Os protestos do 7 de setembro e a continuidade da luta contra Bolsonaro
Diego Vitello e Adriano Dias, Coordenação da CST
O dia 7 de setembro foi marcado por discursos do presidente contra as liberdades democráticas no país. Manifestações de seus apoiadores, defendendo uma intervenção militar, o fechamento do Congresso e do STF, foram vistas em diversas cidades. Os atos de São Paulo e Brasília sem dúvidas foram expressivos, apesar de bem menores do que seus organizadores queriam. Esses dois atos contaram com operativos nacionais dos bolsonaristas e uma enxurrada de dinheiro público e também do agronegócio. Há que se ressaltar também a forte participação de PMs nos atos, mostrando que a extrema direita segue tendo apoio importante nesse setor.
Dois dias após as manifestações serem menores do que previu, Bolsonaro tenta recompor as relações com o STF e o Congresso Nacional. Em carta articulada por Temer, o chefe do executivo recua, causando inclusive decepções entre seus apoiadores. Uma parcela dos caminhoneiros seguiu trancando estradas após o dia 7 e se decepcionou com o recuo do presidente. Apesar de o presidente ter dado um passo atrás, o projeto de ditadura de Bolsonaro e seus apoiadores seguirá vivo. Pela primeira vez desde a redemocratização do país, temos uma corrente política neofascista com peso em setores de massas e certa capacidade de mobilização nas ruas. Subestimá-los na atual crise social do país é um grave erro. É preciso combater nas ruas esse projeto autoritário.
Bolsonaro, com os atos, tentou dar coesão à sua base de apoio nas ruas, já que o seu momento é difícil, com um desgaste na população devido à crise econômica que vive o país, mas também porque existem inúmeros processos no STF que atingem o presidente e a sua família. Os atos acabaram servindo para abrir algum tipo de negociação com o próprio STF, com a mediação do corrupto Michel Temer, que fez a articulação para que saísse a reunião entre o ministro Alexandre de Moraes e o ministro da Justiça.
Junto às manifestações da extrema direita, há, no país, uma agenda econômica de duros ataques contra o povo trabalhador. Privatizações, retirada de direitos trabalhistas, salários arrochados, inflação nas alturas. O povo brasileiro amarga uma forte queda no nível de vida e, enquanto isso, os muito ricos estão cada vez com os bolsos mais cheios. O número de bilionários no Brasil aumentou de 45 para 65 somente durante a pandemia. São 65 pessoas que detém uma fortuna de 219 bilhões de dólares (valor próximo a um trilhão de reais). Essa agenda contra a classe trabalhadora não é apoiada apenas por Bolsonaro e Paulo Guedes; a grande imprensa, que se intitula “defensora da democracia”, tem apoiado todas as medidas que aprofundam a miséria e a desigualdade social no país, assim como os políticos da direita liberal, que vociferam em nome da democracia e votam toda a agenda do governo da extrema direita no Congresso. A baixa adesão aos atos convocados pelo MBL e Vem para Rua, defensores dessa agenda, mostram que, para além da saída de Bolsonaro, uma parte da população quer que o projeto de ajuste fiscal também caia junto com o governo.
Os protestos contra o governo poderiam ter sido maiores
Também houve protestos contra o governo em mais de 200 cidades no dia da “independência”. Porém, temos que reconhecer que foram protestos menores que os de maio e junho. Isso não ocorreu porque o governo se recuperou diante da maioria da população nem porque os manifestantes dos meses anteriores não estão mais dispostos a sair às ruas contra o governo. Nossa opinião é que os protestos foram mais fracos porque as direções das maiores centrais sindicais (CUT, CTB e Força), junto com o PT, PCdoB e a direção majoritária do PSOL, praticamente não convocaram as manifestações, que foram mal divulgadas de norte a sul do país. Lideranças como Marcelo Freixo tiveram a política de desconvocar os atos, uma política irresponsável que só serve para abrir terreno para os bolsonaristas tomarem conta das ruas. Infelizmente, essas direções apostaram mais uma vez em esfriar as manifestações para esperar o calendário eleitoral de 2022, o que consideramos um grave erro. O próprio presidente Lula se pronunciou ao país no dia 6 sem seque citar que teriam atos contra o governo no dia seguinte. Em vez de jogar seu peso político para fortalecer os atos de rua contra o governo, Lula, mais uma vez, adotou o caminho do discurso conciliador com a direita.
