Resenha: Como evitar um desastre climático
Daniel Monteiro – Professor de filosofia
O fundador da Microsoft, Bill Gates, lançou no ano passado o livro “Como evitar um desastre climático: as soluções que temos e as inovações necessárias”. A obra teve grande repercussão, sendo traduzida para vários idiomas, inclusive o português. Fiquei curioso – que contribuição Gates teria para dar sobre a questão ambiental? -, comprei o livro e terminei sua leitura agora.
Logo de cara, descobri – confesso minha ignorância – que o bilionário estadunidense tem se dedicado ao tema das mudanças climáticas há algum tempo. Lançou a Breakthrough Energy, “uma rede de entidades e iniciativas com o objetivo de estudar e desenvolver tecnologias necessárias para zerar as emissões líquidas de carbono”, e tem se encontrado com líderes mundiais para discutir o assunto.
No livro, Gates faz um diagnóstico da crise ambiental e aponta um plano para solucioná-la. Seu maior mérito é reconhecer a gravidade do problema e estabelecer a meta de zerar as emissões dos gases de efeito estufa. Outro ponto positivo: admite que alguns aspectos da catástrofe já são inevitáveis, que atingirão as nações e as pessoas mais pobres e que a humanidade precisa se preparar desde já para mitigá-los.
Por outro lado, há algumas ideias bem questionáveis, como a perspectiva – demasiadamente dilatada – de zerar as emissões nos países ricos até 2050 (infelizmente, ao que tudo indica, não temos tanto tempo para evitar a catástrofe total). Entretanto, seu maior problema – presente tanto no diagnóstico quanto na solução – é a dissociação entre a crise ambiental e o capitalismo, como se o sistema não fosse o grande responsável por ela e sua resolução não implicasse a superação do mesmo. Assim, Bill defende que é possível zerar as emissões nos marcos da ordem do capital, principalmente a partir de inovações tecnológicas fomentadas por uma parceria entre os Estados nacionais e o mercado. Uma ilusão completa.
A obra de Gates se insere, portanto, na corrente que advoga um “Capitalismo Verde”, que tem ganhado força no último período (até dentro da esquerda, vide a influência do chamado Green New Deal em parcela considerável da mesma). Seu sucesso ressalta ainda mais a urgência da crítica radical aos limites de tal vertente e da constituição de um movimento de massas que vincule a suplantação da crise ambiental com a transformação revolucionária, socialista e internacional da sociedade.