Diante do caos, nossa saída está na luta!
Diego Vitello e Adriano Dias, Coordenação da CST
Bolsonaro, os governadores e o conjunto da classe dominante levaram o país ao caos. Já ultrapassamos as 320 mil mortes pela Covid-19, com uma média de 3 mil diárias. O desemprego atinge, na prática, 32 milhões de brasileiros. A inflação corrói o salário e diminui o nível de vida da ampla maioria da população. A vacinação ainda anda muito lentamente, muito abaixo da necessidade do país. Esse é o cenário que as políticas que negam um verdadeiro lockdown, com auxílio, salário e estabilidade no emprego, nos levaram. Frente a isso, é preciso fortalecer a luta da classe trabalhadora, o enfrentamento aos governos e patrões.
As mentiras de Bolsonaro sobre a vacina
O presidente, no dia 23 de março, fez um pronunciamento ao país, onde, mais uma vez, o que primou foi uma avalanche de mentiras e distorções da realidade. Todos lembramos que Bolsonaro subestimou propositalmente o vírus no início da pandemia, o chamando de “gripezinha”. Depois, disse que a maior imunização era pegar o próprio vírus. Negou a compra de vacinas oferecidas ao Brasil. Foi contra a quebra das patentes das vacinas, medida que possibilitaria o nosso país produzir em uma escala muitíssimo maior que a atual. Mais tarde, questionou a própria eficiência das vacinas, um negacionismo total da ciência. Durante esse tempo todo ainda faz de tudo contra as medidas de isolamento social, que comprovadamente diminuem a contaminação e o número de mortes. Ou seja, o projeto de Bolsonaro foi o genocídio de parte de nossa população.
O histórico de negacionista de Bolsonaro não foi esquecido enquanto ele discursava em rede nacional ao som de panelaços nas principais cidades do país. Uma indignação social que precisar ser canalizada para uma jornada nacional de luta para conter a Covid-19 e a crise social.
A crise no do governo e a troca de ministros
Sete ministros caíram ou foram remanejados de função nas últimas semanas. Primeiro foi a saúde, onde o General Pazuello, foi trocado por Marcelo Queiroga, após pressão da classe dominante. Foi uma troca de “seis por meia dúzia”, mas, o fato de Queiroga ser médico tentará melhorar a imagem do Ministério frente à opinião pública. Na última semana de março, caíram ou foram trocados de pasta os ministros da Defesa, Relações Exteriores, Justiça, Casa Civil, Secretaria de Governo e AGU. A briga do STF com Bolsonaro segue. A última expressão dela é a sentença contra Moro, favorecendo Lula. Esses episódios demonstram uma grande crise no governo Bolsonaro e um forte isolamento político.
O colapso sanitário, econômico e social é, sem dúvidas, o pano de fundo dessa crise. Mas, o determinante para essa medida é o aumento do desgaste de Bolsonaro na opinião pública. Nos locais de trabalho podemos sentir que, mesmo alguns companheiros que equivocadamente votaram no atual presidente em 2018, hoje veem que ele é o maior responsável pelo caos que se instaurou no país.
Além disso, chamou atenção a informação vazada pela imprensa de que o ex-Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o ex-Advogado Geral da União, José Levi do Amaral Jr, teriam sido demitidos pelo fato de não corroborarem com o Estado de Sítio que Bolsonaro gostaria de impor nos próximos dias. Esse fato é grave. Apesar de Bolsonaro hoje não ter força para impor um autogolpe, é preciso que o conjunto da esquerda e dos setores democráticos rechacem, através de manifestações, qualquer discurso ou ação autoritária de Bolsonaro.
A demagogia do grande empresariado
Outra expressão da crise instaurada no Planalto foi a carta de mais de 200 grandes empresários, banqueiros, economistas neoliberais, ex-presidentes do Banco Central, etc, onde criticavam a condução do governo na crise sanitária. Esses setores, que até o momento assistiam o espetáculo macabro do colapso do país sentados em seus escritórios e mansões de luxo, resolveram pressionar o governo por meio de uma carta. Nela, reconhecem que a economia só se recupera com a pandemia retrocedendo e, para isso, é preciso aumentar a vacinação. Uma carta que contém toda a demagogia que conhecemos da classe dominante, pois foram justamente os grandes empresários multimilionários os que mais pressionaram pela abertura de comércios, shoppings, e para que os governos tomassem medidas que dessem a sensação de normalidade para a população. São os mesmos que se opõem à quebra das patentes das vacinas também. São, sem dúvidas, cúmplices do genocídio em curso. Mas o fato de se diferenciarem da extrema direita amplia o isolamento de Bolsonaro.
Entre panelaços e ações presenciais, o dia 24 foi um passo à frente na nossa luta
A noite do dia 23 já foi marcada pela retomada dos panelaços em diversas cidades do país. Foi um aquecimento para as ações do dia 24.
Foi fundamental que, na maioria das capitais e das cidades com forte polo industrial, houvesse ações do movimento sindical e popular contra o governo Bolsonaro, defendendo vacinação e lockdown com renda e estabilidade no emprego. Foram assembleias nas portas de fábricas, uso de adesivos durante o turno de trabalho (como no caso dos metroviários de São Paulo), fechamento de avenidas, entre outras ações. A CSP-Conlutas teve uma participação ativa nesse dia em vários estados, com diversos de seus principais sindicatos realizando atividades presenciais simbólicas junto às suas bases.