Sem recuo, temos que seguir nas ruas
A continuidade dos atos de rua é fundamental para colocar para fora Bolsonaro e Mourão. O país está em uma situação crônica, com todos os números dos indicadores sociais evidenciando a catástrofe em que está a classe trabalhadora e o povo pobre. Sabemos que a política do governo, da burguesia e dos patrões é seguir atacando os direitos e os salários. Apesar de parte das elites se posicionar contra a postura antidemocrática de Bolsonaro, todos eles se junto ao lado do governo quando a pauta é o ajuste fiscal.
Os servidores em luta contra a reforma administrativa, os povos indígenas ocupando a esplanada contra a aprovação do marco temporal e os atos do último 7 de setembro, do grito dos excluídos, foram ações que demonstram que é possível construir mobilizações contra o governo.
Infelizmente, a cúpula da CUT e da CTB estão na contramão da necessidade de organizar os trabalhadores. Em nenhum dos 5 atos nacionais essas centrais construíram o calendário colocando as grandes categorias em movimento. Sequer o que foi aprovado no fórum das centrais sindicais, a organização de um dia nacional de luta e paralisações, no mês de agosto, foi cumprido. Já não existe mais justificativa para tanto recuo e paralisia no momento da forte crise do governo Bolsonaro e da necessidade de derrotar toda a agenda de ataques contra os trabalhadores.
Esperar passivamente as eleições 2022 abre espaço para o bolsonarismo se fortalecer. Precisamos nos manter nas ruas, nos manifestando, mostrando que a maioria da sociedade está contra o governo e as maiores manifestações estão do nosso lado.
Construir pela base o ato do dia 2 de outubro
A coordenação nacional da campanha Fora Bolsonaro indicou o dia 2 de outubro como a próxima data de manifestação unificada. Uma data distante, considerando a situação do país, a crise política do governo e a agenda de ajuste que está no legislativo federal, mas também nos estaduais e municipais (como os pacotes de ajuste fiscal apresentados pelo governos estaduais e municipais do Rio de Janeiro). Setembro deveria ser um mês de luta contra Bolsonaro. Os fracos do atos do MBL e os próprios atos governistas, que não atenderam às perspectivas de público do governo, mostram que a potencialidade das mobilizações estão nos atos mais vinculados à esquerda.
Nesse sentido, o próximo ato marcado tem que incorporar a classe trabalhadora e os seus métodos. Tem que ser construído desde já nas categorias, via assembleias, atos e paralisações, rumo a uma greve geral. Não podemos aceitar a política das centrais e dos partidos da oposição, que ficam tentando fazer ponte com o governo, em vez de enfrentá-lo nas ruas. Não há como dialogar com um governo que a todo momento faz ameaças golpistas.
A partir da articulação Povo na Rua, estaremos na mobilização com os servidores públicos, trabalhadores dos Correios, da educação, metalúrgicos e juventude, exigindo das centrais sindicais e da UNE o cumprimento dos calendários, sem desmonte nem recuo. Assim como defendemos que nossa central sindical, a CSP-Conlutas, seja protagonista na exigência às centrais e na mobilização dos trabalhadores.
Temos que ocupar as ruas contra a reforma administrativa e a privatização dos Correios; pela redução do preço dos alimentos, gás, luz e gasolina; pelo não pagamento da dívida pública, para garantir auxilio emergencial e empregos. Temos que taxar os bilionários para investir em educação e saúde; por vacina para todos, já que a imunização da população ainda segue lenta. Somado a luta pela conquista dessa pauta, defendemos um governo dos trabalhadores e do povo pobre, sem patrões, que rompa com o imperialismo, rumo a um Brasil socialista, sem miséria e exploração.
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