Nota da CST sobre a saída do deputado Marcelo Freixo do PSOL
O deputado Marcelo Freixo acaba de anunciar sua desfiliação ao PSOL, sintetizando o debate político ao dizer que, diante do bolsonarismo, a disputa é da “civilização contra a barbárie”. Discordamos frontalmente de seus argumentos, da sua política de conciliação de classe e de construção de um governo estadual em comum com setores da burguesia.
O PSOL, nos últimos anos, tem sido o principal partido de oposição no Rio de Janeiro, tanto da direita tradicional, como do consórcio político encabeçado por Lula, em que cabia Paes, Sérgio Cabral, Crivella e cia. O destaque na oposição permitiu que Marcelo fosse a expressão pública desse processo, chegando a conduzir a CPI das milícias e vindo a disputar pelo partido as eleições para a Prefeitura do Rio em 2012, com a Primavera Carioca, e posteriormente em 2016.
A expressão eleitoral de Marcelo Freixo, sem dúvida, aumenta as pressões sobre ele. Porém, não se trata de um problema individual. Em campanhas anteriores, Freixo já havia feito “cartas ao povo carioca”, colocando seu compromisso com os contratos e comprometendo-se a administrar sem questionar os pilares do sistema econômico e político da cidade. Apoiou candidatos-empresários.
Essa política não se restringiu ao Freixo. Atuar de acordo com o que é “possível” dentro dos marcos desse regime político é um fenômeno bastante grande no PSOL de conjunto. Não à toa, em Belém, a única prefeitura de uma capital sob a administração do PSOL, segue no parlamento a votação de reforma da previdência do governo municipal aplicada por Bolsonaro a nível nacional.
Mais que uma questão de caráter subjetivo, a decisão do Marcelo Freixo é a aplicação mais profunda da política do setor majoritário que dirige o PSOL e sua política de frente ampla. Essa tática já foi aplicada às últimas consequências em Macapá, levando o PSOL a receber apoio do DEM na candidatura de Clécio a prefeito. Em troca, o PSOL apoiou a candidatura de David Alcolumbre para senador, o mesmo Alcolumbre que viria a ser o presidente do Senado responsável pela aprovação da reforma da previdência de Bolsonaro. Em Belém, a Prefeitura dirigida pelo PSOL tem convivência pacifica com o MDB, da oligarquia capitalista dos Barbalhos.
Desde a eleição de Bolsonaro, a política da frente ampla se difundiu profundamente, de forma alargada na direção majoritária do PSOL. Vendida como salvação, a velha teoria das frentes com setores patronais passou a ser apresentada como algo novo e como estratégia para enfrentar Bolsonaro. Nesse caminho, a maioria da direção do PSOL acompanhou o movimento liderado por Lula e sua frente ampla a nível nacional. Assim, o PSOL constrói um programa que dilui as reivindicações da nossa classe e embarca em alianças com nossos inimigos de classe.
Freixo, uma das lideranças que defendia essa política dentro do próprio PSOL, entendeu que deveria fazer o mesmo movimento de Lula, só que na construção de sua candidatura para governador do Rio de Janeiro. Desde então, tem defendido uma aliança eleitoral que contasse não só com partidos de esquerda, mas com setores patronais, incluindo PSB, PDT e até figuras tradicionais da direita clássica, com amplo respaldo na burguesia carioca, como Eduardo Paes (PSD) e Rodrigo Maia (DEM).
A saída de Marcelo Freixo do PSOL é a máxima expressão dessa política, que vem sendo aplicada e defendida pela direção majoritária do partido. Nesse caminho de diluição, o PSOL perdeu também o ex-deputado Jean Wyllys para o PT, e não está descartado que outros parlamentares saiam do PSOL.
Com sua desfiliação, Freixo anunciou que migrará para o PSB. Um partido burguês de discurso populista, que tenta se apresentar como centro-esquerda, sempre recheado de oligarcas. Desde a época de Miguel Arraes, tido como liderança de esquerda, o PSB já mostrava seu caráter capitalista ao privatizar o Banco Estadual de Pernambuco, em 1998. Arraes manteve sempre relações próximas com o odiado presidente da Argélia Abdelaziz Bouteflika.
O PSB apoiou Aécio Neves (PSDB) no segundo turno de 2014 e, em 2016, votou a favor do Impeachment da Dilma. Em Pernambuco, estado onde governam junto com o PCdoB, o PSB aplicou a reforma da previdência de Bolsonaro e destacou-se nacionalmente pela repressão violenta aos manifestantes durante o protesto do 29 de maio, que deixou duas pessoas cegas. Uma brutalidade muito parecida com a feita pela extrema direita do Chile, que nem o governador do RJ Cláudio Castro, parceiro de Bolsonaro, teve coragem de fazer.
O momento político em que Marcelo Freixo escolhe para migrar para um partido patronal oligárquico vai na contramão da onda de protestos que explode em Colômbia, Chile, Equador, Paraguai e Peru, espalhando-se na América Latina. Sem dúvida, esses protestos deram energia para que centenas de milhares fossem às ruas no 29M, mesmo contra a vontade das principais lideranças sindicais e políticas da oposição ao Bolsonaro.
Os patrões, seja com cara “democrática” ou de extrema-direita, não podem apresentar um programa realmente alternativo para resolver os duros problemas que passa a nossa classe. Construir um programa com esses setores não tem nada de progressista. Justamente porque, mesmo considerando que haja nuances importantes entre os setores da burguesia na relação com Bolsonaro, não há nenhuma ala que esteja realmente disposta a tirá-lo, pelo menos enquanto ele consegue maioria no congresso para apoiar o ajuste fiscal e os ataques aos nossos direitos, programa que unifica toda a burguesia.
O lamentável caminho adotado pelo deputado Freixo é profundo. Em sua equipe, como foi anunciado pela revista Veja, ele inclui figuras como o banqueiro André Lara e até Raul Jungmann, ex-ministro de Temer e responsável pela intervenção militar federal na segurança pública do RJ.
A saída de Marcelo Freixo deixa mais evidente a necessidade de reorientar a atuação do PSOL e de derrotar a política de frente ampla da atual direção majoritária. É preciso construir uma nova direção que se vincule às lutas, servindo como um polo de aglutinação delas e que utilize seu peso eleitoral a serviço da organização e mobilização operária e popular.
Na executiva estadual do RJ, fomos parte da construção da resolução alternativa sobre a saída de Marcelo Freixo (https://www.cstuit.com/home/index.php/2021/06/11/diante-da-saida-do-companheiro-marcelo-freixo-do-psol/), assinada pelo mandato do deputado Glauber Braga, MES, CST, APS, COMUNA, LRP e Fortalecer. Uma importante iniciativa nesse caminho de reorientação do PSOL.
Desde esse polo, queremos construir uma nova direção para o PSOL estadual e nacional, avançando democraticamente nos debates que existem nesse campo. Defendemos a união de todos aqueles que rejeitam a frente ampla, proposta pela maioria da direção, tendo como princípios a independência de classe e a necessidade de derrotar a extrema-direita e o ajuste fiscal. Um campo de todos que defendam as mobilizações como a saída para derrotar o governo Bolsonaro. Estaremos nos atos marcados para o dia 19 de junho, a nova jornada nacional de mobilizações, e nas batalhas pela continuidade da unidade de ação nas ruas.
12/06/2021
Corrente Socialista das Trabalhadoras e dos Trabalhadores – CST-PSOL