Os desafios do movimento estudantil em 2021: Defender a universidade e a vida dos estudantes e trabalhadores da educação

 

 

Isadora Bueno – juventude Vamos à Luta – UFU

 

Chegamos a um ano de pandemia e de suspensão das aulas nas universidades. Enquanto vivemos o pior momento de contaminação e mortes por coronavírus, o governo Bolsonaro se aproveita da situação da pandemia para atacar ainda mais nossos direitos com um corte de 30% no orçamento da educação. Além disso, a “PEC da chantagem” (ver pág. 6 e 7) põe fim ao piso de investimentos em saúde e educação sob pretexto de garantir o auxílio emergencial.

 

Aula só depois da Vacina!

 

O retorno às aulas da rede pública e particular em alguns estados agravou a situação da pandemia. No Amazonas, quase 400 professores já faleceram por Covid-19. Algumas universidades se preparam para aplicar um modelo híbrido de ensino com atividades presenciais. Na rede particular ocorrem protestos contra o ensino remoto. Nesse contexto, seguimos defendendo que só é possível ter aulas presenciais quando toda a população estiver vacinada. Na contramão dessa necessidade, a majoritária da UNE aprovou uma nota na qual defende o ensino híbrido, exigindo apenas que sejam cumpridas as orientações da OMS e se posicionando, mais uma vez, junto com as reitorias e contra as necessidades dos estudantes e trabalhadores, assim como fez em relação ao ensino remoto.

A Direção majoritária repete, assim, a mesma postura que teve ao defender o ensino remoto, e sabemos que as consequências foram terríveis. Infelizmente, o que nós e as diversas campanhas contra essa modalidade avisavam se confirmou: o ensino remoto aprofundou a precarização. Agora, em 2021, em universidades como a UFPA e a UFU, a matrícula se tornou obrigatória e em algumas universidades as bolsas são condicionadas à realização da matrícula. Em todos os cantos, a desistência e a evasão se aprofundaram pela insuficiência dos auxílios para compra de computadores e internet e a impossibilidade de haver acesso à essa modalidade excludente e privatista de “ensino”.

Também avançou a precarização do ensino e da assistência estudantil. Na estadual Unicamp, encontramos uma situação escandalosa da moradia estudantil, há atraso de bolsas na Unirio e em várias universidades. Como acreditar então que, num momento que predominam cortes, o MEC e as reitorias vão garantir o cumprimento de normas de saúde para o ensino híbrido? Não é possível e nem é do interesse do governo assassino de Bolsonaro.

Precisamos lutar contra retorno presencial das aulas e não podemos aceitar chantagem do governo. Nenhum centavo a menos para universidades públicas, que são linha de frente da pesquisa acerca da COVID-19.

 

O calendário da UNE e a necessidade da luta permanente contra os ataques de Bolsonaro

 

A União Nacional dos Estudantes aprovou um calendário de luta entre os dias 23 e 25 de fevereiro que consistiram em ações de pressão contra os cortes na educação previstos no projeto de LOA para 2021. A ação consistiria em um ato em Brasília no dia 23, ações virtuais no dia 24 e atos de rua no dia 25. No entanto, foi nítido que a direção majoritária da entidade privilegiou as reuniões e lives com deputados ao invés da construção efetiva do calendário. Assim, tanto nas redes como nas ruas, o movimento foi menor do que poderia ter sido e passou longe de ser um novo tsunami como anunciou o site da entidade. Houve atos em pelo menos nove capitais, muitos deles organizados pelas forças da oposição/minoria da direção da UNE, e mesmo nas redes as hashtags e os twittaços não decolaram. O ato previsto para o dia 23 foi adiado para o dia 03 e posteriormente transformado em twittaço no dia 02.

Ainda que pudesse ter sido melhor construído, a experiência desses atos podem servir de pontapé para uma luta organizada em defesa da educação. A UNE precisa convocar os DCEs, CAs, DAs e toda a base estudantil para unificar as lutas contra os ataques do governo e exigir que não haja retorno das aulas antes da vacina, que seja garantida vacinação para todos já, com quebra das patentes e valorização do SUS. Assim como também é preciso barrar os cortes e exigir Assistência Estudantil.

Para isso, deve se somar às convocatórias de mobilização dos trabalhadores (trabalhadores da Ford, dos Correios, etc), organizando novos dias de luta com atos de rua (com medidas sanitárias e distanciamento), bikeatas e panelaços, utilizando a força das redes sociais para organizar boas plenárias preparatórias e divulgar essas mobilizações.

 

A necessidade de uma nova direção para o movimento estudantil

 

Muitos dos atos do dia 25 só ocorreram por iniciativa dos coletivos da oposição da UNE. Se por um lado devemos pressionar para que UNE corrija sua linha e repudie qualquer tentativa de retorno às aulas antes da vacina, por outro segue necessário fortalecer um campo de oposição à direção majoritária da entidade, que esteja conectado com as necessidades dos estudantes e que impulsione suas lutas. Temos, junto aos companheiros do Juntos, UJC, Correnteza e demais coletivos, a tarefa urgente de reerguer a Oposição de Esquerda da UNE

 

(Publicado originalmente no jornal Combate Socialista n °124)

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