Dia das e dos estudantes: concretizar o 11 de agosto como dia de mobilização nacional
Celso Cabral – DCE-UFPA/Oposição e Juventude Vamos à Luta
Lucas Schlabendorff – DAQUIPALM-UFSM e Juventude Vamos à Luta
A revolta da juventude contra o governo Bolsonaro tem se expressado nas ruas desde o dia 29 de maio, com mobilizações contra os cortes na educação, mas também em defesa da vacina, contra as privatizações e pelo Fora Bolsonaro e Mourão. Os atos se espalharam por todas as capitais e centenas de cidades brasileiras. O clima de luta seguiu e a juventude não saiu das ruas, realizando atos no mês de junho e julho. Acreditamos que é preciso apostar ao máximo na disposição de todes que querem derrubar Bolsonaro agora e seguir com fortes calendários de luta.
Os esquemas de corrupção do governo, que se escancararam com as negociações da compra de vacinas da Covaxin, a demora na imunização da população e os ataques à educação agudizaram o sentimento de indignação. A situação da educação piora a cada dia, como mostram o fato de o site da CNPq ficar por mais de 9 dias fora do ar e perda de dados da Plataforma Lattes, colocando em risco o pagamento de diversas pesquisas e bolsas. O governo Bolsonaro é inimigo da juventude e o que nos resta é a luta.
A UNE tem que mobilizar as e os estudantes
Nos dias 14 a 18 de julho, foi realizado o Congresso extraordinário da UNE, que, pelo contexto da pandemia, foi virtual. Nos debates, os coletivos da Oposição de Esquerda e da Articulação Povo na Rua (Vamos à Luta, Correnteza, Juntos e UJC) apontavam o dia 24 de julho, mas, também, a necessidade de seguir um calendário de luta. Por isso, chamamos o dia 11 de agosto, dia das e dos estudantes, para ocuparmos as ruas.
Essa movimentação foi importante, pois, num primeiro momento, a direção majoritária (UJS/PCdoB e juventude do PT) não incorporava a necessidade de uma nova data em suas defesas. Ao fim do Congresso, foi eleita a nova diretoria da UNE e, como resolução, a construção do dia 11A.
Apesar de ser aprovada mais uma data de luta, não foi aprovada a sua efetiva construção. Não se indicou que os DCEs, DAs e CAs chamassem assembleias e não se convocou uma plenária nacional com todos/as os/as jovens que querem botar pra fora Bolsonaro.
Para nós, do coletivo Vamos à Luta, esse é um ponto central. Do que adianta ter um novo dia de ato se esse ato não é construído? Não adianta de muita coisa. A UNE precisa, além de convocar, construir essas mobilizações pela base e também exigir de outras direções, como as centrais sindicais, que convoquem suas bases e que unifiquemos forças em fortes datas unitárias.
A Carta ao Brasil, aprovada pelo CONUNE, que assinamos pela importância do chamado ao dia 24 e dia 11, poderia ter sido o pontapé de uma atuação cotidiana de mobilização para as datas convocadas.
Mas, desde então, faltaram esforços da majoritária da UNE nesse sentido. O CONUNE foi marcado pela defesa de uma frente ampla com setores burgueses “para enfrentar Bolsonaro”. A direção majoritária diz que precisamos nos unir programaticamente com setores da burguesia, os mesmos setores que têm acordo com o plano econômico de Bolsonaro e não discordam da Reforma Administrativa, das privatizações ou do pagamento da dívida pública.
Não podemos nos aliar com esses setores que atacam nossas universidades e nossas vidas. Ao nosso ver, essas posturas se explicam pela linha da direção da UNE de só tirar Bolsonaro do poder em 2022, por meio do voto em Lula, quando é urgente e necessário colocar pra fora Bolsonaro e Mourão, agora.
A articulação Povo na Rua: por um campo de oposição de esquerda na UNE
É necessário que construamos uma forte jornada de luta que não termine no dia 11A. Nesse sentido, temos mais duas datas nacionais sendo chamadas, como o dia 18/08, com paralisações e greves, e o dia 07/09, um dia nacional de luta pelo Fora Bolsonaro. As três datas precisam ser construídas pela base.
É necessário que seja construída nas ruas uma alternativa para nosso país. A política de conciliação de classes já demonstrou que não é uma saída para a juventude e os/as trabalhadores/as. Por isso, queremos construir uma Frente de Esquerda com os movimentos que constroem nossas mobilizações, como o PSOL, PSTU, PCB, UP e os movimentos sociais.
Nesse processo, tem sido importante a atuação da articulação Povo na Rua. Fomos parte da batalha para aprovar o 11A no CONUNE e também foi importante a Plenária Nacional da Juventude, no dia 04, convocado diversas entidades estudantis.
Esse é o papel que deve cumprir uma direção estudantil. Também é necessário avançar em um programa (ver página 4) que não seja limitado em função de alianças com os que nos exploram.
Se você está revoltado/a com as políticas de Bolsonaro, venha com o coletivo Vamos à Luta enfrentar esse desgoverno nas ruas.