Infelizmente, mais uma vez nos cabe destacar que as maiores centrais sindicais estiveram muito abaixo das suas possibilidades. A CUT e a CTB pouco fizeram nesse dia, que não ganhou muito destaque nem na imprensa de seus sindicatos. Seguem insistindo apenas na política do “fica em casa”, que não é a realidade para a amplíssima maioria do proletariado e do povo brasileiro. Além disso, figuras como Lula não usaram seu prestígio político junto a milhões de trabalhadores para incentivar a luta concreta contra Bolsonaro, pois o ex-presidente não fez nenhuma declaração nesse sentido.
A luta por vacina e salários nas categorias
O impacto da crise sanitária chegou com força nas categorias consideradas essenciais. As milhares de mortes e contaminados do país atingem diretamente também esses trabalhadores que estão na linha de frente, trabalhando sem proteção e cumprimento dos protocolos por parte do governo e das empresas. Um genocídio capitalista que tem levado a classe trabalhadora para o matadouro. Enquanto isso, pouco vemos as direções sindicais das grandes centrais atuando e realizando campanhas ou construindo ações unitárias para combater essa situação. A paralisia dessas direções deixa os trabalhadores na mão. É por isso que algumas categorias não aguentaram esperar e se levantaram contra essa situação de morte. Como, por exemplo, os garis de BH e os rodoviários de Uberlândia, que realizaram greve, ou mesmo os rodoviários de São Paulo que, após a paralisação do dia 24, estão propondo uma greve por vacina para o próximo dia 20 de abril.
Defendemos que sejam realizadas campanhas unitárias pela vacinação de todos os trabalhadores considerados do serviço essencial. Uma luta unificada, sem divisão do movimento por categoria, buscando sempre somar forças para conquistar essa pauta e também por salário, garantia de direitos e emprego. A unidade por essas pautas amplia a fortalece ainda mais essa luta e coloca em melhores condições a possibilidade de uma vitória. A construção dessa unidade começa por apoiar as lutas que estão em curso. Assim, é fundamental fortalecer as mobilizações por vacina que surgem nas categorias, apoiando, por exemplo, o indicativo de greve dos rodoviários de SP, apontada para o dia 20/4, que pode ter repercussão no conjunto das categorias.
A oposição precisa mudar de postura
A necessidade de derrotar Bolsonaro de imediato é fundamental. Sua política genocida, que amplia a fome, miséria e o grande caos social que vive o país, com milhares de mortes por dia, exige um combate mais efetivo contra o governo. De nada adianta notas e cartas de repúdio se não se conectar o desgaste do governo com a necessidade de lutar nas ruas. O mais novo pedido de Impeachment, por si só, não vai derrubar o governo, pois Bolsonaro governa há mais de 2 anos com a complacência do Congresso Nacional, especialmente na pauta econômica.
Diante desses fatos é que temos que analisar o papel de Lula. Desde que reconquistou os seus direitos políticos, Lula não foi para além de entrevistas e reafirmar o seu projeto de mais uma vez conciliar com a direita e a burguesia, como demonstrado na sua política de procurar o PL (Partido Liberal), que agora está na articulação política do governo Bolsonaro, para construir uma aliança eleitoral. Aliás, 2022 tem sido o foco de toda oposição, enquanto Bolsonaro governa atacando o conjunto da população.
A oposição deveria ter uma outra postura e aproveitar a crise política do governo para enfrentar Bolsonaro com força. É o momento de seguir o exemplo do ano passado, quando as torcidas antifascistas, o movimento negro e os entregadores de aplicativos saíram às ruas e colocaram a extrema direita no seu devido lugar. Não podemos acreditar que a burguesia, com as suas cartas, vai ser consequente em enfrentar o governo. Eles também são parte do problema, pois governam de costas para o povo, atacando os nossos direitos e aplicando medidas de ajuste fiscal contra os trabalhadores.
Lutar por medidas urgentes para conter a Covid-19, a fome e o arrocho
É necessário exigir que as maiores centrais sindicais, como a CUT e CTB, os partidos de oposição, como PT e PCdoB, e lideranças como Lula convoquem mobilizações contra o governo Bolsonaro. Os trabalhadores, mesmo que ainda em lutas simbólicas, têm demonstrado que, quando atacados, atendem ao chamado para enfrentar os ataques. Vimos isso nas greves dos rodoviários de BH e Uberlândia, nos atos dos hospitais federais e merendeiras da educação no Rio de Janeiro, ou mesmo nas carreatas pelo Fora Bolsonaro que as direções das frentes não deram continuidade.
Por isso, exigimos da CUT, UNE, MTST, das Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, federações, sindicatos e movimentos populares, a construção de um programa econômico e social alternativo, com medidas urgentes para conter a Covid-19, a fome e o arrocho. No ano passado, o governo brasileiro destinou 39% do orçamento para os banqueiros por meio da dívida pública, totalizando mais de 1 trilhão de reais. Taxando as grandes fortunas se poderia arrecadar cerca de 100 bilhões por ano. É preciso lutar pelo não pagamento da dívida externa e interna e pela taxação das grandes fortunas e dos lucros das grandes empresas. Fazendo os banqueiros e milionários pagarem pela crise, poderíamos garantir dinheiro para vacinação geral, quebrar as patentes e produzir massivamente os imunizantes na Fiocruz e Butantan. Para um lockdown com auxílio emergencial e licença remunerada e utilizar o parque industrial existente – e fábricas fechadas, como as da Ford – para produzir oxigênio, macas, kits para intubação, álcool e máscaras. Investir nos hospitais públicos, em centros de pesquisa e universidades, garantir concursos públicos e reposição das perdas salariais dos servidores e um plano de empregos públicos para contenção da Covid-19.
(Publicado originalmente no Jornal Combate Socialista n°126)