Seguir a batalha da oposição no Congresso do PSOL, por um partido de luta e sem alianças com a burguesia
Denis Melo – Direção Nacional da CST
Rosi Messias – Direção Nacional da CST
Os congressos estaduais do PSOL aconteceram de maneira virtual nos dias 11 e 12 de setembro. Horas antes dos congressos, em grande parte dos estados não havia pauta definida e a utilização da plataforma foi repassada na noite anterior. O resultado caótico foi um símbolo da despolitização e artificialidade do congresso imposto pela maioria. Sem critérios definidos, onde não havia chapas concorrentes, a ala majoritária do partido não conseguia garantir sequer a participação de seus delegados. No Amapá, teriam 100 delegados estaduais, mas apenas 80 desses delegados foram credenciados e, ao fim, somente 29 votaram. Ou seja, menos de 1/3 da delegação efetivamente participou na já precária e artificial formatação de congresso.
A direção majoritária precisa de um congresso despolitizado, sem debate e sem a participação efetiva da militância para impor sua política de conciliação de classes. Com esse formato, a ala majoritária conseguiu manter o controle do aparato partidário em importantes estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Pará, e ganharam a maioria no Ceará e em Minas Gerais. A oposição manteve maioria no Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte e ganhou maioria na Bahia.
Em termos gerais, a chapa de oposição se apresentou nos estados de maneira unitária, ao redor de dois eixos: participação nas lutas e por candidaturas próprias, contrapondo-se à política de frente ampla do setor majoritário do partido.
Um grande exemplo dessa disputa foi no congresso do Rio de Janeiro. O campo Semente apresentou uma resolução contra a entrada do PSOL em governos com setores patronais. Tratava-se de uma manobra para dar um verniz de esquerda à decisão, que eles já tomaram, de apoiar Lula e Freixo em 2022. Fazem isso num momento em que Freixo sinalizou ao PP (ex-partido de Bolsonaro) e atuou diretamente contra os atos da oposição no 7 de setembro.
A oposição apresentou uma resolução contrária, vinculando que a participação em chapas eleitorais com partidos dos patrões desde o primeiro turno era uma sinalização de composição de futuros governos com esses mesmos partidos. Nossa defesa evidenciou que aquela própria resolução, apresentada como forma de camuflar o debate político de fundo e justificar a adesão à frente com os patrões, seria descumprida pelos setores majoritários, que terminarão compondo esses eventuais governos. Na votação, o PSOL Popular se absteve, o que indica e confirma o que dissemos, já que serão o primeiro setor a descumprir a resolução de não participação em governos com a burguesia.
Por fim, a CST apresentou uma resolução pela construção de uma verdadeira frente de esquerda, com PCB, UP, PSTU e milhares de ativistas que querem enfrentar a extrema direita, sem ter que se render à conciliação de classes. A resolução, apesar de manter nuances, foi apoiada por todo o campo da oposição (MES; COMUNA; APS; LRP e Centralidade do Trabalho) e conseguiu cerca de 30% dos votos.
Manter a pré-candidatura de Glauber, a defesa e a unidade da oposição no PSOL
Desde as etapas presenciais, está confirmado que a ala majoritária conseguirá manter sua maioria. No entanto, como já vimos em diversos momentos no PSOL, a política não se define por quem detém a maioria na burocracia no partido, mas pelos impactos da luta de classes que interferem na disputa interna. Assim foi quando derrotamos a candidatura de Randolfe Rodrigues a presidente em 2014, mesmo que já tivesse sido votado na direção que ele representaria o PSOL. Ou então, a decisão do então prefeito de Macapá, Clécio Luís, de sair do partido. Ambos não tinham problema em aplicar sua política de governos com os patrões, já que eram respaldados pela maioria partidária. Mesmo assim, não conseguiam impor essas posições à base do partido e tiveram que sair. Mais recentemente, o mesmo aconteceu com Freixo, que saiu do partido, apesar de aplicar a mesma política da ala majoritária, porque saberia que sofreria resistência na base contra sua aproximação com Eduardo Paes e demais setores da burguesia carioca.
Por isso, está colocada a necessidade de seguir com a pré-candidatura de Glauber Braga, como instrumento que unifique o conjunto da oposição contra a frente ampla e o adesismo ao projeto de Lula com os patrões.
Manter esse polo será fundamental para a etapa nacional do congresso do PSOL e também para depois dele. Um polo social e político capaz de expressar um programa da classe trabalhadora, que dispute contra as direções vacilantes (CUT, CTB, etc), combatendo a política de colaboração de classes e as ilusões socialdemocratas que Lula e as maiores lideranças estão disseminando. Exigindo também a mais ampla unidade nas ruas, único caminho para derrotar o projeto de Bolsonaro. Um polo que apresente um programa alternativo, com o não pagamento da dívida pública e pela taxação das grandes fortunas; que defenda a construção de uma Frente de Esquerda Nacional, com PSOL, UP, PCB e PSTU, para se contrapor a política de alianças com a burguesia.
Os projetos em disputa no partido estão se testando na realidade e a frente ampla dá cada vez mais exemplos de seu papel reativo, desmobilizador e cúmplice do ajuste fiscal contra a classe trabalhadora. Os próximos meses serão de intenso debate e disputa e, por isso, a oposição deve seguir sua batalha por esses dois temas vitais: intervir com tudo nas lutas e batalhar por um polo de independência de classe.