses os chamam, participaram para tentar legitimar a farsa eleitoral. De 6,6 milhões de habitantes, 4,4 estão autorizados a votar. De acordo com pesquisas realizadas nas últimas semanas, dois terços votaram contra o governo nas eleições com garantias mínimas. As pesquisas também indicam que Ortega tem apenas 19% de apoio. Enquanto as autoridades eleitorais atribuíram 75,9% dos votos a Ortega-Murillo e anunciaram 65% de comparecimento, as organizações de controle eleitoral independentes calculam a abstenção em 80%, o que corresponde mais às imagens de centros de votação vazios e ruas desertas.
Tamanho foi o desespero por transmitir uma imagem de normalidade, que Ortega chegou a suspender a lei seca, que é tradicionalmente imposta em dias eleitorais, para tentar fazer com que mais gente saia às lojas e às ruas. No meio do dia da votação, Ortega fez um discurso no rádio e na televisão, atacando os que não o apóiam, acusando-os de terrorismo e golpe, e convocando a população a votar, supostamente para evitar a violência. Depois de anunciados os resultados, Ortega, visivelmente contrariado com o fracasso do dia, fez um discurso no qual chamou os presos políticos de filhos da puta. Alguns dos presos são ex-líderes da guerrilha FSLN, que lutou contra Somoza, como Dora María Téllez.
Não é de surpreender que as únicas expressões de apoio internacional a Ortega e ao processo eleitoral fraudulento tenham vindo de ditadores burgueses como Maduro, que está preparando sua própria encenação eleitoral, ou do regime conservador e de direita de Putin na Rússia.
Como resultado da farsa eleitoral, Ortega reivindica a presidência até 2027, com maioria absoluta no parlamento, para o qual foram eleitos 75 deputados do FSLN e 15 dos partidos colaboracionistas. Com mais de 100 mil exilados e mais de 150 prisioneiros políticos, o regime aperta as porcas ditatoriais.
Da Unidade Internacional de Trabalhadores e Trabalhadores-Quarta Internacional (UIT-CI), apostamos na libertação do povo nicaraguense a partir de sua própria luta contra a ditadura capitalista de Ortega, com a solidariedade dos povos centro-americanos e de toda a América Latina.
Como socialistas revolucionários, rejeitamos a posição hipócrita do governo imperialista dos EUA, que está promovendo uma lei chamada “Renacer” para impor sanções econômicas à Nicarágua, ao mesmo tempo que apoia os regimes antidemocráticos e repressivos em Honduras, Guatemala e Haiti, na região da América Central e do Caribe, e em outros lugares, ao regime do apartheid israelense ou à ditadura saudita.
A farsa eleitoral é uma vitória de Pirro, ou seja, tem gosto de derrota, para Ortega e Murillo, pois a última palavra será para o povo nicaraguense, mobilizado na unidade. Para esta solução operária e popular para a crise, é fundamental construir uma alternativa política para a classe operária, a juventude, as mulheres e os camponeses.