Um programa para garantir o futuro da juventude brasileira
O sistema capitalista, dia após dia, demonstra que não é capaz de garantir o nosso futuro. Diante da dura realidade que vivemos, com a maior crise da história do capitalismo, agravada pela pandemia da Covid-19 e o desgoverno de Bolsonaro/Mourão, muitos jovens brasileiros têm manifestado o desejo de ir embora do país.
Diante disso, nós, da juventude Vamos à Luta, viemos afirmando que, apesar de parecer que estamos diante de um beco sem saída, existe uma alternativa para salvarmos o nosso futuro. É possível conquistarmos um país onde tenhamos acesso a comida, educação, emprego, teto, saúde, esporte, lazer e demais direitos básicos para vivermos e sermos felizes.
A saída passa, em primeiro lugar, por fortalecermos as lutas ao lado da classe trabalhadora e do conjunto do povo brasileiro para derrubar o governo Bolsonaro/Mourão. O governo de Bolsonaro é hoje o principal agente dos grandes capitalistas, que se utilizam desse governo para buscar aplicar os planos de ajuste fiscal que destroem nossos direitos e pioram nossas condições de vida. Por isso, lutar pelo Fora Bolsonaro e Mourão, fortalecendo os atos de rua, chamando a unidade com a classe trabalhadora, em dias nacionais e centralizados com protestos de rua, paralisações e greves, é fundamental.
Em meio à luta, precisamos apontar um programa econômico alternativo, que garanta verbas para o nosso futuro. Sabemos que, para além do governo Bolsonaro, os parlamentares de direita, que formam a maioria do Congresso Nacional, também são adeptos da cartilha de ajuste fiscal dos capitalistas e do imperialismo. Contra eles, precisamos construir uma alternativa de esquerda que tenha seu próprio programa e que diga que a crise capitalista precisa ser paga pelos capitalistas.
Em vez dos cortes na educação, que destroem as nossas escolas e universidades, precisamos cortar, de uma vez por todas, o pagamento da dívida pública, que enche o bolso dos banqueiros. Também é preciso taxar as grandes fortunas dos multimilionários, que aumentaram suas riquezas mesmo em meio à pandemia.
Fazendo os capitalistas pagarem a conta e enfrentando seus interesses e privilégios, podemos salvar as universidades públicas, que, no governo Bolsonaro, estão ameaçadas de fechar as portas. Para se ter uma ideia, o atual orçamento do governo federal destina cerca de R$ 3 bilhões por dia para o pagamento da dívida pública, enquanto o orçamento das universidades públicas federais pra todo o ano de 2021 é de R$ 4,5 bilhões. É quase o que se paga em 1 dia com a dívida pública! Portanto, com o não pagamento da dívida seria possível ampliar massivamente o orçamento das universidades, das escolas, garantir bolsas para permanência de estudantes nas universidades e para a pesquisa científica, pagar salários dignos para os trabalhadores da educação e evitar desastres como o recente apagão da CNPq, que colocou em risco o resultado de anos de trabalho de pesquisadores das universidades, ou o incêndio da Cinemateca Nacional. Poderíamos ampliar a quantidade de universidades, fazendo-as presentes em mais cidades do país. Poderíamos aumentar o investimento em esporte para a juventude, área que, recentemente, em função das Olimpíadas, demonstrou-se profundamente desvalorizada em nosso país.
Combinando com as outras áreas sociais, poderíamos construir hospitais e melhorar a estrutura daqueles existentes, pagar salários dignos para trabalhadores da saúde que estão na linha de frente do enfrentamento à pandemia, produzir vacinas em massa, etc. E tudo isso se traduziria concretamente em planos de obras públicas que gerariam emprego e renda.
Um programa assim certamente contraria os interesses dos poderosos capitalistas, que querem seguir lucrando às nossas custas. Por isso, nossos interesses são irreconciliáveis e o nosso programa, que garante o direito ao futuro, só pode ser implementado por meio da mobilização permanente da juventude e do movimento estudantil ao lado da classe trabalhadora. Com nossa luta, somos capazes de erguer o nosso próprio poder, a democracia dos trabalhadores e da juventude, e enfrentar o autoritarismo bolsonarista que quer liquidar com nosso futuro.
Lutar por democracia universitária e derrotar as intervenções
Bolsonaro segue com suas intervenções nas universidades. Cerca de 25 interventores já foram nomeados pelo governo, desrespeitando a democracia e a autonomia universitárias. O caso mais recente foi a UFRA.
No entanto, as comunidades acadêmicas das universidades resistem e seguem se mobilizando contra as intervenções. Na UFSM, que estava sob risco de intervenção, se conseguiu, por meio de campanha nas redes e ato presencial em frente à Reitoria, deixar o candidato bolsonarista fora da lista tríplice.
Precisamos seguir as mobilizações ao lado das comunidades acadêmicas da UFRA, da UFSM, da UFRGS e das tantas universidades que estão na luta contra a intervenção. Para garantir a democracia universitária, defendemos o fim da lista tríplice e a eleição direta e com voto universal para as reitorias, unidades e subunidades. Por conselhos paritários com voz e voto das entidades sindicais e estudantis e que as principais decisões das universidades sejam tomadas em assembleias gerais das três categorias (estudantes, TAEs e docentes).